Por: Marcos Aurélio Chagas.
A CBSurf promoveu duas competições Master nas últimas duas semanas, esses campeonatos foram uma verdadeira celebração ao nosso esporte, foram duas de três etapas que estão previstas para a festa do surfe, nestas primeiras etapas estavam presentes muitos nomes que, nos longínquos anos 80, se empenharam em tornar o surfe um esporte profissional no Brasil. Apesar do lifestyle do surfe ser o objetivo de vida de qualquer jovem do litoral, e da indústria do surfe estar a todo vapor, ser surfista naquela época não era fácil, o preconceito vinha de dentro de casa, a maioria dos pais não gostavam da ideia de ver seus filhos surfando, o estigma do surfista era de um jovem rebelde, vagabundo e maconheiro, sem querer entrar no mérito disso ser verdade ou não, jovens garotos, mergulharam de cabeça na profissionalização do esporte, eles ganharam dinheiro, fama, viajaram o mundo e de lá pra cá, muita coisa mudou, inclusive a nossa imagem.
Nessas duas últimas semanas, aqueles jovens garotos que não morreram de overdose, que viram seus inimigos chegarem ao poder (inclusive na CBSurf), que venceram o preconceito dos anos 80, que destituíram um de seus contemporâneos que sequestrou o Surfe Brasileiro, pois bem, aqueles jovens garotos, hoje, jovens senhores, se reuniram em Itacoatiara e Geribá no Rio de Janeiro, em uma perfeita celebração através da competição, as “Lendas” do surfe brasileiro colocaram suas lycras e surfaram como os garotos dos anos 80 que amavam o mar, o surfe, os Beatles e os Rolling Stones.
Existe um mito antigo chamado “Elixir da Juventude”, os antigos magos acreditavam poder capturar as energias vitais universais para manter o corpo jovem e são, já os alquimistas acreditavam que o “Elixir da Juventude” se encontrava no Ouro Potável, cujas propriedades permitiriam a cura e a regeneração do organismo, não se pode questionar mitos, contudo, eu acredito que o “Elixir da Juventude” do surfista esteja na água salgada e no reencontro com grandes amigos, todos nós sabemos o quanto isso rejuvenesce e reenergiza nosso corpo e mente. Isso ficou claro nesse encontro, Guilherme Herdy, tio do Mateus, é um grande exemplo disso.
Herdy se inscreveu em três categorias da etapa de Itacoatiara, e, pelo fato de não ter havido competição no sábado, ele disputou todas as baterias em um único dia, no domingo, foram 12 (doze) ao todo, acredito que tenha sido o maior número de baterias disputadas na história em um único dia por um surfista, isso pode render ao Guilherme um lugar no Guinness Book.
Herdy foi para as finais em todas as categorias, por isso, ele chegou ao final do dia sofrendo com dores e câimbras por todo o corpo, mas sentir a adrenalina da competição e rever os amigos foi o grande Elixir de Herdy, ele disse: “Me inscrevi em três categorias, acabei me colocando numa posição crítica, onde por conta de um adiamento do sábado por poucas ondas ficou tudo para o domingo, resultado 12 baterias no mesmo dia(recorde), abri e fechei o evento, literalmente, meu corpo entrou em colapso, nunca havia sentido essa sensação, logo que começou as finais parou as pernas(câimbra), na segunda final foi a vez dos braços, na terceira final, a câimbra foi pra coluna daí tive que jogar a toalha pra não ter sérias complicações, momento crítico e difícil , até poderia abrir mão de entrar na água em uma das categorias, mas por respeito a todos e a mim e meus patrocinadores, como eu mesmo me coloquei nesta situação, fui pra dentro da missão, tentei meu melhor mas com todo cuidado pois qualquer movimento parecia que tudo iria se contrair, foi top rever todos os amigos sentir a adrenalina das baterias, pressão de campeonato, apesar da curtição e das boas ondas, fiz três finais, segundo na Gran Master, quarto na Master e quarto na Kahuna, muito feliz por ter chegado nas finais e ver que a vitória é possível”.
Outra “Lenda” do surfe brasileiro mostrou que ainda está com uma linha e uma borda de altíssimo nível, Victor Ribas, terceiro colocado no Circuito Mundial em 1999, melhor temporada de um brasileiro por 15 anos, até Gabriel Medina vencer seu primeiro título mundial em 2014, jogou o nível lá pra cima, Vitinho fez a maior nota e a maior média na final, vencendo a categoria Grand-Kahuna, ele se impôs diante do Legend Sergio Noronha, de Esdras Santos (Fofão) e Duda Tedesco, 2º, 3º e 4º colocados respectivamente. "O campeonato foi alucinante. Esse dia foi demais! Estou super feliz de rever a galera! Todo mundo surfando bem, motivados com a competição. Galera dando o máximo. Foi o maior barato.” Disse Vitinho.
Na semana seguinte, em Geribá, Búzios, o show de surfe continuou, Herdy mais uma vez fez uma final, ficando com a segunda colocação do Grand Master, categoria que foi vencida pelo alagoano Klinger Peixoto, detalhe, Klinger já havia vencido essa mesma categoria em Itacoatiara, o pai (alagoano) tá ON.
Na categoria Kahuna foi a vez de um cara que encanta qualquer um só na remada, o surfe refinado e de alto nível do gaúcho Rodrigo “PEDRA” Dornelles, não deu chance aos adversários, ele venceu o maranhense Alvaro Bacana e o baiano Marcio Leal, os dois radicados em Santa Catarina, além de meu amigo Dalmo Meireles, baiano de Valença no baixo sul do Estado. Pedra postou: “Muito feliz com a vitória no CBSurf Master em Buzios/RJ, mais feliz ainda em poder rever grandes amigos e fazer novas amizades”.
Sergio Noronha surfou demais, ele levou a melhor na Grand-Kahuna, o “Fedelho” venceu nomes de peso na hierarquia do surfe brasileiro, com a segunda colocação nesta bateria ficou o primeiro campeão mundial que o Brasil conheceu no surfe, uma das maiores “Lendas” de nosso esporte, Fabio Fia Fabuloso Gouveia Tuííí Tuare Tudere Hare Days, com a terceira colocação ficou um bicampeão brasileiro, um cara que passou cinco temporadas na elite do surfe mundial, o rei do surfe clássico, o bom baiano, meu amigo e conterrâneo Jojó de Olivença, e com a quarta colocação o carioca sangue bom Arthur Gama.
Depois de levar 32 pontos em uma de suas mãos como resultado da curiosidade de um faminto tubarão, em um fim de tarde de Noronha, desta vez, Sergio não parecia estar afim de dar chance para outras espécies tubarões, surfando como aquele garoto que, ainda amador, foi o melhor surfista brasileiro entre os profissionais no memorável Hang Loose Pro Contest de 1986, “Fedelho” como era carinhosamente chamado nos anos 80, não se importou com o peso do nome de seus adversários e levantou o lindíssimo troféu de campeão da Grand-Kahuna, troféu de autoria de “mermão” Marcilio Rodrigues.
Rodolfo Lima, outra “Lenda” do surfe nacional, apesar de ter dúvidas se competiria ou não, em virtude de uma lesão, fez final da categoria Legends, com seu surfe elegantíssimo e bonito de ver. Com esse astral, o surfe brasileiro festejou sua história, suas memorias e sua grandeza.
No caminho que iremos percorrer não podemos esquecer de celebrar nossas conquistas, nossos desafios e nossas trajetórias, esses caras construíram a base de tudo que vivemos hoje no surfe. Festeje sua vida, festeje a sua história, pois o surfe brasileiro fez isso nos dois últimos finais de semana, a história de nosso esporte passou em nossa frente, e ela está viva.
Já é!
Segue os resultados de Geribá:
MASTER
1 - Péricles Dimitri PR
2 - Rogerio Dantas CE
3 - Klinger Peixoto AL
4 - Wilson Nora BA
GRAND MASTER
1 - Klinger Peixoto AL
2 - Guilherme Herdy RJ
3 - Álvaro Bacana SC
4 - Rogerio Dantas CE
KAHUNA
1 - Rodrigo Dornelles RS
2 - Álvaro Bacana SC
3 - Marcio Leal SC
4 - Dalmo Meireles BA
GRAND KAHUNA
1 - Sergio Noronha RJ
2 - Fabio Gouveia PB
3 - Jojó de Olivença BA
4 - Arthur Gama RJ
LEGENDS
1 - Marcelo Mdio SC
2 - Cardoso Junior CE
3 - Edson Vieira SP
4 - Rodolfo Lima RJ
MASTER LOCAL
1 - Glauber Oliveira
2 - Cristiano Saraiva
3 - Nahuel Lopez
4 - Eduardo Rodrigues
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