El Salvador enfim chegou para a elite do surfe mundial mas o mundo não viu o melhor de El Salvador. Uma das melhores direitas do mundo, Punta Rocas só mostrou um pouco de seu potencial no fim do dia da quinta, penúltimo dia de competições, apesar disso, os melhores surfistas do mundo deram show e ignoraram as condições ruins na maior parte do tempo.
No ano passado, ao ficar de fora por pouco do WSL Finals, nós dizíamos em nosso programa de YouTube que Griffin Colapinto era a maior expectativa de títulos para os Estados Unidos, na verdade apenas reforçamos, porque esse é um sentimento que temos desde a sua estreia no tour, quando ele chegou às semifinais em Snapper passando pelo espartano Michel Bourez nas quartas fazendo três tubos em uma única onda, resultando em sua primeira nota 10 logo em seu primeiro evento. Griffin tem muito surfe, é um surfista completo, impetuoso e bom competidor, combinação que constrói perfis da grande maioria daqueles que se sagraram campeões mundiais, mas Griffin venceria hoje? Bem, falaremos de Griffin mais à frente.
Jack Robinson ao contrário do Griffin nunca me passou essa impressão, apesar dele ser TOP3 quando o assunto é tubo.
Jack virou baterias polêmicas em G-Land, apesar de particularmente eu não achar que ele tenha sido beneficiado nos julgamentos, o roteiro inspira conspirações, a onda sempre vem nos segundos finais, a nota também. Isso aconteceu por muitos anos com o Julian Wilson, confesso que por vezes me vi esbravejando com a ASP, mas a verdade é que desde que Gabriel Medina entrou no tour em 2011, nós nos acostumamos demais a vencer, isso virou uma verdade absoluta em nossa convivência com o surfe, e, quando as verdades viram absolutas, você nunca aceita uma derrota, assim caminha a humanidade.
Voltando a Jack, depois de vencer semifinal e final nos segundos finais em G-land, em El Salvador ele repetiu a façanha pela metade, no round dos 16 contra o surpreendente Jackson Baker ele virou nos minutos finais, mas não conseguiu contra Gabriel Medina, o brasileiro devolveu a ele a espinha atravessada na garganta pela derrota de G-Land, que, apesar da subjetividade torna-la plausível, para muitos foi uma derrota difícil de digerir, mesmo terminando nas quartas em El Salvador, Robinson se consolida na vice-liderança do tour.

Gabriel Medina em seu segundo evento chegou a segunda semifinal, ele já soma 13.230 pontos, um pouco menos de 700 pontos abaixo de Jackson Baker que está desde o início do ano pontuando. Caso queira chegar entre os cinco sem precisar de nenhuma combinação de resultados Gabriel precisa vencer, vencer e vencer. Ainda tem Saquarema, J-Bay e Teahupoo pela frente, Gabriel já fez semifinal no Rio em 2013 mas nunca venceu por aqui, se isso acontecer esse ano, além dele colocar uma vitória inédita em seu currículo onze anos depois de entrar no tour, ele somará pontos importantíssimos para chegar entre os cinco primeiros, para azar de todos que estão lá na frente.

Ítalo é destemido, acelerado, crazy, brabo mesmo, ele é um monstro surfando ondas longas de back, mas sem o jogo de aéreos dificilmente suas ondas tem entrado no critério excelente e isso é inclusive um motivo de reclamação dele ao julgamento, porém, contra Ethan Ewing o Brabo fez duas notas na casa dos oito pontos e avançou com propriedade. Já contra Filipe, ainda que ele tivesse duas ondas na casa dos oito pontos, provavelmente nem assim ele conseguiria passar, Filipe fez a melhor apresentação do dia final contra o campeão olímpico, quando tocou a sirene o ubatubense deu vida a uma cena rara, Ítalo Ferreira em combinação.
Reclamar de julgamento do surfe e difundir teorias conspiratórias sob o argumento de que querem parar o surfe brasileiro é algo que há muito deixei de fazer, é claro, em um momento ou outro você vai discordar de determinada nota, isso é muito comum em nosso universo, contudo, me livrei dessa larica do ódio no dia em que ouvi de um ex-surfista profissional a seguinte frase: “No futebol você coloca a bola na rede é gol, no vôlei você coloca a bola no chão é ponto, no basquete você faz cesta é ponto, nas corridas de atletismo, de carros, cavalos e etc, se você chegar na frente você venceu, no surfe não. Aqui tudo é subjetivo, tudo é de acordo com o entendimento de cada juiz sobre do critério de julgamento DO DIA, quando as baterias não têm um surfista muito superior ao outro, quando o nível está muito uniforme, entram nas notas de maneira inconsciente as preferências pessoais de cada juiz, coisas que não estão no critério de julgamento, coisas como estilo por exemplo, ou até mesmo o cara que pessoalmente falando ele gosta mais, tudo isso acontece de forma involuntária, mas acontece”. Dito isso pergunto mais uma vez. Era para o Griffin vencer hoje?
Na semifinal, surfando contra Gabriel Medina, Griffin fez uma boa onda logo no início da bateria que lhe deram 8.5, ele dropou adiantando bastante para passar a seção e abrir com uma boa rasgada (manobra de saída convencional), em seguida ele adiantou por mais uma seção e aplicou uma batida que apesar dele desgarrar a rabeta, ele ficou preso na volta, na sequência Griffin fez duas boas batidas, invertendo direção já na parte final da onda.

Gabriel dropou, fez um bottom e já foi para um aéreo alto invertendo bico e rabeta (manobra progressiva que determina alto grau de comprometimento por si só, mas que é potencializada por ser a manobra de saída), depois aplicou uma batida reta, muito forte, linkando com uma rasgada, na sequência passou a seção com um floater e mandou uma batida com muita pressão, voltando com a prancha na vertical. Nessa onda Gabriel usou os seguintes fundamentos: comprometimento, progressividade, força e variação, uma combinação que mesmo sendo um surfista completo, um cara que está na fila do título mundial, Griffin ousou executar, o 7,67 de Gabriel foi incompreensível se comparado ao 8.50 do Griffin, para mim, essa bateria foi a grande disparidade do julgamento, então respondendo à pergunta: Não! Não era para Griffin vencer hoje, em meu subjetivo ponto de vista, Gabriel Medina e Filipe Toledo seriam os caras a fazerem a final.

Entre as meninas a elegância de Stephanie Gilmore superou a idade e a fúria de Caroline Marks “Occhilupo” nas semifinais, na final Steph virou contra Lake Peterson, surfista que apesar de definir bem suas manobras, costuma fazer conexões picadas, o que valoriza ainda mais a polidez cirúrgica da GOAT Stephanie Gilmore.

Na final masculina tive a impressão em um primeiro momento que as backup waves de Filipe e Griffin fossem no mesmo padrão, Filipe abre com um Full Rotation, Griffin não, porém Griffin finaliza com um aéreo alto com maior amplitude, já Filipe malmente tira a prancha da água, contudo é difícil de acreditar que 6.43 seja 6.43 e 8.0 seja 8.0, com boa vontade, as notas teriam que ser no máximo iguais, mas uma coisa nessa história passou incólume, se Filipe fizesse uso da prioridade faltando três minutos para o fim, ele tinha vencido e não estaríamos aqui discutindo julgamento. A pergunta é, existe alguma Conspiração para parar os brasileiros?
Eu acredito que não, apesar de existir um alto grau de contestação sobre as notas, muitas vezes contestações indevidas, de longe, o que observo é que e em virtude da subjetividade, algo que jamais deixará de existir, existe uma certa comodidade da WSL com relação a evolução do quadro técnico, uma comodidade que também parece ser dos juízes, já que qualquer erro grosseiro pode ser facilmente jogado na conta da tal subjetividade.
O pior disso tudo é perceber que há uma espécie de proteção com o juiz, uma espécie de compadrio, percebemos isso no modo de mostrarem as notas, ao invés de nome e nacionalidade dos juízes, mostram apenas as nacionalidades, você sabe quem são os juízes da WSL? Uma vez vi um surfista profissional falando: “nós temos um ranking que define quem se mantém e quem cai no final da temporada, esse mesmo ranking deveria existir também para os juízes”. Devo dizer que concordo plenamente.
Apesar das lambanças provocadas por um pequeno número de profissionais que não se reciclam e não correrem o risco de pagar por seus erros, Filipe Toledo continua líder e tem tudo para ser o campeão mundial de 2022, próxima etapa é no Brasil e aqui ele já venceu três vezes, Filipe é o mais provável vencedor se considerarmos o histórico, esperamos que nenhum julgamento tosco tire o brilho do surfe em Saquarema.
Até lá!

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