Por: Marcos Aurélio Chagas.
Terminou hoje a sexta de sete etapas do Challenger Series, o circuito que qualifica dez surfistas para a elite do surfe mundial.
O Corona Saquarema Pro, deu a Gabriel Medina seu primeiro troféu em águas brasileiras desde que ele venceu o World Junior Championship, em Florianópolis, no ano de 2013, essa competição deu ao então garoto de 18 anos o título de Campeão Mundial Junior.
De lá para cá a promessa Gabriel Medina se tornou o mais temido e voraz competidor do circuito mundial, ele chegou ao olimpo do esporte dando ao Brasil seu primeiro título mundial de surfe profissional em 2014, o bicampeonato em 2018 e o tricampeonato em 2021, entrando em uma galeria onde estavam apenas Tom Curren, Andy Irons e Mick Fanning. Gabriel que já havia entrado para a história por ser o primeiro campeão mundial que não tinha o inglês como língua mãe, também por entrar no seleto grupo dos dez maiores vencedores de etapas da elite de todos os tempos, conseguindo ainda a proeza de se tornar o maior goofy da história, mesmo que suas referências fossem Mark Occhilupo, Damien Hardman e Tom Carroll, se tornando o único tricampeão que surfa com o pé direito na frente, apesar de todos esses feitos na carreira, Gabriel Medina jamais havia vencido uma etapa profissional no Brasil desde que ingressou na elite, no CT suas melhores apresentações haviam sido uma 3ª colocação em 2013 onde ele fez uma bateria insana, perdendo para Adriano de Souza por menos de meio ponto, nesse ano o campeão foi Jordy Smith, Gabriel havia feito uma outra semifinal, desta vez em 2016, perdendo para Jack Freestone, com John John sagrando-se o grande campeão, no QS o tricampeão tinha conseguido sua melhor colocação ali mesmo em Saquarema, também em 2013, ele fez uma semifinal onde perdeu para o francês Marc Lacomare, que na final perdeu para Mitch Coleborn. Como podemos ver, vencer no Brasil era o calcanhar de Aquiles de Gabriel Medina.
Trevo de Quatro Folhas, Ferradura, Cristais e muitos outros objetos são considerados como amuletos da sorte, mas, depois de ver Gabriel Medina vencer tudo que era possível mundo afora, porém nunca no Brasil, sua vitória hoje me faz acreditar que o marroquino Ramzi Boukhiam é seu grande amuleto em águas tupiniquins, sim, lá em 2013, na final do mundial junior o marroquino era seu adversário, naquela ocasião Gabriel destruiu o Ramzi, hoje, ele venceu apertado.
Apesar de não ter assistido toda a competição, os dias que vi, foram suficientes para entender que o grupo dos melhores surfistas era formado por Maxime Huscenot, Miguel Pupo, João Chianca e Ramzi Boukhiam. Gabriel Medina não estava tão consistente como eles, vinha fazendo aquela tática de surfar o necessário para avançar, pela primeira vez inclusive, vi aquilo que considerei um over score para o tricampeão, Gabriel recebeu 9.33 em um aéreo muito alto contra Miguel, mas com retorno sujo, muito sujo, contudo, parafraseando Klaus Kaiser, eu não sou juiz, eles certamente conseguem enxergar os detalhes melhor do que nós, os olhos deles são treinados para isso. Coincidentemente, esse grupo de surfistas que ao meu ver vinham apresentando um surfe mais consistente, todos eles enfrentaram Gabriel Medina, e, um a um eles foram caindo, não porque Gabriel tenha sido beneficiado, apesar do over score no aéreo contra Miguel, ainda que aquela onda fosse um ponto a menos ele venceria a bateria, mas sim porque todos eles surfaram muito abaixo do que vinham surfando ao se depararem com o tricampeão, acredito que a figura de Gabriel cause nos caras respostas emocionais mais vinculadas ao respeito, do que efetivamente respostas motivacionais.
Na bateria final Ramzi se manteve na frente por quase todo o confronto, a história mudou quando, faltando seis minutos para o final da bateria, de posse da prioridade Ramzi entrou em uma onda péssima, induzido por Gabriel, dois minutos depois veio a boa e o champ usou a prioridade em um momento crucial, ele virou a bateria no surfe e na estratégia, mais uma vez Ramzi Boukhiam chegava a uma final no Brasil perdendo para Gabriel, espero que isso possa se repetir o ano que vem na elite, o marroquino surfa mais que pelo menos um terço dos surfistas da CT, com a final em Saquarema ele chegou na quarta posição do Challenger, creio que só acontecendo uma hecatombe em Haleiwa para Ramzi Boukhiam não se classificar.
João Chianca vai para Haleiwa na oitava posição, dentro da linha de corte, Michael Rodrigues, Alejo Muniz e Edgard Groggia são os melhores brasileiros fora do corte, eles estão com a 12ª, 17ª e 18ª posição respectivamente, se quiserem entrar para a elite terão que tirar uma diferença de quatro mil pontos (um pouquinho a mais para Alejo e Edgard e um pouquinho a menos para Michael) para alcançar a 10º colocação, última posição dentro do corte, hoje ocupada pelo australiano Dylan Moffat. Gabriel Medina que competiu apenas em Saquarema e já está com a vaga garantida em 2023, está ocupando a 19ª posição no ranking, à frente de nomes como Mateus Herdy 24ª, Deivid Silva 25ª e Lucas Silveira 27ª, apesar dos três últimos ainda terem chances matemáticas de se classificarem, acredito que para eles só uma final interessa.
Entre as meninas Alyssa Spencer venceu e deu um salto de oito posições no ranking, ela chegará em Haleiwa como sexta posição, a primeira surfista após a linha de corte, ela chega à frente de nomes como Bronte Macaulay e Nikki Van DijK.
Haleiwa começa em duas semanas, lá serão definidos os nomes que chegarão a elite em 2023, o Brasil tem boas chances de colocar mais dois surfistas entre os trinta e dois melhores do planeta, vamos torcer em plana copa do mundo, também, para o surfe brasileiro.
Até lá!
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