Hoje Kelly Slater completa 50 anos, desses, quase 32 no topo do esporte que se divide antes e depois dele, então, apenas a título de comparativo, pense como o mundo mudou de 1990 para cá e pense também como o surfe mudou neste mesmo período.
Em 1990 a maioria das pessoas ouviam música no Walkman ou através dos LPS, depois veio o CD, Laser Disc, DVD, Pen Drive e etc; Em 90 nós sabíamos dos resultados das competições de surfe dois meses depois, quando as revistas chegavam nas bancas, o fax era a comunicação instantânea mais eficiente, para você falar com alguém pelo telefone teria que ligar para a casa ou para o trabalho da pessoa, a referência de prancha ideal se baseava no tamanho e na espessura da borda. De lá para cá, ídolos, políticos, bandas, produtos, e todo tipo de pessoas de destaque surgiram e desapareceram, mas Kelly não, Kelly continua ali, no topo da cadeia, ele continua a nos surpreender mesmo depois de 32 anos no tour. Há um ditado que diz que o valor das coisas não está no tempo que elas duram, e sim na intensidade com que acontecem, podemos dizer que no caso de Kelly unem-se as duas coisas, o tempo e a intensidade.
Nesses 32 anos Kelly promoveu mudanças substanciais no universo do surfe, sua simples existência obrigou os juízes a reverem os critérios de julgamento, as rabetadas invertendo completamente a direção, os pontos das ondas onde kelly conseguia colocar sua prancha e as variações de abordagem eram coisas absurdamente inovadoras para a época, a influência de Kelly Slater sobre a maneira de como quase todos surfavam no planeta foi substancial, para dizer o mínimo. Kelly mudou a forma como o jogo era jogado, sua abordagem abriu os olhos de uma geração inteira, na verdade de todas as gerações depois dele. É difícil não exagerar o significado de suas conquistas, geração após geração Kelly Slater venceu todos, Curren, Carroll, Pottz, Occy, os Shanes, Machado, Andy, Taj, Parko, Mick, John John, Gabriel, Filipe, Seth e muitos outros surfistas das mais diferentes gerações já foram derrotados pelo inacabável Kelly Slater. Nesses 32 anos a inovação tem sido uma de suas marcas registradas, ele quebrou todos os recordes competitivos no surfe, ele venceu em todas as condições, em todos os lugares do mundo e em todos os tipos de onda, de Pipe a Waimea passando por Huntington e Bells Beach, Kelly superou números que ninguém jamais acreditou que poderiam ser superados, os quatro títulos consecutivos de Mark Richards e as 33 vitorias de Tom Curren são exemplos disso. Indo além Kelly mudou o tamanho das pranchas, inovou nos modelos, foi um grande entusiasta do conceito de volume, foi responsável por mudanças nas premiações dos surfistas, trouxe para o mundo do surfe o conceito de “atleta”, construiu a melhor onda mecânica do mundo, foi o primeiro e único surfista autossuficiente do tour vestindo suas próprias roupas e surfando com suas próprias pranchas, dizem até que ele foi o grande responsável pela transição da antiga ASP para a atual WSL.
Trinta anos depois de seu primeiro título mundial Kelly já venceu 56 eventos, 11 títulos mundiais, foi o mais jovem e o mais velho campeão, venceu 7 etapas em uma única temporada, foi o mais velho a vencer uma etapa, teve cinco títulos consecutivos, e para finalizar, venceu Pipeline há seis dias de completar 50 anos. As pessoas comuns pensam apenas em fazer bom uso do tempo, Kelly usa o tempo a seu favor, na vida de Kelly o passado insiste em não reconhecer o seu lugar, já que Kelly é sempre presente.
Tudo começou em Cocoa Beach, sua terra natal, um lugar que poderia ser considerado improvável para um surfista, lá não é exatamente uma máquina de ondas, talvez por isso Kelly tenha construído sua própria máquina de fazer ondas.
Depois de introduzir no mundo do surfe o conceito de surfista ser atleta, podemos dizer que Kelly Slater se tornou o maior atleta da história, nenhum outro passou 30 anos no topo, nenhum outro venceu aos 50 anos jovens com a metade de sua idade, só Kelly. Nós somos privilegiados em vivermos a era Kelly Slater, o Deus do surfe, quando ele parar o tempo não apagará aquilo que Kelly gravou em nossas memórias e em nossos corações, por isso, ainda que ele se ausente, estará sempre presente.
Kelly Slater parece materializar uma das canções mais belas da música brasileira, Tempo Perdido de Legião Urbana, ele nos faz acreditar piamente na primeira estrofe da música quando Renato diz: “Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo, tenho todo tempo do mundo”. Essa é a melhor conclusão que conseguimos chegar quando vemos Kelly Slater vencer aos 50 anos.
Obrigado Kelly pelas aulas motivacionais, obrigado Kelly pelas pisadas de bola que nos mostram que você está longe da chatice de ser perfeito, obrigado Kelly pelos tantos momentos de êxtase que o legado de Mano Ziul permitiu que você nos proporcionasse, obrigado Kelly por nos mostrar que Adriano é ainda maior do que nós sabíamos que ele já era, obrigado Kelly por nos permitir ver você vencer seu primeiro título mundial aqui no Brasil, obrigado Kelly por garantir ao surfe a certeza de termos o maior atleta de todos os tempos, obrigado por tudo Kelly.
Vida longa à Robert Kelly Slater, o maior surfista e atleta que a humanidade conheceu, um imortal para nós do surfe, Parabéns GOAT por seus 50 anos de vida e pela vida que você construiu nesses 50 anos.
Aloha!
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