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Jack Robinson se impõe ao absolutismo de John John em Margaret River

Foto do escritor: Redação | Vision Surf |Redação | Vision Surf |

Atualizado: 5 de mai. de 2022



A etapa de Margaret River começou com muita tensão para um batalhão de surfistas que precisavam de resultado no Main Break do oeste australiano, porque? Para fugirem do corte que desagrada a uma boa parcela da comunidade do surfe. A observar a reação dos surfistas quando a regra foi anunciada, não é difícil deduzir que esse formato foi uma decisão unilateral da WSL, muitos atletas reclamaram publicamente dele, outros disseram que souberam pela mídia, recentemente, na etapa de Bells houve até um abaixo assinado e uma ameaça de boicote à Margaret River, tudo foi inútil, a WSL não recuou nem um milímetro da decisão.

Com o mar gigante e de difícil leitura, a competição em Margaret River começou para valer anteontem, era possível ver pela transmissão muitas faces tensas, pela primeira vez tive a sensação que o tamanho do mar e os tubarões eram tensões secundárias, o corte era o principal motivo, ele não perdoou ninguém, surfistas como Morgan Cibilic e Conner Coffin que disputaram o WSL Finals o ano passado, além de Owen Wright, medalhista olímpico e antiga promessa de título mundial para a Austrália, estavam na zona de risco, zona de risco que ao final do round32 virou zona de exclusão, daqueles que brigavam para se manter na elite, apenas Jadson André e Matthew McGillivray passaram suas baterias.

O primeiro surfista a sentir a dor do corte foi o havaiano Imaikalani DeVault, ele perdeu para seu conterrâneo e alguém quase imparável em Margs, John John Florence. Florence é tricampeão em Margaret River com 02 vitórias no CT, (2017 e 19) e uma vitória no QS (2012), sem se encontrar no mar, com os olhos marejando Imaikalani disse: “lutei muito para estar aqui e foi tudo muito rápido”. Devo concordar com o Imai. Na sequencia o australiano Morgan Cibilic, apesar de fazer a melhor nota da bateria contra o rookie Callum Robson, também se despediu da temporada do CT em Margaret, Cibilic tomou muitas ondas na cabeça e perdeu muito tempo para se posicionar, agora, a sensação de 2021 vai ter que correr o Challenger se quiser voltar à elite.

Assim como Morgan o americano Conner Coffin deu adeus a elite na bateria seguinte, Conner foi 4ª colocado ano passado, em sua quinta temporada o yankee sucumbiu diante de um Griffin Colapinto que estar surfando cada dia melhor. Kanoa Igarashi chegou na Austrália líder, mas com duas 17ª colocações, o japonês deixa a Austrália sem nenhum momento de brilho nas duas etapas, confesso, acredito que esse limbo combina mais com Kanoa que a lycra amarela.

João Chianca - Foto: Aaron Hughes | WSL

João Chianca é um capítulo à parte desse corte, o brasileiro é de longe o melhor rookie que vimos nos últimos anos, o surfe no pé e atitude demostrada nas poucas baterias que disputou tornaram Chumbinho em protagonista de uma história que nos faz questionar algumas coisas. Que sentido faz esse corte no meio da temporada que tira aquele que visivelmente vinha fazendo o melhor surfe entre os novatos? Para quem isso é bom, para o surfista? Para o Surfe? Para a WSL? Há quem defenda a tese de que a WSL está tentando equilibrar as contas, doze premiações a menos em cinco etapas já seria um começo significativo. A WSL defende que o corte vai dinamizar as competições, vai fortalecer o CT e o Challenger, e, mais uma série de coisas que para mim fazem pouco sentido, contudo, confesso que ainda não tenho opinião formada, observar o resultado disso é o melhor a se fazer no momento.

Apesar de não sabermos o impacto final de uma mudança como essa, Izaac Gomes, administrador do maior grupo de surfe no Facebook do Brasil, HISTORIAS DO SURFE BRASILEIRO, defende que o corte enfraquece os atletas, que dentre outras coisas podem perder patrocínios, enfraquece a própria WSL, por criar regras que nitidamente desagrada a maioria, e enfraquece o próprio esporte, por exigir de estreantes, “o que acaba virando uma punição”, a experiência e um bom desempenho em ondas que de regra a maioria nunca surfou, tudo isso em meia temporada.


Voltando a Chumbinho ele apresentou surfe de TOP5, mas não conseguiu se requalificar, o brasileiro fez as baterias mais disputadas do ano, na maioria das vezes as pontuações com as quais ele perdia seria suficiente para passar 80% das outras baterias do round, a pontuação de sua derrota para John John em Bells, daria a ele a vitória em todas as outras baterias do mesmo round, na maioria delas seria vitória com direito a combi, mas quis os Deuses do surfe que o Brasileiro fosse pego no corte e recomeçasse tudo novamente, Chumbinho caiu de pé, ele sai do tour mais admirado do que a maioria daqueles que continuam la, agora ele vai para o Challenger de cabeça erguida, pegar de volta aquilo que é dele, a vaga para 2023, apesar de cair o moleque quebrou e impôs muito respeito.


Owen Wright - Foto> Aaron Hughes | WSL

Depois de 12 temporadas, Owen Wright, antiga promessa de título mundial e atual medalhista olímpico se despede da elite. Owen perdeu para um Miguel que a cada competição que passa, vem se colocando no ranking em um lugar mais condizente com seu surfe. Owen já havia caído no ano passado, mas a WSL deu a ele um wildcard, ele havia ficado na 25ª posição, atrás de McGillivray que era o primeiro nome depois do corte, mas com o wildcard dado a Owen o sul-africano ficaria fora em 2022, Matthew só competiu esse ano quando sua sorte colidiu na contusão de Yago. Agora, mais uma vez Owen e McGillivray tiveram seus destinos entrelaçados, o australiano que havia perdido para Miguel, teve que esperar o resultado entre a bateria de Samuel Pupo e Matthew Mcgillivray para seu destino ser selado, se Samuel vencesse, Owen estaria classificado, o sul africano vencendo, desclassificaria Owen, e foi exatamente o que aconteceu, McGillivray foi superior a Samuel por toda a bateria, os supersticiosos diriam que o senhor tempo em sua imensa sabedoria tem o dom de corrigir os erros humanos. Pelo que deixou transparecer em sua entrevista pós queda, Owen deve desistir do tour, se isso se confirmar seria mais um australiano com a chancela de “futuro campeão mundial” que deixa o tour sem um título para chamar de seu.


Nat Young - Foto: Aaron Hughes | WSL

O líder Filipe Toledo perdeu uma bateria extremamente disputada contra seu carrasco Nat Young, em três confrontos contra o goofy Filipe nunca conseguiu vencê-lo, o que sob meu ponto de vista chega a ser uma heresia, já que o repertório do brasileiro é infinitamente maior que o do Nat, mas, se tem paredes sólidas, Nat se torna extremamente perigoso, ele tem um base lip letal, se for direita ele verticaliza e inverte ao extremo, o que eleva em muito o padrão e grau de dificuldade de suas manobras, usando de muita verticalidade, Nat achou o caminho para impor mais uma derrota a Filipe, deixando o brasileiro dependendo dos resultados de Mamiya e John John para continuar com a lycra amarela. Vi muita gente esperneando no Twitter em virtude do resultado da bateria do Filipe, teorias conspiratórias voltaram à tona, desde a velha perseguição com os brasileiros até o desejo da WSL de facilitar a vida de John John, particularmente falando eu até me surpreendi com a nota de Filipe, não por ser baixa, e sim por acreditar ter sido mais alta do que a onda que vi. Filipe abriu a onda com uma rasgada curta e ficou levemente preso, a segunda manobra foi uma coisa bem próxima de um cutback, a única manobra boa do líder foi a finalização na junção, vejamos, a maior carga de pontos está na manobra de saída, isso porque, em caso de queda o surfista perde todo o resto da onda, uma manobra de saída grande, tem um peso maior por causa do quesito comprometimento, a manobra de finalização na junção, se for uma manobra descomunal, vai receber uma grande carga de pontuação, o que não foi o caso de Felipe, o brasileiro fez uma boa finalização em uma onda que ele abriu com duas manobras fracas, o que resultou em uma nota que eu achei até um pouco alongada. A manobra de finalização como o próprio nome diz é o grand finale, se a execução da onda como um todo não foi boa, uma boa finalização não muda esse fato, por isso, em meu entendimento, os juízes não deram a virada para Filipe.

Quando lembro de momentos como quando Gabriel tirou de Mick a possibilidade de mais um título mundial com um aéreo em plena Pipeline, que acabou acarretando no título de Adriano, ou até mesmo daquele 1.93 que Kelly recebeu em um tubo rápido na maior onda surfada em uma competição na Barrinha, fico me perguntando se nós brasileiros vamos nas mídias internacionais ver o que os gringos acham. Assim como nós, eles acreditam em teorias conspiratórias, no caso deles, eles afirmam que a WSL quer um brasileiro na ponta, isso só me leva a crer que estamos ficando todos um pouco “complômetidos”.


John John - Foto: Aaron Hughes | WSL

A gente pode até achar que existe uma supervalorização em uma onda ou outra do John John, mas não dá para negar que o havaiano quando chega em Margs parece correr sozinho nas pistas do Main Break, ele chegou a colocar Griffin Na combi no round16, mas o californiano está em franco crescimento competitivo e tem um repertório absurdamente vasto, com bons carvins e um aéreo em uma junção animal, Griffin saiu da combi e chegou bem próximo de virar a bateria, mas a história recente mostra que para vencer John John em Margaret, tem que ter uma borda melhor que a dele, e isso Griffin não têm, na semifinal o bicampeão marcou 18.90, desconstruindo completamente seu confiante adversário, já na final... bem, na final a história foi diferente.


Matthew McGillivray - Foto: Matt Dunbar | WSL

Ítalo é Crazy, como ele mesmo se autodenomina é Brabo, é destemido, ele primeiro vai para depois pensar se poderia ter ido, mas se você observar, tem sido muito difícil Ítalo alcançar high scores sem aéreos, ao contrário disso, o jogo de carvins com ataque às junções do Matthew McGillivray o levou ao conceito de excelente e encurralou o Brabo, com o perdão do trocadilho, Matthew avançou, Ítalo voou. Pelo segundo ano seguido Matthew chega às semifinais em Margaret River, o surfe dele encaixa muito bem naquela bancada, ele chegou em Margs na 32ª posição e deixou a Austrália na 19ª, dos caras que chegaram abaixo do corte, apenas ele e Jadson se salvaram.


Ethan Ewing - Foto: Aaron Hughes | WSL

Ethan é estilo, beleza, sutileza, estética, elegância, borda, radicalidade, ver Ethan surfar, mesmo que sua abordagem seja mais burocrática como alguns acham, é um dos grandes momentos para esse colunista, quase 30 anos depois da aposentadoria do rei de todas as majestades, Mr. Tom Curren, enfim vi um surfe que pode rivalizar quando o assunto é estilo com o do tricampeão, Ethan cravou sua borda até chegar às semifinais, e mesmo perdendo a bateria na semi, fez a melhor nota do confronto. Com o resultado em Margs o australiano chegou ao Top5, já que teremos que ver o título sendo disputado mais um ano em Trestles, seria muito bom ver Ethan por lá.


Jack Robinson é aquele cara que você espera vê-lo nas decisões quando o assunto é tubo, apesar de que, na elite, ele ainda não chegou em nenhuma decisão nesse perfil de onda, porém, em seu segundo ano entre os melhores do mundo, ele vence pela segunda vez usando muita borda, obvio, em toda borda cabe um pouco de progressividade, e com esse fundamento, Jack acabou com a imponência de John John Florence em Margaret River, ao menos esse ano.


Jack Robinson - Foto: Aaron Hughes | WSL

No dia final de Margaret River, Jack Robinson surfou quatro baterias, até vencer o protagonismo de John John seu caminho não foi nada fácil, Robinson venceu Barron Mamiya, Jordy Smith e Ethan Ewing, três nomes que em tese seriam favoritos, Mamiya venceu Sunset, uma onda bem similar a Margs, Jordy sempre fez grandes apresentações ali, seus carvins alongados são o encaixe perfeito naquelas water lines, ano passado ele foi vice-campeão, Ethan vinha fazendo apresentações dignas de campeão e não dava sinais de que pararia antes da final, mas favoritismo é uma premissa que precisa ser confirmada na água, e Jack não permitiu. Contra Mamiya e Jordy ele conseguiu fazer as melhores notas, andou sempre na frente, contra Ethan e John John houve muito equilíbrio em suas apresentações, guiado pelo conhecimento local que traz a maturidade para saber esperar e escolher a onda certa, unido a confiança de ter mais horas surfadas naquelas ondas do que qualquer outro, Jack eliminou de virada os favoritos.

Na bateria Final Robinson sabia que enfrentava o melhor surfista naquela onda, ele sabe também que quem quiser vencer John John ali tem que sair da casinha, geralmente Margaret permite pouca progressividade, não atoa nas vitórias de John John a troca de borda e ataque às junções sempre foram a tônica, ano passado John John se machucou gravemente lá ao entrar em alta velocidade em uma junção, a confiança as vezes lhe trai. O havaiano tem tanta certeza de sua superioridade em Mags que ele se nega a mudar o script, ele sabe que provavelmente ninguém vai usar a borda ali melhor do que ele, enquanto John John cumpria seu roteiro que lhe deu duas vitorias, Jack tentava achar uma maneira de pará-lo, para isso o local saiu do roteiro que a onda pede e foi para o jogo aéreo, algo pouco comum naquele lineup, apenas a título de comparação, Ítalo, o surfista que talvez seja o melhor aerialista do mundo, se machucou treinando aéreos ali, isso mostra o quão comprometido Jack Robinson estava para não deixar escapar a vitória na frente de seu público, o aéreo levou Jack para o conforto de uma boa backup wave, com uma boa nota na conta, Jack atacou John com as mesmas armas, de igual para igual, o aussie achou uma direita que a maioria deixaria passar, ele saiu com uma rasgada onde usou borda e rabeta, finalizando com uma batida bem vertical, despencando com o lip, sem acreditar, John John ouviu a virada lá fora, àquela altura o mar já estava inconstante e o havaiano viu pela segunda vez em sua carreira a vitória escapar de suas mãos em Margaret River, Filipe e o Brasil te agradecem Jack. Obrigado!


No feminino Isabella Nichols venceu a etapa com propriedade, não apenas escapando do corte como também se colocando entra as TOP5.


Além de João Chumbinho, Deivid Silva foi o outro brasileiro a cair, Deivid que aliás não conseguiu surfar nenhuma onda contra Mamiya. Além dos brasileiros, muita gente fina, elegante e sincera caiu, Conner, Zeke Lau, Messinas, Owen, Morgan, Kikas, Fioravanti e Imaikalani completam a galeria do famigerado corte, se bem que Zeke Lau não se enquadra no conceito de “gente fina, elegante e sincera”.

Outra observação deve ser feita, de cinco etapas esse ano, três delas foram vencidas por surfistas jovens, Sunset (Mamiya), Portugal (Griffin) e Margaret (Robinson), além deles, nomes como Ethan Ewing e Callum Robson estão chegando cada vez mais próximos dos grandes, o surfe está em um momento de mudança.


Filipe Toledo - Foto: Aaron Hughes | WSL

Próxima etapa será em G-Land, a última vez que ela aconteceu foi em 1997 e o goofy Luke Egan foi o grande campeão, a janela começa dia 28 de maio, do atual circuito só Kelly Slater competiu naquela esquerda, competiu e venceu, G-land aconteceu em 1995, 1996 e 1997 com vitorias de Kelly, Shane Beschen e Luke Egan respectivamente, para quem acha que os goofys levam a melhor, o retrospecto favorece aos regulares. Em G-Land Filipe surfa com a lycra amarela, John John surfa como vice-líder e Gabriel retorna, vai ser muito bom ver onde Medina pode chegar vindo lá de trás. Com 18 mil pontos abaixo da linha de corte para os TOP5, conseguiria Gabriel Medina chegar lá?

Façam suas apostas, a partir de agora um novo circuito começa.

Aloha!






 
 
 

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