Por: Marcos Aurélio Chagas.
No amanhecer dos últimos dias de inverno em Oahu, o mar não entrou em sintonia com as condições favoráveis para o espetáculo, dentre tantas outras coisas, o surfe é um aprendizado continuo e constante, onde a solução reside em saber a hora certa do que fazer e como fazer, tanto para a organização, no aspecto da chamada do evento, quanto para os surfistas, desenvolver boas estratégias momentâneas para lidar com a imprevisibilidade da mãe natureza, pode ser a diferença entre o erro e o acerto.
A WSL acertou nas chamadas dentro das previsões para os dias de janela, acertou também no sistema Overlapping heats, na tentativa de colocar os melhores surfistas do mundo nas melhores condições dentro do que era possível, mas, logo na primeira bateria, vimos uma sequência de erros entre Ítalo e Ian Gentil, que custou caro para o brasileiro. A bateria corria com Ítalo e Ian focados em Pipe, sem conseguirem entubar, ou sem sucesso para saírem dos poucos tubos que achavam, tive a impressão, sentado no conforto de meu sofá, que os caras insistiam na estratégia errada, vi algumas ondas entrando com o pico apontando para o Back Door, contudo, os caras iam sempre para Pipe, tudo bem, quem está lá dentro é quem sabe para onde vai ou não, mas, Jordy Smith, que estava na bateria seguinte, que não tinha absolutamente nada a ver com a amargura de quem disputava a primeira bateria do dia, tranquilão no outside, em um momento que sua bateria não tinha prioridade, e ele, Jordy, sem a prioridade dentro de seu próprio confronto, remou para o Back Door em sua segunda onda, dropou, entubou, andou “quilômetros” dentro do tubo, e nos livrou do festival de 1.5 e 2.0 pontos, Jordy recebeu 8.5, mostrando aos caras da primeira bateria que havia outras opções no mar. O regular Ian Gentil, ainda dentro d´água, captou a mensagem da nota de Jordy e se jogou para o Back Door, achou um seis alto, virando pra cima de Ítalo, que saiu do mar derrotado, fazendo da primeira etapa seu primeiro descarte. Jordy, continuou seu passeio pra cima do goofy Nat Young, avançando tranquilamente para o conforto da confirmação de seu favoritismo.
Na disputa do surfista dispensado pela Quiksilver contra o recém contratado da marca, melhor para o italiano osso duro de roer Leonardo Fioravanti, Griffin vacou logo no início da bateria e parece que ali perdeu completamente sua segurança, já Fioravanti, parecia surfar com a serenidade marota de quem dava um tapa de luva de pelica nos antigos patrões, talvez pelo desejo de falar no mar, palavras nunca ditas em seu divórcio com a marca, com o bico banco, Fioravanti avançou para o encontro com Callum Robson.
Fora do mar, Jadson informava que abandonava a temporada, dentro dele, coisas mornas, extremamente mornas aconteciam, ao ponto de Liam O´Brien vencer Ethan Ewing, até que, Caio Ibelli e o destalentoso “Marrento” Lau, um ser estranho aos outros surfistas do tour, um cara que usa há anos o excessivo recurso de forçar interferência contra seus adversários, ao ponto da WSL criar uma regra de interferência por causa dele, mais uma vez, na impossibilidade de vencer uma bateria com seu surfe limitado, se comparado a maioria dos tops, cavou, e o VAR confirmou, uma interferência a seu favor, em um movimento que, em meu ponto de vista, jamais houve a intenção de entrar na onda, e sim, pura e simplesmente de vencer se escorando na possível crença de que os juízes considerariam o imbróglio como interferência, resumindo, “Marrento” Lau aplicou, e em tese, se deu bem, já que os juízes confirmaram a interferência, com essa estratégia, Lau viu Caio ter sua segunda nota cancelada, mas, para total desmoralização do havaiano, o brasileiro venceu somando apenas uma nota, depois de ver o destalentoso Lau surfar uma onda no minuto final, pegar um tubinho apertadinho, fazer uma larga comemoração, e, mesmo precisando de apenas 3.51, não conseguir alcançar a nota. Ezekiel Lau morreu, de vergonha, mas há relatos de que ele passa bem. No confronto seguinte Caio bateu Ryan Callinan, e se vacilar, vamos encontrar com ele na final.
Um cara que nunca morrerá, um imortal chamado Kelly Slater, o defensor do título em Pipeline, aquele que venceu oito vezes ali, perdeu para Yago, o brasileiro pontuou manobrando, Kelly até tentou achar uma onda para o Back Door que lhe rendesse um quatro baixo, mas tudo que ele achou se resume a uma única palavra, “fechadeiras”.
João Chianca nasceu para os tubos, ele entra no psicológico de seus adversários quando o assunto é tubo, mesmo com poucas participações na elite, nenhum surfista entra em Pipe contra ele, sem a real percepção que vai enfrentar um Chumbo grosso, ele afundou Kanoa, depois abateu o rookie Rio Waida, agora Chumbinho tem a missão de vencer no próximo round o campeão mundial Filipe Toledo, que já havia vencido Yago.
Gabriel, foi simplesmente Gabriel, dominante, fez a maior nota da competição até aquele momento, um 9.33, mais uma vez surfando para o Back Door, completamente em pé, em uma craca, sem grab, de costas para o perigo. Em sua bateria seguinte, em um mar com poucos tubos, o cara que tem a mente mais forte do que seu surfe, conseguiu vence-lo, apesar da melhor nota do confronto ser do brasileiro. Seu nome? Jack Robinson!
John John que vinha discreto, enfrentou Miguel na última bateria do dia, o havaiano parece ter encontrado uma grande motivação, ao ver Gabriel, seu maior rival, o cara que nos últimos sete anos vinha fazendo as maiores pontuações em seu quintal, sair derrotado com um placar mais com cara Glenn Hall, do que de Gabriel Medina. Soltinho em um line up que tinha proporcionado 6.73 como a maior nota da bateria anterior, o havaiano entrou em um estado de exaltação de sua superioridade que beirou a perfeição, John John impôs ao elegantíssimo Miguel Pupo, uma combinação de 19.33 pontos, fazendo a maior e a segunda maior nota do evento, em uma única bateria, obviamente o maior somatório também, Pipeline ofereceu a luz e John John encontrou seu caminho.
Com o sorriso discreto no rosto e uma aura brilhante, John John saiu da água com a missão de vencer na próxima bateria o mais chato competidor dos últimos dois anos, o confiante Jack Robson.
Hoje provavelmente será o dia final, Filipe e Chumbinho se enfrentarão, Caio está na outra chave, eles são os brasileiros em Pipe, existe a chance de uma final brasileira, mas antes, precisam combinar com Jordy Smith, John John ou Jack Robinson.
Próxima chamada, hoje as 14:30hs.
Aloha!
Excelente. Muito bom.