Por: Marcos Aurélio Chagas
A temporada 2023 da elite do surf mundial começa no domingo dia 29 de janeiro, pelo segundo ano consecutivo, o palco onde nos acostumamos ver sendo definidos os campeões mundiais por quarenta e cinco anos, abrirá o circuito novamente. Não é possível afirmar ainda se a mudança foi para melhor, mas sim, é possível dizer que, independente de abrir ou fechar, Pipeline é sempre um show.

A rainha de Oahu, onda que encanta súditos em todo o mundo, não é exatamente uma mãe para seus filhos havaianos, depois de dez anos na elite, John John venceu lá pela primeira vez em 2021, a última vitória havaiana antes dele, tinha sido de Andy Irons em 2006, ao longo dos anos, Pipe vem sendo dominada por australianos, franceses e principalmente por brasileiros. Nos últimos sete anos, o Brasil venceu três vezes por lá, Adriano, Gabriel e Ítalo dão cara a nação mais vencedora neste período, contudo, individualmente, nenhum surfista é tão dominante em Pipeline como Gabriel Medina, o tricampeão fez cinco finais desde 2014, vencendo em 2018, é bom lembrar que em 2022 ele não competiu. Sim, Gabriel Medina volta para o tour como o grande favorito em Pipeline.

Apesar de ter um histórico bem mais discreto, mas não menos perigoso, John John é outro grande favorito por lá, ele e Gabriel formam uma categoria à parte em Pipe, e adivinhem, eles estão na mesma bateria do opening round, confronto que o encrespado Leonardo Fiorvanti tem a missão quase impossível de ser melhor que ao menos um deles, essa é uma daquelas baterias que se fosse cobrada, eu pagaria para assistir.

Nos últimos anos, muitos caras considerados favoritos em Pipeline deixaram o tour, a ausência de nomes como Joel Parkinson, Julian Wilson, Jeremy Flores, Owen Wright e Michel Bourez, deixa o caminho de Gabriel e John John mais ameno, mas eles não são os únicos que podem vencer, alguns outros surfistas também podem, caso consigam se conectar de fato com a onda. Kelly é o primeiro dessa lista, ele mostrou isso o ano passado, vencendo na final o surpreendente Seth Moniz, surfista que, ao meu ver, já gastou todo seu estoque de sorte em Pipe. Jack Robinson é certamente o único cara nessa geração que pode ser colocado na mesma prateleira de Gabriel e John John quando o assunto é tubo, ele sai do melhor ano de sua carreira confiante, seu talento em barrels unido a força mental, torna Jack um candidato a título em Pipe, no mais, não vejo outros gringos com aptidão para uma vitória na mais temida bancada de Oahu, os sul-africanos Jordy Smith e Matthew McGillivray podem fazer bonito em um momento ou outro da etapa, mas acho difícil eles terem chances de título.
Bem, eu não tenho o monopólio da sabedoria, mas acredito que o grupo dos possíveis campeões em Pipe seja: Gabriel Medina, John John, Kelly Slater e Jack Robinson, nessa ordem de prioridade. Outros nomes certamente terão destaque, além dos dois sul-africanos já citados, Yago Dora, Miguel Pupo, Caio Ibelli, João Chianca e Ethan Ewing já mostraram que são lobos famintos em Pipe, e Ítalo, é uma carreta desgovernada, ele pode atropelar todos ou parar no primeiro barranco, a equação Ítalo Ferreira não é fácil de fechar, são muitas variantes, uma coisa é certa, ninguém é mais “go for it” que ele, contudo, se tivesse que apostar na força incontestável de seu surf, eu apostaria em um beach break.

Se as condições estiverem difíceis, o campeão mundial Filipe Toledo, de todos os surfistas do topo da cadeia alimentar, deve ser aquele que vai ter o desempenho mais discreto, não por ser merrequeiro como algumas pessoas o descrevem, quem acha que Filipe é merrequeiro, ou não entende de surf, ou apagou da memória performances arrasadoras do champ em ondas grandes, como em Margaret River 2017, com o mar gigante durante toda competição, onde uma de suas baterias foi interrompida por aparecimento de tubarão, Filipe terminou aquele campeonato com a terceira colocação, também em Margaret, em 2021, onde ele venceu em condições grandes e desafiadoras, ou até mesmo na Barrinha, onde ele venceu muita gente por anos, sobre tudo, vencendo Kelly em um mar de 8 a 9 pés completamente desgovernado em 2019. Não, o problema de Filipe não é e nunca foi onda grande, não podemos esquecer que ele já tirou um 10 unanime para o Back Door em 2016, surfando contra o virtual campeão da etapa daquele ano, o polinésio/francês Michel Bourez, em meu ponto de vista, o problema de Filipe reside na zona do drop, se estiver oval, quadradão mesmo, tira do talentoso e impetuoso Filipe, o favoritismo que na maioria absoluta das vezes o acompanha. É pouco provável uma vitória dele, mas nunca subestime um campeão mundial.

O ano começa com quatro rookies, Rio Waida, Maxime Huscenot, Ramzi Boukhiam e Ian Gentil são os estreantes da temporada, se tivesse que apostar em único nome entre eles, seria Ramzi Boukhiam, contudo, com duas etapas no Havaí antes do famigerado corte, a relação de forças muda muito, Ian Gentil passa a ser o cara entre os quatro que possivelmente terá mais destaque no início da temporada, contudo, é bom lembrarmos de Barron Mamiya o ano passado, que conseguiu se manter dento do tour, com a vantagem de surfar em casa e ter uma onda como Margaret River na primeira parte da temporada, consequentemente ficar dentro do corte, mas no resto do ano, suas performances foram pífias, o cara que saiu líder do Havaí, terminou a temporada com a 16ª posição, vejo Ian Gentil com um perfil bem similar. Já Ramzi, se passar no corte, vejo ele em condições de ser Top10, Huscenot e Waida precisam mostrar que podem se manter lá.

O Circuito mundial de 2023 chega com muitos números interessantes. Onze surfistas brasileiros começarão a temporada - Gabriel Medina, Filipe Toledo, Ítalo Ferreira, Yago Dora, Miguel e Samuel Pupo, Caio Ibelli, Jadson André, João Chumbinho, Micheal Rodrigues e Tatiana Weston-Webb. Dois novos países estreiam - Indonésia e Marrocos. Oito campeões mundiais competindo – Kelly Slater, Gabriel Medina, John John Florence, Italo Ferreira, Filipe Toledo, Stephanie Gilmore, Carissa Moore e Tyler Wright, além disso, o circuito mundial ainda vai definir dezoito surfistas para as Olimpíadas 2024, dez homens e oito mulheres, mas ao final da temporada, só um poderá levantar o troféu de campeão mundial.

A temporada vai começar, Pipeline é o primeiro passo, os favoritos, Gabriel e John John venceram os últimos campeonatos que disputaram, Gabriel em Saquarema, John John em Haleiwa. Pipeline abre a temporada em que Filipe Toledo vai defender seu título mundial pela primeira vez, Pipe dá início a 31ª temporada de Kelly Slater na elite, não sei exatamente o que ele quer provar ou viver ainda, depois de três décadas. Pipeline abre a temporada em que Yago, Ethan e Griffin devem se consolidar de vez no pelotão principal, mas, quando você lembra que Keanu Asing venceu Gabriel Medina em pleno Postinho no Rio, e mais uma vez, em final na França, você descobre que as coisas mais bizarras podem acontecer, e que, opiniões, mesmo que coesas, não podem ser levadas tão à sério, afinal, nada na vida é definitivo.
Pipe começa no domingo 29, se pudesse fazer um pedido, seria para que John John começasse e terminasse a temporada dentro d´água, chega de lesão. Façam suas apostas, vai começar tudo de novo.

Comments