top of page

Stephanie Gilmore: No dia que uma rainha nos deixa outra é coroada.

Foto do escritor: Redação | Vision Surf |Redação | Vision Surf |

Atualizado: 11 de set. de 2022

Por: Marcos Aurélio Chagas.

Se é para sermos honestos, reconhecer as imprecisões de nossas incredulidades é fundamental, nos dias que antecederam o WSL Finals, mais uma vez, muito se especulou sobre o modelo da decisão, aqui na Vision esse mesmo colunista fez uma análise que em sua grande maioria se confirmou, contudo, ficou claro o quanto errado eu estava quando disse: “Quais as chances reais de 5º e 4º colocados vencerem o título? Eu diria, apesar de não ser impossível, as chances são mínimas!”, bem, Ítalo Ferreira e sobretudo Stephanie Gilmore, mostraram o quanto eu estava errado.

Stephanie Gilmore - Foto: Pat Nolan

Ver Stephanie conquistar seu oitavo título mundial, quando o mundo e mais precisamente eu mesmo duvidei que ela pudesse alcançar, sobre tudo neste formato, foi um tapa de luva de pelica na inteligência “artificial” que supomos ter em nossas análises. Como diria meu amigo Gaspare Junior, que uma vez me metralhou em um dos programas da Vision ao dizer: “Retrospecto não entra na água”, sim, é verdade, o retrospecto de Ítalo Ferreira e Stephanie Gilmore com relação ao WSL Finals 2021, não entrou na água em 2022.


Stephanie Gilmore - Foto: Beatriz Ryder

Surfar desde a quinta posição parecia uma missão impossível, no ano passado, Steph estava em uma situação semelhante e vacilou no primeiro obstáculo, Ítalo, chegou com a segunda colocação em Trestles e saiu de lá com a terceira posição. Nada como um dia atrás do outro para nos mostrar que, no surfe, observações, estatísticas e probabilidades precisam considerar não apenas a possibilidade de cada um, mas sim a possibilidade de cada um, de acordo com o dia de cada um, vamos combinar, Kanoa, Ethan, Jack, Johanne e Carissa não foram nem de longe o rascunho dos surfistas que tinham sido por toda a temporada, se isso beneficiou Ítalo ou Steph eu não sei, tudo que sei é que eles surfaram desde a primeira até última bateria em alta performance, esbanjando energia, gana e confiança.

No ano passado Carissa e Gabriel chegaram líderes e saíram de lá campeões, este ano, Ítalo e Stephanie vieram desde a última bateria até a bateria final, no caso de Steph, vencendo o titulo, mesmo terminando com onze mil pontos no total a menos que Carissa. Depois de termos visto todo o caminho que Steph percorreu, vencendo com propriedade a líder por duas vezes, podemos dizer que o título de Steph foi injusto? Não sei vocês, mas eu acho que não!

Stephanie Gilmore - Foto: Pat Nolan

O oitavo título de Stephanie Gilmore, apenas mostrou ao mundo que uma rainha jamais pode ser subjugada, por mais perdida que aparente estar, se uma mínima luz aparecer, ela encontrará o caminho, e Steph fez isso com todo o estilo, brio e coragem que se tornaram marca registrada em sua carreira.

Inesperadamente, no início deste ano Steph teve que lutar para garantir que não fosse vítima do novo e mais repulsivo recurso da WSL, o tal corte no meio do ano. Depois de não competir em Pipeline em virtude da COVID e ir mal em Sunset, Steph se viu imersa na possibilidade de ser cortada, ela se livrou deste fantasma com uma semifinal em Portugal e duas quartas, Bells e Margaret, o grande momento de seu ano foi a vitória em Punta Rocas, El Salvador, uma onda que muitos chamam de Trestles com água quente, essa vitória foi certamente a responsável por Steph se classificar para as finais.

Stephanie Gilmore não teria chance de título no formato anterior, das cinco ela foi a única que estava longe demais para conseguir os pontos necessários para ultrapassar a líder Carissa, então o destino lhe colocou em outra missão, desta vez quase impossível, ela foi confrontada a lidar com o desafio de vencer cinco baterias em seis horas, seria possível isso?


Steph - Foto: Beatriz Ryder

Na bateria contra Brisa Hennessey, por um momento a tensão divagava no rosto de Steph, até ela conseguir a prioridade faltando um pouco mais de um minuto para terminar a bateria, e surfar aquela que pode ter sido a onda mais importante do seu ano, com velocidade, potência e muita elegância, Stephanie mudou a história do seu ano e consequentemente, de sua carreira, virando uma bateria que minutos antes parecia estar perdida. Ao surfar contra Tati, Steph se deparou com sua adversária mais ameaçadora, quando se viu atrás no placar, ela teve o comprometimento de inovar com um “club sandwich”, um movimento tão ousado quanto sua decisão de vencer o título tendo saindo da última posição. “Tenho que ser mais progressiva no meu surf. Isso é um fato”, disse Steph após a bateria, justificando sua manobra a Laura Enever, sem nenhuma intenção de dissimular seu jogo.


Steph - Foto: Pat Nolan

Ao chegar cada vez mais perto da final, em tese, Steph teria mais dificuldades, mas com a autoridade de quem não deu chance a nenhuma adversária anterior, Steph venceu uma das melhores competidoras, se não a melhor competidora da atualidade, a francesa e vice líder do ranking Johanne Defay. Com essa vitória a aussie saiu da descrença do título para o fervor do favoritismo em questão de algumas poucas horas, apesar de ainda ter que enfrentar a mais magnífica surfista dos últimos anos, a pentacampeã Carissa Moore, aquela que poderia chegar ao sexto título, se aproximando perigosamente dos sete títulos da própria Steph, a confiança construída desde a virada nos segundos finais sobre Brisa Hennessy e confirmada na execução da manobra mais inovadora do dia entre homens e mulheres, já nos dizia que Stephanie Gilmore selaria ali o seu destino de melhor surfista da história.


Carissa Moore - Foto: Pat Nolan

Enquanto Carissa buscava alternativas para tentar fabricar um ritmo que ela não conseguia encontrar, Steph não tinha nenhuma fantasia sobre o desafio que ainda tinha pela frente, vale lembrar que, no ano passado Carissa havia perdido o primeiro confronto contra Tati, mas virou o jogo nas baterias seguintes. Para se preservar, Steph construía seu escudo de defesa através de grandes apresentações que visivelmente mexeram com o psicológico de Carissa, isso ficou claro na expressão corporal que a havaiana imprimia.

Faltando doze minutos para o fim da segunda bateria, entrou uma onda complicada, com pouco espaço, visivelmente com seções apertadas. Kelly, a versão masculina de Steph, na cabine de transmissão, parecia conseguir ler o que passava na cabeça dela, ele disse: “Sinto o que ela está pensando: Essa pode ser minha onda do título”, bem, Kelly não é Steph, mas de fato aquela foi a onda que abriu para Stephanie a porta para seu oitavo título, ela fez curvas perfeitas extraindo da onda uma nota acima de seu potencial, 8.23. A três minutos para o fim, Carissa perdeu a prioridade ao remar e não entrar, Steph aproveitou a oportunidade e mandou um reverse, sempre com seu sorriso matador no rosto, se consolidando isoladamente na história do surfe como a maior de todos os tempos.

A Rainha Stephanie Gilmore - Foto: Beatriz Ryder

Carissa teve a oportunidade por duas vezes de se aproximar visceralmente de Steph, mas no confronto direto, a australiana não permitiu, não apenas isso, ela se distanciou ainda mais de Carissa, tudo estava escrito para o resultado final daquele dia ser 7 a 6, mas Stephanie Gilmore resolveu que seria 8 a 5, calando os incrédulos que achavam que mais um título estava além de suas possibilidades, um desses incrédulos era eu. Definitivamente, o WSL Finals pode até não ser justo, mas a rainha Stephanie Gilmore nos apresentou a um dos campeonatos mais inovadores dos últimos tempos, a melhor surfista do ano acabou não vencendo, mas alguém duvida que depois desse desfile de superioridade Stephanie Gilmore merecesse ser a campeã mundial? Acho que nem Carissa!

Enquanto o mundo compadecia com a perda da mais longeva rainha do Reino Unido, nas águas californianas, uma de suas súditas, erguia-se como a mais incontestável rainha das ondas, seu nome? Vossa Majestade Stephanie Gilmore, The Queen.

Indiscutivelmente Stephanie Gilmore é a maior surfista da história, como todo súdito, é hora de dizer: God Save The Queen.





131 visualizações0 comentário

Comments


LOGO-VISION-WHITE.png
O foco da Vision é a Liga Mundial de Surf.
Atletas, ex-atletas e surfistas que em algum momento tenham vestido uma lycra de competição terão espaço em nossas pautas, somos uma mídia opinativa, contudo isenta.
Sejam bem vindos. Aloha! 

© 2020 por Vision Surf | Todos os direitos reservados. 

bottom of page