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Na batalha entre o estilo e a polidez a progressividade de Yago vence em Saquarema.

Atualizado: 2 de jul. de 2023

Por: Marcos Aurélio Chagas

A WSL tem tido um certo azar com relação as suas janelas este ano, em quase todas as etapas, os mares na semana anterior ao evento estavam bombando, mas no período da janela nem tanto, isso foi muito visível em El Salvador e em Saquarema, mas aconteceu também em outras paradas.

Jadson André - Foto: Daniel Smorigo

A competição começou, parecia que Griffin Colapinto havia se distanciado das performances inconsistentes das temporadas passadas, até Jadson Andre lhe fatiar no Elimination Round, porém, o então líder do ranking, não foi o único nome de peso a despencar do alto, o outro wildcard, Samuel Pupo, empurrou o tricampeão mundial Gabriel Medina, que parecia surfar com uma prancha com menos volume que as habituais, para fora dos TOP5, impondo a Gabriel a incerteza sobre o WSL Finals. No início do ano, de todos os surfistas do Tour, nenhum parecia mais seguro para uma colocação entre TOP5 do que Jack Robinson, ele venceu Pipe, foi terceiro colocado em Sunset e vice-campeão em Portugal, mas depois de sua lesão, Robbo fez uma sequência de 17ªs colocações, sendo assim também em Saquerema, agora, ele encontra-se distante dos “finals five”, olhando para o futuro e desejando que J-bay tenha grandes faces e Teahupoo esteja quadrado, para assim, ter maiores chances de voltar aos cinco, contudo, Jack Robinson é um cara capaz de vencer um título mundial em Teahupoo, mas não podemos dizer o mesmo sobre Trestles. O mesmo raciocínio para voltar aos cinco cabe também para Gabriel Medina, mas diferente de Jack, Gabe pode vencer em qualquer um dos picos, o tricampeonato dele aliás, foi na valinha de Trestles.

Jadson Andre e Samuel Pupo tiveram atuações admiráveis, Jadson derrubou o líder do ranking por duas vezes, primeiro Griffin, depois Filipe, o ubatubense havia avançado matematicamente para a liderança quando encontrou Jadson. Samuel, parou a grandeza de Gabriel Medina e o local chefe da “porra toda” no CT de Saquarema, o filho do Chumbão e irmão do chumbo, ninguém menos que João Chumbinho. Parabéns Jady e Samuca.


Ryan Callinan - Foto: Daniel Smorigo

O dia final entrou na água com Ryan Callinan soltando todo o surfe que na maioria do tempo fica reprimido, o protagonismo que Samuel havia conseguido no dia anterior, não foi suficiente para parar Callinan, que perdeu no round seguinte para a eficiente beleza do surfe de Ethan Ewing, Jadson também encerrava sua participação ao encarar Yago Dora, o mais refinado e envolvente estilo entre os goofys. Ethan e Yago, interromperam a impetuosidade dos convidados em apresentações irrefutáveis, que devaneavam sobre as obviedades do dia.


John John Florence - Foto: Daniel Smorigo

John John parece recuperar seu melhor surfe todas as vezes que pisa em solos tupiniquins, o bicampeão já havia feito a maior soma do evento no oppening round, 15.67, hoje, em uma bateria apertada, ele fez seu segundo melhor score no evento, contra o conterrâneo Barron Mamiya, somando 15.43. Barron é um surfista bem mais ou menos para nível de CT, dito isso, apesar de estar longe do nível dos caras que passaram o corte, ele também tem seus dias, e hoje foi um deles, Barron apertou John John e fez um somatório de 15.34, caindo em Saquarema nas quartas de final por muito pouco, confesso ter ficado aliviado, um mediano motivado entra na cabeça dos bons.

Na primeira semifinal, um confronto 100% australiano entrou na água, Ryan Callinan que tinha feito uma bateria irrepreensível contra Samuel Pupo, não conseguiu imprimir o mesmo ritmo de Ethan, que acabou fazendo o maior somatório do dia, 15.50, ainda bem que foi na semifinal.

John John, que de mediano não tem absolutamente nada, não conseguiu se encontrar no confronto seguinte, ele e Yago tateavam na bateria para não desperdiçarem as poucas oportunidades que o mar dava naquele momento, melhor para Yago. Quando as condições do beach break são de beach break, é difícil parar um brasileiro, além de todo o potencial de seu surfe, Yago tinha a sua frente a oportunidade de fazer a primeira final de sua carreira, surfando com a cabeça no livro de regras do Grilão, pela primeira vez vi em Yago, o competidor se sobrepor ao surfista, ele tateava para se posicionar mas fazia um surfe seguro quando achava as ondas, Yago trabalhou um surfe de linha em toda a bateria, variando os carvins entre laybacks, rasgadas e cutbacks, sempre cravando a borda, invertendo a direção, e quando oportuno, desgarrando a rabeta, Yago fez o que as condições pedia, Yago fez o que o surfe pedia, Yago fez o que um competidor maduro faria, sempre à frente no placar, o brasileiro surfou o necessário para avançar sobre John John, pela segunda vez em Saquarema, a primeira havia sido em 2017 quando Yago foi um dos wildcards da etapa, agora, como membro da elite e há poucos minutos de uma final, o amadurecido Yago, não desperdiçou a chance. #VaiYago.


Caitlin Simmers - Foto: Daniel Smorigo

Caitlin Simmers, é a personificação do protagonismo no surfe feminino se projetarmos um futuro próximo, quando Steph, Carissa e Tyler pararem, o surfe estará em boas mãos, mas mesmo antes disso, a garota vem impondo às campeãs duras batalhas, apenas hoje, ela derreteu com certa facilidade o favoritismo e a imponência de sete títulos mundiais, a jovem de 17 anos venceu a soberania dos cinco títulos de Carissa Moore na semifinal e a força dos dois títulos de vossa majestade Tyler Wright, a rainha soberana da família real do surfe australiano. Caitin venceu pela segunda vez no ano, certamente veremos essa cena se repetir muitas e muitas vezes pela próxima década.


Quando Yago e Ethan entraram na água, entrou uma combinação de fatores suficientemente robusta para ter nossa máxima atenção. Muitas gerações de surfistas foram desenhadas pela elegância, lembro-me de admirar nas fotos e nos filmes a beleza sutil do Rei de todas as Majestades, do ídolo de todos os ídolos, do mestre de todos os mestres, Tom Crurren, ao vê-lo desfilando sobre as linhas de J-Bay, Bells e Hossegor. Vi com os pés na areia da praia nomes como Brad Gerlach, Taylor Knox, Rob Machado, Andy Irons, Joel Parkinson e Mick Fanning, donos de notáveis harmonias em seus movimentos e de linhas limpas que definem com exatidão o melhor significado da palavra estilo. No surfe de hoje, ninguém pode definir melhor essa palavra do que a dupla Ethan Ewing e Yago Dora, como é encantador ver esses caras surfando.


A beleza do surfe de Yago e Ethan, não é o único fator que torna este, um confronto especial, eles têm entre si uma força motora que gera uma energia campeã. Ano passado Yago e Ethan fizeram uma das melhores baterias em Jeffreys Bay, Ethan venceu por uma diferença mínima, avançando para sua primeira final e primeira vitória no tour, o esforço para derrotar Yago obrigou Ethan a fazer a maior pontuação dele naquela competição, 17.04. Hoje, em um mar com menos possibilidades, Yago não fez sua melhor soma para vencer o aussie, mas foi obrigado a fazer a melhor nota de sua carreira para vencer Ethan e seu primeiro evento de CT, hoje foi um dia especial para o surfe brasileiro, um dia que não deixaremos para trás.

Yago Dora - Foto: Daniel Smorigo

Ethan não ofereceu a mesma resistência que Yago havia lhe oferecido nas semifinais de J-Bay, Ethan é borda, é classe, é progressividade, mas não é aerialista, ao contrário de J-Bay, uma onda longa onde cabe abordagens diferentes em seções diferentes, em Itaúna, nas condições de hoje, quem achasse a melhor rampa, definiria o confronto. Yago entrou em uma onda que 90% dos surfistas do tour não entrariam, dos gringos talvez apenas o Griffin tivesse a impetuosidade de encaixar a remada e dropar em uma onda que oferecia tão pouco espaço, Yago viu naquela parede curta a possibilidade real de vitória, grandes vitórias, são feitas de grandes feitos. Sem titubear Yago dropou com uma parede mínima a ser explorada, simplesmente seguiu o fluxo do trilho em direção a uma junção com a força necessária para lhe impulsionar ao destino de um fullrotation limpo, com pouso no zero, e, sem nenhuma dúvida, para a inédita nota 10, o primeiro 10 veio junto com a primeira vitória, uma vitória esperada há muito tempo, uma vitória que certamente abrirá a porteira para outras, Yago foi Yago, o surfe foi o surfe e o Brasil foi o Brasil. Com Gabriel, Filipe e Ítalo, os principais nomes fora, Yago mostrou mais uma vez ao mundo que nosso exército é o melhor, ele defendeu de forma maiúscula a soberania de nossas águas contra os ataques de outras nações.

Com a vitória, Yago saiu da 12ª para a 5ª posição do ranking, suas chances de se manter nesse grupo são grandes, ele surfa J-Bay como poucos e já teve boas atuações em Teahupoo, contudo a briga não será nada fácil, dois campeões mundiais estão na sua cola, John John e Gabriel, com as 6ª e 7ª colocações respectivamente. Veja aqui o ranking masculino e aqui o ranking feminino.


Filipe Toledo - Foto: Thiago Diz

Filipe Toledo, o maior vencedor em Saquarema, se machucou, mas não parece ser nada sério, Filipe informou que fez uma ressonância magnética e essa ressonância revelou uma pequena ruptura na cartilagem, mas nenhum dano no ligamento, o que significa que nenhuma cirurgia será necessária, uma combinação de fisioterapia e remédios deve ser suficiente para vê-lo de volta em J-Bay.


Além da vitória de Yago, Saquarema nos reservou outras boas novidades, Erik Logan, CEO da WSL, deixou o comando da entidade sem que soubéssemos exatamente o que aconteceu, ao menos que eu tenha perdido esse momento, as equipes de transmissão, não fizeram um mínimo comentário ou referência sobre a saída de Logan. Francamente, Logan não é alguém que vá deixar saudades, em uma temporada onde quase todos os eventos tiveram ondas inferiores às suas possibilidades, Logan poderia ter lidado melhor com aquele que traz igualdade a disputa, o Rancho. Quando Gabriel Medina, o maior surfista em atividade, reclamou do julgamento desarmonizado do Rancho, apoiado por outros grandes nomes nacionais e internacionais, Logan deu uma resposta arrogantemente infantil, o que parece ter piorado tudo, cartolas vão e vem, surfistas são patrimônios da WSL. Muito rapidamente Logan parece ter sentido o peso de sua infantilidade, ele tentou remendar sua imagem quebrada em Saquarema, ao comentar ao vivo que havia uma boa possibilidade de ver quatro brasileiros no WSL Finals, ele tentou ser simpático no país que tem os melhores surfistas, o evento de melhor estrutura e que oferta uma das maiores receitas de patrocínio para a WSL, contudo, Logan fez alguns movimentos arriscados no comando da entidade, com a fixação de popularizar o esporte, mesmo contra a opinião da maioria absoluta dos surfistas, sob seu comando a WSL promoveu o WSL Finals e o ofensivo corte, mesmo com o mundo do esporte contra essas decisões, Logan bancou as mudanças, trazendo para o mundo do surfe sua visão de ex-presidente da companhia de Oprah Winfrey.

Com a saída de Logan, penso que Kelly Slater seria o melhor nome para tocar a entidade, afinal, ninguém contribuiu mais para a evolução do surfe do que o GOAT, contudo, parece que Kelly está mais preocupado em encontrar alternativas para surfar as olimpíadas em Teahupoo, vamos aguardar para ver quem será o próximo CEO do surfe. Espero que eles não estejam mais uma vez procurando alguém que queira transformar o surfe em um reality show que esquece o poder e a essência do esporte, e potencializa a infantilidade de seu público com perguntas do tipo: “Você prefere açaí ou churrasco”?

Eu prefiro o surfe, sempre.

Até J-Bay!





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