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Depois de anos de resultados irrisórios, Ítalo não precisou vencer para ser o campeão no Surf Ranch.


Por: Marcos Aurélio Chagas

Lemoore certamente não está no itinerário de férias de ninguém, mas Kelly nunca se importou com isso, criando o destino que não existia, com essa visão, o GOAT fez a WSL viajar para o deserto da Califórnia por mais uma vez, pela quarta vez, para realizar uma etapa do Championship Tour no Surf Ranch.

A piscina de Kelly é uma competição necessária, ela é “justa”, e atenção, não confundam a onda, com os juízes. Em um circuito cheio de pontos fortes para uns e dificuldades para outros, a piscina é o que é. Igualdade! Vemos nos mais diferentes mares do mundo, condições que potencializam o surfe de uns, e nem tanto assim, o de outros, na piscina isso não existe, as condições são iguais para todos, e condições iguais para todos, expõem feridas abertas que geralmente o sal cicatriza.

Jack Robinson veio para o Brasil tratar sua contusão, Robinson, que é excelente surfista em ondas pesadas, tipo de onda que naturalmente dá uma amplitude maior a qualquer manobra completada, na valinha da piscina, o aussie expôs sua maior deficiência, os carvins curtos, o surfista que ocupava a terceira posição do ranking, que é o preferido de alguns para acabar com a dinastia brasileira no circuito mundial, na água doce, foi o primeiro a cair. Apesar de sua atual envergadura de World Title Contender, Jack Robinson nem de longe foi o nome de maior peso a cair na piscina no primeiro dia.

Kelly Slater - Foto: Pat Nolan

Em quatro anos, a WSL conseguiu fazer quatro formatos diferentes de competição na piscina, esse ano, rolou uma repescagem chamada “Night Session”, como o próprio nome diz, uma seção noturna. Apesar de todo mundo sempre esperar alguma coisa de um sábado à noite, Kelly Slater, alguém que havia voltado do mundo perdido do corte, inventor da engenhoca surfavel que nasce da passagem do trem, não conseguiu absolutamente nada na “Night Session”, a realidade vem se impondo duramente para o maior surfista da história, Kelly não percebeu que o “trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon”, e como diria um Maluco Beleza, o surfe vem berrando para ele, “Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais”, mas Kelly parece ignorar as mensagens e também sua história, sem considerar suas limitações impostas pelo tempo, o GOAT colocou ainda mais peso na balança dos eliminados. Juntando-se a Kelly e Rôbo, o bicampeão mundial John John Florence e o eterno futuro campeão mundial Jordy Smith, terminaram o sábado à noite esperando que tudo pudesse mudar, mas não mudou.

Gabriel Medina - Foto: Aaron Hughes

O que mudou de fato esse ano, foi o domínio de Gabriel Medina e Filipe Toledo, Gabriel, vencedor do evento teste da piscina e de dois eventos consecutivos validos pelo CT, este ano, nem de longe foi o cara que costumava ser no Surf Ranch, ele fez este ano, suas piores apresentações na onda do tio Kelly, tudo bem, aquele 9.07 do Ethan foi um “pouquinho puxado” assim como o 7.60 pareceu uma nota calculada para um fim especifico, sim, a sensação foi de que, pela enésima vez tiraram o tricampeão na canetada, desta vez, Gabriel se posicionou fortemente em suas redes, exigindo que a WSL esclareça seus critérios de julgamento, contudo, há 11 temporadas é assim, se Gabriel não for absoluto, ele perde, a isso, antes mesmo de Gabriel, deram o nome de subjetividade, porém, de vez em quando, as subjetividades também acontecem com os gringos, Ethan passou uma bateria muito subjetiva contra Gabriel e perdeu uma bateria subjetiva contra Ítalo, sejamos justos, a esquerda que deram para Ethan 7.33, poderia ser um pouco maior, a subjetividade existe para todos, apesar de ser claro um maior volume para os brasileiros, mas a coisa fica feia realmente, quando deixa de ser subjetiva e passa para o campo do delírio subjetivo, e isso aconteceu ontem, a vítima desse delírio coletivo do julgamento tem nome e sobrenome, Ítalo Ferreira! Em uma piscina onde as ondas parecem vir de uma linha de montagem, ou de uma mesma fôrma, não cabe a subjetividade que caberia no mar, onde ondas diferentes proporcionam visões diferentes, ontem, o que aconteceu com Ítalo, foi vergonhoso.


Carissa Moore - Foto: Aaron Hughes

Antes de falar da final masculina, Carissa Moore mostrou que está pronta para seu sexto título mundial, ela foi absolutamente dominante, com a vitória no Rancho, a havaiana abriu uma vantagem imensa para Tyler Wright, a vice-líder, a esta altura da competição é pouco provável que Carissa dê chances a alguma competidora de tomar sua posição de liderança, em um campeonato decidido em confrontos diretos, chegar líder no Finals é metade do título nas mãos, apesar do ano passado Steph ter roubado a metade do título dela, a havaiana está mostrando na água que não está afim de deixar acontecer este ano, o que aconteceu o ano passado, Carissa tratou de acelerar seu passo e escovar Caroline Marks, ela foi visivelmente superior para os dois lados, sem surpresas ou subjetividades, ela venceu de forma maiúscula.

Ítalo Ferreira - Foto: Pat Nolan

Voltando a final masculina, primeiro é preciso dizer que Ítalo se superou drasticamente, nos três anos anteriores, seu melhor resultado na piscina foi uma nona colocação, sempre em virtude de seu back side poderosíssimo, ele ia muito bem na direita mas patinava com sua ansiedade na esquerda, para mudar isso, ele trabalhou dias e dias nas esquerdas das Mentawai, para chegar na piscina e alcançar o resultado desejado, e se não fossem os juízes, ele teria conseguido.


Griffin Colapinto - Foto: Aaron Hughes

É inegável, Griffin Colapinto é um surfista completo, é importante, Griffin fez a parte que lhe cabe no jogo, surfou muito bem, o americano variou, fez bons tubos com belíssimas aproximações, colocou a borda onde a onda pedia, desgarrou a rabeta como se nem rabeta existisse, e para finalizar, suas notas foram justas, o que aconteceu ontem, não tem absolutamente nada a ver com Griffin, o que aconteceu ontem tem a ver com a incapacidade que a WSL tem de lidar com o fato de os brasileiros serem os melhores surfistas do mundo em qualquer perfil de onda, há tempos.

Desde que a ASP vendeu o surfe para o grupo do amigo do Kelly, o Dirk Ziff, mudanças elementares aconteceram no esporte, para melhor e para pior. Melhores premiações e melhores transmissões com mais informações, estão na conta dos benefícios, corte, mudança no formato e as suspeitas de manipulação de alguns resultados, entram na cota do que piorou. No quesito resultado, ninguém parece ter sido mais prejudicado na era WSL do que Gabriel Medina, em minha visão, a “derrota” de Gabriel para Tanner Gudauskas em Trestles 2016, tinha sido o maior exemplo daquilo que nos acostumamos a chamar de subjetividade ou até mesmo erro de julgamento, mas que na real, parecem mais, tentativas de brecar o ímpeto competitivo e psicológico do surfista, mas ontem, o que aconteceu com Ítalo, se colocado em uma escala, supera em muito o “erro” cometido contra Gabriel em Trestles.

Ítalo Ferreira, surfou sua segunda direita da final abusando de velocidade e precisão, o brasileiro aplicou quatro pancadas verticais invertendo a direção e variando os movimentos, antes de se colocar dentro de um dos mais longos tubos do evento, depois daquela estolada modo “Tom Carroll”, ao sair, Ítalo aplicou outra sequência de batidas em altíssima velocidade, para preparar seu segundo tubo com um reverse que os gringos gostam de chamar de nose pick, mais uma vez ele ficou deep, e ao sair do tubo, aplicou um back side air reverse para finalizar a onda, olhando para os juizes como quem perguntava: O que mais vocês querem?

Ítalo Ferreira - Foto: Aaron Hughes

Ítalo variou nas manobras de borda e batidas, variou na progressividade com um nose pick e um air reverse, variou na preparação dos tubos, fez um dos tubos mais longos da competição, e quando todos aguardavam a maior nota do dia, aquilo que poderia ser o mais próximo possível do 10, ouvimos um ensurdecedor 8.43, ora, se a onda bem surfada do Griffin tinha sido 9.07, a de Ítalo, pela velocidade, variação na borda e aplicação do progressivo duas vezes na mesma onda, teria que ser ao menos meio ponto acima do Griffin, mas parece que voltamos à época onde o número de manobras, era mais importante do que o grau de dificuldade, Será que voltamos a isso?

Durante toda a competição fomos obrigados a ouvir Strider dar dimensões superlativas para manobras ou ondas que não tinham muita coisa de “super”, fico me perguntando se os juízes ouviam a narração do Strider para aferirem suas notas, colocando aquilo que realmente era super, no mesmo balaio do comum?

A WSL voluntariamente ou involuntariamente, juro que não sei dizer, alcançou ontem, aquilo que particularmente eu considero seu maior nível de incapacidade de julgamento nos oito anos em que a entidade administra o surfe, é preciso se indignar, porque a indiferença aceita a mediocridade. Parabéns para Griffin, surfou muito, parabéns para Gabriel, que teve a coragem de criticar a WSL em suas redes, certamente essa postagem vai gerar muito debate, e sobretudo, parabéns para o Brabo Ítalo Ferreira, que não precisou ser o vencedor oficial para vencer de verdade.

Apesar das tentativas, nem sempre o vento apaga o fogo, muitas vezes incendeia, a WSL parece viver planejado o improviso, resta ao time brasileiro não improvisar no planejado, ainda faltam quatro etapas para colocarmos quatro surfistas no WSL Finals, apesar do aparente esforço para que isso não aconteça, as probabilidades são muitas.

Veja aqui o ranking masculino e aqui o ranking feminino depois do Surf Ranch.

Sem mais!






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