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Foto do escritorRedação | Vision Surf |

Em dia de Ethan e Tyler o grande protagonista foi o julgamento.

Por: Marcos Aurélio Chagas.

Bells começou sem perspectivas de boas ondas, terminando de fato, sem boas ondas. Confesso que foi uma etapa um pouco enfadonha para assistir, mas confrontos pontuais salvaram a transmissão.

Tom Curren e Mark Occhilupo - Ed Sloane

Tom Curren e Mark Occhilupo proporcionaram para mim o melhor momento do evento, quando você vê lendas como esses dois na água, você percebe o quanto alguns surfistas podem transformar o surfe em uma obra de arte, as ondas para esses caras são como uma tela em branco onde eles pintam todos os espaços, a cada onda surfada uma nova obra é eternizada. Simplicidade, tranquilidade, elegância e beleza são os elementos presentes nas obras de Curren, força, agressividade, elegância e sutileza criam uma combinação que seria de características contraditórias para qualquer um, não para alguém que passou a vida sendo comparado a um “touro indomável”, para Occy, essa contradição é uma marca registrada de seu surfe, ou se preferir, de sua arte. Uma obra de arte fica ainda mais valiosa com o passar do tempo, o que faz de Tom Curren e Mark Occhilupo patrimônios inestimáveis para o surfe.

Tom Curren - Beatriz Ryder

Curren em sua primeira manobra aplicou sua batida característica, com a perna da frente reta, como quem sutilmente quer mandar a onda de volta para o oceano, em todo o resto, ele encantou apresentando aquilo que há mais de 40 anos é reconhecido como o estilo mais bonito que já se viu sobre uma prancha. Occy, nos hipnotizou com seu botton de back com mão na borda, algo que ninguém consegue fazer com tamanha perfeição, harmonia e contradição, Occy nos hipnotizou com sua verticalidade, Occy nos hipnotizou simplesmente porque é Occy, no duelo da elegância contra a força, venceu Marco Jay Luciano Occhilupo, mas os grandes vencedores fomos nós, por termos a oportunidade de ver dois dos maiores patrimônios do surfe na água, ponto para a WSL. Veja aqui Curren e Occy.


Ethan Ewing - Ed Sloane

O dia final começou com Gabriel surfando duas ou três ondas ruins, antes de Ethan aplicar sua borda matadora. Enquanto o tricampeão somava 7.10 com duas ondas, Ethan com seus movimentos harmônicos, cirúrgicos e quase imperceptíveis em sua radicalidade, em apenas uma onda fez 7.50, deixando Gabriel sozinho lá fora com a prioridade, surpreendentemente o brasileiro remou na primeira onda que entrou, uma onda espumada e sem muito potencial, há tempos atrás ver Gabriel remando nesse tipo de onda não seria uma preocupação, nós sabíamos que o champ faria algo perto de um highscore, mas esse ano não, as coisas mudaram e Gabriel já não nos passa mais essa segurança, certamente momentaneamente, mas a realidade do momento é essa, Gabriel surfou mal, caiu na finalização, e mesmo com a prioridade nas mãos do brasileiro, Ethan agradeceu por sua inquietude. Com estratégias diferentes, Gabriel apostou sem sucesso nos aéreos, enquanto Ethan insistia em colocar a borda milimetricamente onde a onda pedia, melhor para o australiano, para mim, o melhor deles, já Gabriel, ficou nas oitavas de final na quarta etapa do ano, pela quarta vez no ano.


Michael Rodrigues - Ed Sloane

Quando alguém que nunca venceu uma etapa entra no mar contra um bicampeão, obviamente ele já entra com a mente programada para se superar, e isso aconteceu com Michael Rodrigues, ele buscou essa superação a todo momento contra John John, dominando a bateria por dois terços do tempo. Surfando uma onda atrás da outra, MRod só tinha o ataque como opção, o ataque é a única arma de Davi, já que Golias, apenas por seu tamanho, já é o favorito. Michel fez seu melhor surfe no ano, mas John John acordou e em cinco minutos mudou toda a história da bateria, mostrando porque é bicampeão mundial. John John venceu e Michael caiu de pé.

Filipe Toledo - Ed Sloane

Filipe foi o personagem do dia final, com seu repertório progressivo o brasileiro enfrentava o encrespado mas nem tanto progressivo assim Jackson Baker, como bom engenheiro do caos, o australiano finalizou sua bateria com uma boa onda, a primeira manobra passando, a segunda invertendo, porém uma manobra curta, finalizando bem na junção, cairia bem um 7.00 ou até um 7.5, nada além disso, já que Baker não variou, não aplicou o progressivo e mesmo tendo finalizado bem, com uma estética bonita, finalizou com fundo de prancha. Baker recebeu dos juízes 9.00 pontos por essa onda, uma pontuação quase perfeita para uma onda que passou há uma grande distância da perfeição, essa onda seria um combo para confundir distraídos, mas me pergunto: O quão distraídos ou mentalmente cansados estavam os juízes para retribuir tão generosamente o australiano? Provavelmente pouco, já que o dia competitivo não tinha chegado nem na metade ainda, mas se os segundos finais não reservassem mais uma onda para Filipe, o brasileiro que aplicou a progressividade e variou toda a bateria, teria perdido um confronto onde além de aplicar o critério, foi visivelmente superior. De tempos em tempos a WSL comete erros tão visíveis de julgamento que, ao observar a linha do tempo, dá para ver um “museu de grandes novidades”.

Ryan Callinan - Ed Sloane

Griffin venceu sua batalha interna contra Kanoa Igarashi, colocando San Clemente à frente de Huntington Beach na rivalidade sul-californiana reverberada pelos holofotes da Liga Mundial, mas o talentoso, porém sumido Ryan Callinan, resolveu aparecer justamente na etapa onde um bom desempenho goofy é quase um acontecimento inesperado, levando em consideração que, Gabriel, Ítalo e Yago são goofys e ficaram pelo meio do caminho, Ryan Callinan não apenas venceu Griffin, como venceu também as probabilidades contrarias ao seu protagonismo dentre esses nomes. Com velocidade, verticalidade e força, Callinan eliminou Griffin, o detentor da melhor nota da competição, depois o goofy eliminou também o bicampeão mundial e vencedor de Bells em 2019, o havaiano John John Florence, para na sequencia encontrar na final Ethan Ewing, que havia vencido Filipe, o atual defensor do sino, com um 8.43 tão questionável quanto o 9.00 de Jackson Baker. Nada foi mais lógico em Bells 2023 do que a adoração ao erro de julgamento, que coincidentemente se davam sempre contra os adversários de Filipe, confesso que não via isso há tempos.

Na final feminina a veterana Tyler Wright venceu Bells pela segunda vez, ela enfrentou uma surfista da novíssima geração, a líder isolada do ranking Molly Picklum, apesar de Tyler ter feito uma boa pontuação, o mar não oferecia grandes oportunidade para protagonismos, a disputa foi justa, mas sem muito brilho, com a vitória Tyler está chegando, ela já ocupa a vice liderança do ranking.

Ethan Ewing - Ed Sloane

Com a vitória de Ethan sobre Filipe, Ethan e Ryan faziam a primeira final australiana masculina desde 2014, naquele ano, Mick venceu Taj em um mar não muito maior, mas muito melhor que Bells 2023, o regular Ethan que no caminho para a final havia vencido Gabriel Medina e Filipe Toledo, abriu o confronto com duas ondas na casa de cinco pontos, enquanto o goofy Callinan, mesmo mantendo a prioridade na maior parte do tempo, não conseguia se encontrar no difícil lineup de Bells, a falta de lips dificultava a verticalidade e a progressividade que um goofy precisa apresentar naquele perfil de onda, facilitando a vida do regular, que se beneficia pelo fato de poder usar a borda com mais facilidade, no jogo de borda, quem surfa de frente para a onda tem sempre vantagem, Ethan não precisou de muito, nem de notas duvidosas para ser o melhor na grande final, o australiano que havia vencido pela primeira vez em uma onda icônica, no ano passado em J-bay, venceu mais uma vez em uma onda tão ou mais icônica quanto a joia do índico, escrevendo seu nome no sino da mais tradicional etapa do tour, onde sua mãe já havia colocado seu nome no passado, Ethan venceu em Bells, se posicionando onde seu surfe merece está, entre os Top Five.

Na outra ponta do ranking, nomes como Ezekiel Lau, Carlos Muñoz, Kolohe Andino e Jack Marshall, precisam chegar minimamente entre as semifinais para não caírem, não acredito que eles consigam, dentre esses caras ninguém tem a mente suficientemente forte para vencer essa pressão, se olharmos para o retrospecto, pelo fato de já ter feito final em Margaret, talvez Kolohe tivesse um pouco de chances, mas acho realmente difícil. A porta da queda está aberta para nomes um pouco abaixo e um pouco acima da linha do corte, Kelly Slater, Miguel e Samuel Pupo, Ítalo Ferreira, Kanoa Igarashi, Michael Rodrigues e Barrom Mamiya são os nomes mais expressivos dessa zona nebulosa, Margaret vai decidir quem vive e quem morre nessa máquina de matadores de sonhos que virou o corte no meio do ano.

João Chianca - Beatriz Rider

Com a vitória em Bells, Ethan sobe para a quarta posição do ranking, o brasileiro João Chianca, mesmo perdendo nas oitavas de final para o sul-africano Matthew McGillivray, após a derrota de Filipe Toledo, confirmou-se como líder do ranking, ele vai surfar a etapa de Margaret River com a lycra amarela pela primeira vez. Ano passado, Chumbinho chegava em Margaret com o risco de corte, ele caiu, em pé, mas caiu, esse ano, ele chega como líder do circuito, protagonizando uma das maiores viradas de mesa do surfe. Veja aqui o ranking completo.

Nos vemos em Margaret, com o quinto brasileiro vestindo a lycra de líder do circuito mundial de surfe, até lá!






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