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O dia começou em Abu Dhabi com Tempestade de Areia e terminou com a Tempestade Brasileira - Ítalo vence e assume a liderança do tour.

Foto do escritor: Redação | Vision Surf |Redação | Vision Surf |

Por: Marcos Aurélio Chagas.

Bem-vindos à competição de surf mais "controlada" do planeta, em um lugar onde surfar não é o obvio, ondas artificiais quebram em meio ao deserto. O deserto já é uma atração por si só, então um dia um sheik qualquer teve uma ideia: "E se a gente trouxer a onda do tio Kelly para cá e fizer uma competição sem inconvenientes como tubarões, flat, imprevisibilidade e etc?" E assim nasceu a piscina de ondas de Abu Dhabi, um lugar como o Surf Ranch, onde a mãe natureza foi substituída por um botão de liga/desliga.

Piscina de Abu Dhabi - Foto: Tommy Pierucki
Piscina de Abu Dhabi - Foto: Tommy Pierucki

A ideia era não existir o fator imprevisibilidade, mas diferente das ondas do Rancho, em Abu Dhabi a piscina está mais suscetível a fatores externos como força do vento, tempestades de areia e outros, que resultaram em muitas ondas diferentes umas das outras, sobre tudo, as direitas. Se a ideia era estabelecer as mesmas oportunidades para os surfistas, como acontece no Rancho, em Abu Dhabi não foi isso que vimos, os três dias de competições foram marcados por lips esfarelados, muitas direitas sem seções de tubos e com tamanhos diferentes, algumas mais deitadas e mais cheias que outras, uma despadronização que não é comum no Surf Ranch, a irmã gêmea de Abu Dhabi. Mas não foi apenas nas ondas que teve uma despadronização, os nomes que foram avançando também não eram em sua maioria os de sempre, Tatiana Weston-Webb, Tyler Wright, Lakey Peterson, Brisa Hennessy, Leonardo Fioravanti, João Chianca, Seth Moniz e Barron Mamya não passaram pela repescagem, lembrando que Barron e Tyler foram campeões em Pipeline, Jordy Smith, Griffin Colapinto e Filipe Toledo, também saíram da competição antes do esperado, por falar em Filipe, estranhamente ele não consegui encontrar seu ritmo, surfando sem velocidade, sem expressividade e longe de apresentar seu talento natural, com a ausência de Gabriel, Filipe era de longe o favorito para vencer essa etapa, mas se há algo pelo qual lembraremos dele nesta competição, é o fato dele ter atropelado o fotografo Thiago Diz, o que na verdade não foi culpa de Filipe, e sim do fotografo que estava absurdamente mal posicionado, o que na verdade derruba a tese de uma competição controlada. Filipe perdeu as quilhas e a bateria contra Kanoa Igarashi, as quilhas foi por culpa do fotografo, a bateria não, como alguns veículos sensacionalistas no surfe estão afirmando, mas não quero me aprofundar nisso, porque aqui nós falamos de surfe e não sobre apelações para receber cliques, o importante nessa historia toda é que Thiago Diz e Filipe não se machucaram.

Yago Dora - Foto: Thiago Diz
Yago Dora - Foto: Thiago Diz

O dia final da competição começou com três brasileiros na agua, Miguel, Yago e Ítalo, Miguel e Yago perderam para Ethan Ewing e Jack Robinson respectivamente, Yago precisava de 5.16 na onda final, mas a onda se recusou a rodar, ele conseguiu apenas 4.23, apesar de ter sido absurdamente melhor que Jack nas esquerdas, Yago perdeu nas direitas, onde o cara que surfa de back tende a ter mais dificuldades em virtude da despadronização da onda,  já Miguel perdeu mostrando mais competitividade e mais fome de vencer, e Ítalo, bem, o brabo deu seu show. Depois de anotar mais de 16 pontos no placar contra Jack Robinson na semifinal, ítalo ainda tinha uma direita para surfar, ele abordou essa onda com tubo e aéreos, anotando 9.20, aumentando sua pontuação para mais de 17 pontos, deixando Jack em combinação, ao se dirigir para a agua depois de Ítalo, era notório que o australiano entrava derrotado, ele estava visivelmente abalado, a prova disso é que ele não completou as duas ondas as quais ele ainda tinha direito, o Brabo impôs a Robbo uma derrota sob combinação, e ninguém gosta de perder nestas condições.

Rio Waida - Foto: Max Physick
Rio Waida - Foto: Max Physick

Na outra semifinal masculina, o surpreendente Rio Waida percebeu que não poderia ganhar de Ethan Ewing usando apenas a borda, já que o australiano é um dos melhores se não o melhor surfista do mundo neste fundamento, então, em sua segunda volta, além da borda o indonésio ficou mais deep no tubo e aplicou manobras de rotação como reverse e dois 360 em sua direita, Wiada ainda verticalizou, maximizou os tubos e massacrou a onda até ela sumir, essa abordagem fez com que o indonésio prevalecesse sobre o surfe de borda impecável do então favorito da bateria, Ethan Ewing. Essa vitória foi o passaporte de acesso para a primeira grande final do indonésio na elite do surfe mundial.


Molly Picklm - Foto: Manel Geada
Molly Picklm - Foto: Manel Geada

Na primeira semifinal feminina Molly Picklum cumpriu seu papel impondo a ordem natural das coisas, derrotando Vahine Fierro, uma vitória de Vahine sobre Molly nesse tipo de onda seria realmente uma grande surpresa. Na segunda semifinal a situação era um pouco diferente, o surfe das competidoras eram mais equilibrados, e isso forçou Caitin Simmers a fazer uma linha completamente diferente na saída de sua segunda direita, o fenômeno americano adiantou com bastante velocidade em um reto side indo até o limite com a grade, com as quilhas quase rasgando a tela, Caitin executou o primeiro cutbak que eu vi em uma piscina, voltando para o poket e aplicando uma batida de fundo de prancha na junção, na sequencia ela foi progressiva, veloz, usou a borda, o fundo da prancha, colocou a rabeta onde deveria estar o bico, nesta onda Caitin não repetiu nenhuma manobra além dos tubos, a garota foi a revolucionária de sempre, fazendo a melhor nota do evento mesmo caindo na finalização da onda, 9.53 pontos. Gabriela “Kong” Brian, mesmo com suas navalhadas em forma de rasgadas, suas batidas potentes, seus bottons precisos e sua radicalidade exacerbada, não conseguiu surfar o suficiente para superar a inebriante Caitlin  

Caitlin Simmers é o exemplo maior de uma geração impressionante, em um ano em que as duas melhores surfistas da história se ausentaram, ela, Molly, Brian, Bettylou e Erin, não permitem que sintamos falta de Steph nem de Carissa. O surfe agradece!

Caitlin Simmers - Foto: Manel Geada
Caitlin Simmers - Foto: Manel Geada

A final feminina aconteceu entre as duas maiores expoentes desta geração, Caitlin e Molly, espera-se delas um confronto mais equilibrado, e sempre é, contudo, em virtudes de pequenos detalhes que deixam o placar entre elas sempre muito apertado, Caitlin vem vencendo consecutivamente, criando uma superioridade que está longe de ser uma desbancada, em cinco confrontos anteriores, Caitlin venceu os cinco, com a vitória em Abu Dhabi, agora são seis vitorias de Caitlin Simmers sobre Molly Picklum, mas essa história está só começando.

Ítalo Ferreira - Foto: Max Physick
Ítalo Ferreira - Foto: Max Physick

A final masculina entrou na água com Ítalo lembrando seus melhores tempos e um Waida  mais veloz, mais assertivo, mais solto, o indonésio parecia que não estava disposto a sair daquela bateria sem a vitória, logo em sua primeira onda ele fez uma abordagem agressiva, colocando muita força e velocidade nas manobras progressivas, a onda rodou na primeira seção de tubos com Waida se posicionando bastante profundo, mas ao sair do tubo ele calculou mal a força da manobra e acabou caindo em uma tentativa de reverse, ainda no início da onda, mesmo assim Waida recebeu 6.17 pela apresentação, apesar dessa onda ter sido descartada, Ítalo percebeu o quanto Waida estava disposto a vence-lo, então o Brabo entrou na piscina determinado a liquidar a fatura logo na primeira volta, em sua primeira onda, a direita, Ítalo  aplicou uma sequência de manobras variadas sempre no lip, a essa altura menos esfarelado, Ítalo usou seu arsenal de batidas, floater e rasgadas sempre executados com muita velocidade e verticalidade, se mantendo deep no tubo, finalizando sua direita com um reverse, recebendo nesta onda 8.67. Na esquerda Ítalo abriu com algumas rasgadas antes da sessão de tubos, onde ele ficou muito profundo, na saída optou pela progressividade, assumindo o risco de um aleyoop gigante ao sair do tubo, e um aéreo reverse para finalizar a onda, somando com as duas ondas surpreendentes 17.27 pontos, deixando seu adversário mais uma vez em combinação. Ítalo não precisou entrar na segunda volta para garantir sua vitória, ele viu Waida tentar lhe superar sem ter sucesso através da calmaria predominante do deck da piscina. O dia começou em Abu Dhabi com a tempestade de areia, mas com a vitória de Ítalo Ferreira o dia terminou com a tempestade brasileira no ponto mais alto do pódio.  

Final Masculina - Ítalo / Waida

Parabéns Brabo, vai surfar em Portugal com a Lycra amarela e quase cinco mil pontos de diferença do segundo colocado, construídos em apenas duas etapas. Veja aqui o ranking masculino e aqui o ranking feminino.


Até Portugal







 

 
 
 

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