Desde a vitória de John John em 2019, a sexta de oito vitorias do havaiano no tour, nunca mais se ouviu tocar o clássico sino de Bells, a etapa foi cancelada em 2020 e 2021 em virtude da Covid-19, esse ano, a mais tradicional etapa do tour está de volta ao calendário, em um contexto completamente diferente dos anos anteriores.
Embora ainda estejamos no início do ano, por ser a penúltima etapa antes do corte que eliminará doze surfistas da elite, Bells será uma etapa quase decisiva para mais da metade dos atletas, nomes como Samuel Pupo, João Chianca, Deivid Silva, Jadson André e muitos outros, terão que surfar dobrado se quiserem garantir seus nomes no segundo semestre e consequentemente na elite em 2023.
Além da pressão que paira sobre a cabeça dos surfistas que orbitam a meiúca do ranking, outros fatores podem dificultar ainda mais o caminho dos atletas que precisam de resultados, Mick Fanning, tri campeão mundial e tetra campeão da etapa (2001, 2012, 2014 e 2015) venceu seu compatriota Daniel Wills em Bells antes mesmo de entrar na elite, surfando como convidado a convite da Rip Curl, sua patrocinadora e também do evento. Em 2022 Mick está de volta a Bells e cairá na quinta bateria do opening round, com Filipe Toledo e Samuel Pupo, será que podemos esperar uma grande participação ou até vitória de Fanno? Embora seja difícil ele repetir o feito 21 anos depois de sua primeira vitória naquele lineup, quando se trata de Bells, Mick nunca está fora do páreo, se isso acontecer, ele será o único surfista a vencer Bells duas vezes sem fazer parte da elite.
Em 2012 Mick venceu Slater na final, mesmo Kelly tendo feito um fullrotation animal, anotando um 10 perfeito, Fanno ignorou a magia daquela onda e conseguir virar o jogo para vencer o maior de todos os tempos, na ocasião ele vencia nas direitas de Torquay pela segunda vez. Bells sempre deu a Mick as condições ideais para ele mostrar o seu melhor, em 2018 Mick se aposentou e decidiu que correria sua última etapa em Bells, ele queria a lembrança da vitória ao se retirar, mesmo com um roteiro onde se observava a ambiência local, as condições do mar, a torcida, o patrocinador, o favoritismo, a despedida e a consagração de uma grande carreira, fatores que convergiam para uma grande vitória do maior gentleman que o surf conheceu, Mick esqueceu de combinar todo esse enredo com Ítalo Ferreira, que mesmo em um cenário completamente adverso, acabou vencendo pela primeira vez na carreira. Em Bells 2018 um grande campeão se despedia, outro grande campeão nascia.
Tom Carroll, Mark Occhilupo, Barton Lynch, Damien Herdman e Matt Wilkson. O que eles têm em comum? Todos são goofys e campeões em Bells, com a exceção de Wilko todos os outros são campeões mundiais, eu poderia iniciar falando diretamente de Ítalo, más, eu seria deselegante e injusto se ao falar dele não lembrasse o nível dos goofys que já haviam vencido em Bells antes do brasileiro.
Ítalo tem um backside afiado e é “go for it” suficiente para vencer em Bells, nesse perfil de onda (direitas longas) ele fica menos dependente dos aéreos e mais competitivo, se o mar estiver entre três e cinco pés alinhado Ítalo será um dos grandes protagonistas, subindo um pouquinho mais, outros nomes devem ter maior destaque, mas certamente Ítalo chega em Bells com muita gana, sua participação no Havaí foi abaixo da média, em Portugal, embora ele tenha feito semifinal, o título era o que ele queria, o campeão olímpico venceu ali nos anos anteriores, não só isso, em 2015 em seu primeiro ano no tour, ele fez sua primeira final também em Portugal, em 2022, ele esperava encontrar a vitória na etapa que seu surfe mais se encaixa, mas Ítalo não venceu, o que torna ele o adversário mais perigoso em Bells, ele vem mordido, precisando de resultado para se aproximar dos Top5.
John John e Jordy conhecem os atalhos para vencer em Bells, os dois já tocaram o sino mais famoso do surfe, se o mar estiver acima de cinco pés eles se tornam os grandes favoritos, Bells é uma onda cheia e proporciona aos regulares leitura e execução mais fáceis, a onda é propicia para o surfe de carvins desses dois surfistas, se o mar estiver grande eles terão maior amplitude em seus carvins e consequentemente melhores notas, o caminho para a final fica mais suave, tanto Jordy quanto John John venceram em Bells com o mar acima dos seis pés, ambos bateram brasileiros, Jordy venceu Caio(2017) e John John venceu Filipe (2019), assim como Ítalo, o sul africano e o havaiano precisam reagir se quiserem ir para o WSL Finals e Bells é uma bela oportunidade de reação para eles.
Filipe é sempre favorito em direitas, Ethan está se soltando e seu surfe encanta até mesmo aqueles mais progressivos, em Bells ele pode surpreender, Caio já fez final lá, Bells foi seu melhor resultado na elite, ele está soltinho na vala, nesse momento ele ocupa a sexta posição do ranking, vai para Bells sem pressão nenhuma nos ombros, com a pontuação que ele atingiu só uma hecatombe para tira-lo da elite em 2023, essa combinação pode ser um grande trunfo e fazer seu surfe polido chegar ao ponto mais alto do pódio. Griffin Colapinto precisa de ondas menos deitadas para soltar seu bom surfe, contudo o americano vem embalado pela vitória em Portugal, com um pouquinho de transpiração ele pode chegar lá, assim como seus conterrâneos Kelly Slater e Kolohe Andino, Kelly já venceu quatro vezes em Bells (1994, 2006, 2008 e 2010) mesmo há 12 anos sem tocar o icônico sino, esse ano Kelly chega vice líder e isso é combustível mais que suficiente para ele visualizar aquilo que seria sua 57º vitória na carreira, o perfil da onda põe ele em igualdade com a garotada, resta saber se tendo testado positivo para a Covid há poucos dias, o GOAT conseguirá entrar na Austrália, seu nome já está escalado para a terceira bateria do opening round, contra Nat Young e Owen Wright. Kolohe Andino era uma antiga esperança de título americano, mas 11 anos depois de sua estreia, ele nunca venceu se quer uma etapa, talvez a vitória do Griffin lhe traga mais gana, surfe não falta para ele vencer, Kolohe está no jogo.
Para finalizar Kanoa Igarashi chega em Bells com a lycra amarela no corpo, o japonês assume pela primeira vez a liderança do ranking, seu surfe versátil e facilmente adaptável a qualquer condição, unido à disciplina japonesa, tornam Kanoa um surfista poderoso, talvez, candidato ao título de Bells, se ele vencer sua confiança vai para níveis inimagináveis, contudo, mesmo sendo líder, competitivo, disciplinado, adaptável e inteligente, ainda assim, a meu ver, Kanoa é um dos mais superestimados surfistas do tour, parece uma contradição com tudo que falei acima, mas perfeitamente compreensível se você entender que Kanoa vai sempre entrar no mar e tirar duas notas na orbita dos sete pontos, o nome disso é disciplina, ele consegue fazer sempre 13 pontos em suas baterias, independentemente de ser em Bells ou Durambah, o nome disso é consistência, em Bells com ondas bem trabalhadas e em Durambah apenas com aéreos, entenda isso como versatilidade. Reside nessas qualidades a força de Kanoa Igarashi, contudo a execução de seus ataques nos permite entender que ele tem tudo sempre programadinho em sua mente, ele entra na bateria muito antes de entrar no mar, Kanoa observa, cronometra series, analisa quais são as melhores, passa horas analisando a competição antes de cair na agua, com ele é tudo sempre muita transpiração e pouca inspiração, o quesito transpiração lhe deixa muito forte diante dos menos inspirados, o fator inspiração lhe coloca em seu devido lugar quando ele encontra nomes como Filipe, Ítalo, John John e outros, por isso, apesar de toda disciplina e de um conjunto de fatores lhe torna um nome competitivo, a transpiração de Kanoa terá que ser sempre maior que a inspiração da maioria de seus adversários e nem sempre isso é possível, em Bells, espero ver mais inspiração e menos Kanoa, mas não o subestime, ele chega líder, com a confiança no nível máximo, meu palpite? Filipe!
Façam suas apostas, espero que Kanoas, Munizes e Mamiyas não quebrem o Fantasy de ninguém, Kelly e Mick têm a oportunidade de fazerem um duelo particular, dez anos depois da última final entre os dois ali, teria algum deles condições de ser o primeiro surfista a vencer Bells pela quinta vez? Diz ai!
Dia 10 abre-se a janela para a mais tradicional etapa do circuito mundial, para nós aqui no Brasil, sábado à noite.
Nos vemos lá. Aloha!
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