Teahupoo 2025: Entre a beleza selvagem e o jogo implacável pelo título mundial - Griffin e Jack tomam as vagas de Ethan e Kanoa no WSL Finals.
- Redação | Vision Surf |
- há 6 dias
- 5 min de leitura
Por: Marcos Aurélio Chagas

Em Teahupoo, a natureza exibe seu paradoxo mais fascinante. No paraíso de águas cristalinas e montanhas exuberantes do Taiti, a beleza da natureza encontra sua face mais selvagem. É em Teahupo'o que o oceano, de uma tranquilidade aparente, se transforma em uma das ondas mais temidas e vorazes do planeta, onde beleza e brutalidade brigam pelo protagonismo desafiando a coragem e a habilidade dos melhores e mais loucos surfistas do mundo.

Confesso que me desanimo um pouco ao assistir Teahupoo sem a presença de nomes como Gabriel e John John, e dos aposentados Kelly, Owen e Jeremy. Esses caras cortejavam a insanidade ao duelarem com uma onda de anatomia única e absolutamente perigosa, como loucos que não se ferem no processo e nem se curam no propósito. Esses caras nunca estavam satisfeitos, eles sempre buscavam se superar. Com a lycra no corpo, eles olhavam para a onda com respeito, mas se digladiavam com ela de igual para igual.
Este ano o evento tinha previsão de uma janela brutal, os dois primeiros dias tiveram boas ondas, depois, teve um longo dayoff, para só então a competição voltar com ondas bem inferiores ao que era previsto.

Teahupoo guardou uma caixinha com algumas contradições, Barron Mamiya, surfista bruto quando o assunto é tubos, bicampeão em Pipeline, foi o segundo surfista a se despedir do evento, na segunda bateria do elimination round, Barron pôde perceber que o que te faz sorrir também pode te ferir. Despencando em queda livre do topo para o porão, Connor O´Leary, vencedor de J-Bay, etapa anterior a Teahupoo, assim como Mamiya também perdeu de cara no paraíso do Taiti. Ainda no campo das contradições, Filipe Toledo, mesmo caindo no elimination, registrou no opening round a performance mais agressiva e corajosa de sua carreira em Teahupoo — um lampejo que mostrou que, às vezes, a vitória está além das notas.

No feminino, ficou evidente que as veteranas já não conseguem acompanhar o ritmo da nova geração. Lakey Peterson não conseguiu superar Caroline Marks, e Tyler Wright esteve longe de ser competitiva diante de Caitlin Simmers. A nova safra do surfe feminino domina o lineup com técnica apurada, versatilidade inédita e muita atitude. O espetáculo é tão intenso que nem sentimos falta de Stephanie Gilmore e Carissa Moore. A atual campeã mundial, Caitlin Simmers, e a líder do circuito, Molly Picklum, avançaram eliminando suas adversárias uma a uma, até se encontrarem na grande final.

Com sua classe inimitável Ethan elevou o nível ao fazer o primeiro high score do dia final, ele e Cleland surfavam trocando notas o tempo todo, Etan ficava mais deep, Cleland fazia as melhores fotos, Ethan avançou e Cleland saiu de cabeça erguida.
Na fase seguinte, Ethan fez um confronto direto com um adversário que precisava passar por ele para se garantir no Final Day, nesse contexto Griffin Colapinto abriu a bateria com duas notas excelentes, neste momento em diante as series perderam intensidade, tirando as chances de Ethan avançar e se confirmar definitivamente no finals Day. Com a derrota, Ethan disputava a vaga no Finals com outro australiano, Jack Robinson. Ethan teve que sentar no barco e secar seu conterrâneo, enquanto Robbo fazia a maior soma do evento na semifinal contra outro Colapinto, o Crosby. Robbo avançou para final em Teahupoo, mas para cumprir sua missão, ele ainda precisava vencer o evento. Enquanto isso, provavelmente Ethan secava Robbo a cada onda, com coisas do tipo: Cai logo, véi! Tira a mão de minha vaga. Mas Robbo não caia.

Griffin e Mihimana Braye fizeram a segunda semifinal, a bateria foi bastante disputada, mas fiquei com a sensação de que transformaram aquilo que poderia ser um nove baixo do Mihimana, em um 7.17. No surfe, nem sempre a onda que você vê corresponde à nota que ela recebe — a isso dá-se o nome de subjetividade. Porém, nesse caso específico, a diferença para mim foi tão gritante que deixou no ar a sensação de que o resultado poderia — e talvez devesse ter sido outro, mas na contramão do meu entendimento, Griffin avançou para enfrentar aquele que precisava vencer a competição de qualquer maneira. Jack Robinson!

Enquanto Griffin deixava o lineup com seu tradicional sorriso no rosto, Molly Picklum e Caitlin Simmers assumiam o domínio do outside. Molly, entrando em sua quinta final do ano e buscando a segunda vitória, mostrou por que é a líder do circuito, ela simplesmente atropelou a campeã mundial americana. Tudo deu certo para a australiana, que anotou três notas acima de oito pontos.
Enquanto isso, Caitlin, de corpo aparentemente frágil, mas com uma casca muito grossa, enfrentava dificuldades tomando verdadeiras montanhas de água na cabeça depois de ter seu 10 roubado por um bowl descontrolado. Ao contrário de Molly, nada funcionou para Caitlin nesta final. Resultado: Molly venceu com a maior somatória do evento feminino, 17.26, superando a sua própria marca anterior de 16.90 no opening round. Molly mostrou porque é a líder e grande candidata a campeã mundial.

A final masculina começou com Jack Robinson fazendo um tubo muito profundo em uma onda pequena para os padrões de Teahupoo, Robbo saiu na baforada pedindo 10, os juízes deram 9,50, eu achei que 8,5 seria uma nota mais justa, mas eu não sou juiz e minha opinião não muda a realidade.
Griffin respondia atrás com uma onda do mesmo porte da de Robbo, mas com um tubo bem mais curto, o americano recebeu 8.00 pontos, nesse momento tive a certeza que a régua estava muito alta, as notas pareciam injustas, embora o resultado parecesse justo.
O tempo passava e Jack Robinson que precisava vencer em Teahupoo permanecia na liderança da final, caminhando para a vitória, o mar parrou por muito tempo, e Robbo que é muito competente em tubos e também grande amigo da sorte como disse Bruno Bocayuva, se via cada vez mais próximo da vitória e do Final Day. Griffin até tentou virar a bateria no minuto final, mas ficou muito deep e perdeu a corrida para a onda, com isso, Jack cumpriu sua missão quase impossível, garantir sua vaga no Final Day em Fiji, onda que torna ele a maior ameaça ao titulo que neste momento está virtualmente nas mãos de Yago Dora.

Griffin Colapinto e Jack Robson chegaram no Taiti fora do grupo dos cinco surfistas que iriam para Fiji, e bateram a carteira de Etha Ewing e Kanoa Igarash, que estavam dentro deste grupo. Após a final em Teahupoo o grupo dos dez surfistas que vão para Fiji é formado por Yago Dora, Jody Smith, Griffin Colapinto, Jack Robinson e Ítalo Ferreira entre os homens. O gupo das mulheres é formado por Molly Picklum, Gabriela Bryan, Caitlin Simmers, Caroline Marks e Bettylou Sakura Johnson.
Molly tem praticamente as duas mãos na taça, Fiji é o ambiente natural para seu surfe, Yago estava mais tranquilo, mas com a chegada de Jack Robinson ele terá que surfar dobrado para não ter a carteira roubada na bateria mais importante de sua vida.
Fiji vem aí, o Brasil é o único país com dois surfistas disputando o título mundial, se Ítalo passar por Jack, o surfe brasileiro terá um caminho mais fácil para escrever mais um capítulo histórico. Façam suas apostas, o último ato promete fogo!
Até lá!

Comments