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Foto do escritorRedação | Vision Surf |

Ítalo faz história ao vencer John John e o julgamento paralelo em Teahupoo.

Atualizado: 1 de jun.

Por: Marcos Aurélio Chagas.

Depois de não encontrar nenhuma inspiração para escrever sobre Bells e Margaret River, onde o nível dos julgamentos aparentou ter sido o pior desde Trestles 2016, e as condições foram medíocres (principalmente em Bells), finalmente Teahupoo chegou, a força daquele mar, o poder daquela onda, conseguiu inspirar poucas ideias na mente deste entediado comentarista.

Water Patrol - Ed Sloane

A WSL vem administrando o surfe de forma errônea e intransigente, a entidade não consegue escutar a insatisfação da comunidade global do surfe. O desinteresse dos fãs em virtude da insistência em manter no calendário etapas que há anos não apresentam boas ondas, o baixo nível de julgamento, a mudança da decisão do título do Havaí para Trestles e também o formato para a definição do campeão mundial, tem diminuído o interesse geral, não apenas dos fãs, mas também da pequena mídia especializada ao redor do mundo. É verdade também que a ausência de nomes como Mick Fanning, Joel Parkinson, Taj Burrow, Julian Wilson, Owen Wright, Adriano de Souza e outros que se aposentaram recentemente, contribuiu um pouco para esse desinteresse, já que a geração que entrou no tour com a saída desses caras, nem de longe apresentou um nome que pudesse ser comparado a eles, com a exceção de Griffin.

Na ausência de apresentar algum resquício de brilhantismo, a entidade vem insistindo em erros bobos, são muitos os erros, erros nas escolhas das etapas (falei sobre isso NESTA MATÉRIA AQUI no final do ano passado), erros no sistema de encaixe das baterias, erros de comunicação, erros no julgamento, erros, erros e mais erros, é verdade, possivelmente a maioria desses erros são tentando acertar, mas, nove anos já se passaram desde que a WSL assumiu o surfe profissional, exceto no que se refere às premiações dos atletas e estrutura dos eventos, a entidade não conseguiu melhorar ou modernizar o surfe em absolutamente nada, nem mesmo vem conseguindo manter a atenção dos mais apaixonados, para nossa sorte, um alto nível de onda minimiza em muito o desinteresse, e Teahupoo, um feroz campo de batalha entre o homem e a natureza, onde a tranquilidade da beleza no horizonte contrasta com a ferocidade e apetite das pesadas esquerdas, sempre consegue recuperar o interesse e dá um pontapé no tédio alheio, por isso, estamos nós aqui de volta depois de um jejum de inspiração. 


Quando se fala em inspiração, as meninas que estão chegando no circuito nos últimos anos têm se mostrado em um nível à altura do domínio de Stephanie, Carissa e Tyler, nomes como Caitlin Simmers, Molly Picklum, Bettylou Sakura Johnson, Gabriela Bryan e outras, tem atraído a atenção do público masculino e levado o surfe feminino a um estágio que ainda não tínhamos visto, elas estão surfando Teahupoo, Pipeline e Sunset melhor que 80% dos homens, nos tubos elas estão indo cada vez mais profundo, na borda, Molly fez em Sunset, este ano, a maior manobra já vista executada por uma mulher, em qualquer época.

Tatiana Weston-Webb - Ed Sloane

Em Teahupo apesar das novatas surfarem muito bem, quem dominou a temida bancada foram as representantes da geração intermediaria, Tatiana Weston-Webb, Caroline Marks, Brisa Hennessy e a convidada indigesta Vahine Fierro, que se sagrou a grande campeã da etapa. Apesar da vitória de Vahine, Tati Weston fez o único 10 do evento entre as meninas, se colocando confortavelmente à frente da bateria com Vahine, faltando dois minutos para o final, a brasileira levou a virada da virtual campeã e saiu da competição nas semifinais, ao final do confronto Tati se declarou tão vencedora quanto Vahine, particularmente falando, concordo com ela, essa bateria foi certamente a melhor do evento feminino, duas goofys duelando em altíssimo nível na semifinal em um mar intimidador, Tati fez os drops mais difíceis e a maior onda, Vahine conseguiu ficar mais tempo dentro dos tubos e ser mais regular, o que lhe rendeu a vaga na grande final, onde foi incontestável, vencendo Brisa Hennessy com certa facilidade. Viva o surfe feminino.  


Kelly Slater - Ed Sloane

Kelly Slater já anunciou sua aposentadoria por volta de 46 vezes, o cara que tem 11 títulos mundiais, 56 vitórias no CT, 5 títulos mundiais consecutivos (94-98) O mais jovem (20) e o mais velho (39) Campeão Mundial. O vencedor mais velho de evento (49 anos e 51 semanas), com 33 de suas 56 vitórias após os 30 anos. Enfim, Kelly, O GOAT, tem um verdadeiro caso de amor com Teahupoo. Na primeira bateria do R16, Kelly tinha a maior nota do evento masculino até aquele momento (9.73), ele estava atrás no placar precisando de um quatro baixo para avançar contra Ethan Ewing, faltando três minutos para o final da bateria Kelly caiu em uma onda mediana, perdeu a prancha e tudo levava a crer que ele daria adeus ao evento, mas o GOAT pegou um Jet, recuperou a prancha e chegou no outside faltando 30 segundos para o final do confronto, aos 10 segundos para terminar, ele pegou a única onda que entrou, fez um tubo exprimido, saindo no colo dos quatro pontos que ele precisava para avançar, só nos restou o adeus a Ethan. Apesar de supostamente aposentado, surfando como convidado, não foi dessa vez que o adeus a Kelly foi dado.

Ainda no R16, Yago foi seguro ao dispensar Jorge Smith, ítalo foi absurdamente Ítalo, vencendo um Houshmand que se mostrou consistente em Teahupoo, Yago e Ítalo dominaram suas baterias para duelarem no round seguinte, com uma vitória maiúscula de Ítalo.  


John John Florence - Ed Sloane

John John que não precisa da ajuda de ninguém, foi muito contestado ao avançar sobre o Mihimana Braye, é verdade que a última onda de Mihimana pareceu subjugada, mas para ser justo, o 7.60 de Jhon John, surpreendentemente também pareceu subjugada, a única certeza disso tudo é a subjetividade do surfe, mas quando John John precisa, ele sempre consegue passar por centésimos de pontos, como foi contra Gabriel em Margaret River. Estavamos todos felizes nesse momento, porque até ali a subjetividade estava no jogo, o que se viu depois foi bastante diferente, mas isso é assunto mais para a frente.

Gabriel Medina - Matt Dunbar

Tudo estava bem legalzinho quando Gabriel entrou na água contra Marshall para apresentar uma nova orbita no universo de Teahupoo, o tricampeão oferecia ao mundo um nível que só ele alcançou na rainha do pacifico, nesta bateria Gabriel navegou completamente deep em uma onda quadrada, passando algumas seções, saindo do tubo com a certeza do 10, não demorou muito e a nota veio, o champ fez o primeiro 10 entre os homens depois do 10 incrível de Tati no dia anterior. Enquanto nosso lado humano começava a sentir uma leve peninha do Marshall por ele estar em uma comb de 18.00 pontos, Gabriel estava disposto a dobrar a aposta, como uma criatura que foge ao controle de si mesmo ao seguir seus extintos mais irracionais, ele pegou uma onda ainda mais quadrada, com mais foam ball, com o lip mais grosso, uma onda que parecia ainda melhor que o 10 já anotado no placar, uma onda que encaminharia ele para sua primeira bateria perfeita na elite, mas, a suposta perfeição não foi percebida pelos juízes, que recompensaram Gabriel com 9.83, para revolta de Owen Wright e Joel Parkinson que foram nas redes da WSL protestar. Tudo bem, maior somatório do evento, mas ainda assim um somatório que parecia injusto. Essa sensação de injustiça ficou ainda mais evidente um pouco à frente, quando os juízes da WSL substituíram o conceito de subjetividade no julgamento, pelo julgamento paralelo.

A WSL frequentemente nos dá sinais de que tenta compensar erros, outras vezes, ela insiste no erro, na tentativa errônea de te fazer acreditar que não errou, vimos isso esse ano na vitória apagada de Houshmand em Bells, e infelizmente vimos isso também em Teahupoo, apesar das tentativas serem em vão.

Ramzi Boukhiam - Matt Dunbar

Quando começou as quartas de final, Kelly chegou ao lineup com a segurança quem já venceu cinco vezes naquela bancada, mas Ramzi, cada dia mais seguro de que a elite é seu lugar, domou a fera e obrigou Kelly a se despedir, o GOAT foi demitido muito antes do que ele acreditava, Ramzi entrou para a posteridade ao vencer Kelly na onda onde ele é o maior vencedor e provavelmente fazendo sua última apresentação em uma competição ali, agora, provavelmente só o veremos Kelly em Fiji.

Yago e Ítalo entraram no confronto que garantia ao menos um brasileiro nas semifinais, Ítalo fez um somatório gigante para ter o direito de encarar o confiante Ramzi na semifinal, enquanto isso John John fazia 18.33 contra Rio Waida para esperar a definição de seu adversário nas semifinais. Gabriel entrou contra Callinan na sequência para fazer sua segunda bateria do dia, a segunda bateria dele, foi o segundo maior somatório do evento, ele já tinha feito 19.83 contra Marshall, agora ele fazia 18.96 para ganhar o direito de encarar John John pela segunda vez no ano.



Antes de Gabriel e John John entrarem na agua, Ítalo vencia Ramzi com um placar baixo, em uma bateria com poucas oportunidades, colocando o Brasil em sua primeira final desde a etapa na própria Teahupoo, no ano passado, onde Gabriel perdeu para Robbo. Gabriel e John John entraram revertidos da aparente tranquilidade que eles emanam quando se encontram, escondendo a guerra fria de nervos quentes que eles travam desde sempre, o brasileiro abriu a bateria com o tubo mais longo que eu já vi em Teahupoo, mas na boca da onda o champ foi traído pelo foam ball, ele despencou de 10 para 3.33, na sequencia John John fez um tubo longo em uma onda bem menor, recebendo 9.77, passei o resto da bateria me perguntando: Se Gabriel completasse aquela onda, receberia 15? Certamente não, mas a diferença de uma onda para a outra caberia essa margem. O que está em jogo não é o “SE”, e sim, quais são os critérios para pontuar uma onda.

Gabriel Medina - Ed Sloane

Depois de trocar a prancha e enfrentar uma grande calmaria, Gabriel surfou sua primeira onda realmente boa, faltando pouco mais de cinco minutos para o final, porém, mais uma vez ficou a sensação de um under score no 8.33, se comparado ao 9.77 de John John. Gabriel perdeu a bateria e não perdeu injustamente, isso porque seu backup wave foi um cinco alto, John John venceu incontestavelmente, venceria mesmo se o 9.77 fosse 2 pontos mais baixo, mas o placar certamente foi bastante contestável, e isso vem se repetindo exaustivamente, não apenas com Gabriel e brasileiros.



A final começou com John John levando uma rasteira em sua primeira onda, tal qual havia acontecido com Gabriel na bateria anterior, parecia um déjà vu. Ítalo veio na segunda da série, em uma craca absurda, ele entubou profundo, deu três longas passadas lá dentro e saiu limpo, deram ao Brabo 8.93, algo difícil de se revestir em lógica. Depois dessa nota, continuei me questionando - Qual foi o critério ou a referência para o 9.77 de John John na bateria anterior e qual foi o critério ou referência para o 8.93 de Ítalo?  Um sábio certa vez disse: “Sua mente é prisioneira do que você quer que seja verdade”, e, em épocas de realidade paralela, a WSL implementou o julgamento paralelo, contudo, para meu espanto, um desejo ainda maior tomou conta dos corações apaixonados dos juízes quando John John em uma onda media para as condições do dia, fez um tubo mixuruca, rápido, sem sumir completamente em momento algum, recebendo 9.33 - um dos juízes chegou a pontuar com 9.80, dando a essa onda mequetrefe o caráter de proximidade de uma onda perfeita. Definitivamente o METAVERSO se tornou a realidade no julgamento da grande final.

Ítalo Ferreira - Matt Dunbar

Ítalo fez outra onda absurda que não chegou na casa dos 9.00 pontos, e contou com a sorte de John John cair em outras ondas, o que lhe rendeu uma vitória gritante, onde seu maior adversário não foi John John, e sim os juízes da WSL.

É importante deixar claro que John John é um gênio do esporte e não tem nenhuma responsabilidade sobre o julgamento bisonho que vimos mais uma vez. Parece que os juízes se beneficiam de mecanismos de defesa psicológica ou talvez distorções cognitivas para atender a pedidos nunca verbalizados, eles se especializaram em criar distorções no julgamento repetidas vezes, estão indo muito além do raso conceito da subjetividade, indicando estarem convictos de que podem começar a infiltrar realidades paralelas no entendimento do público, tudo de forma subliminar, ajudados pelas transmissões, seja em qual plataforma for, as críticas são sempre extremamente brandas, tolhidas pelo receio de desagradarem aos parceiros da WSL ou até mesmo a própria direção da entidade. Como disse Gabriel Medina ao vivo em Bells, “Esse julgamento é o pior da história”.

Neste cenário de repetidas distorções, a única realidade é que a entidade vai acirrando a relação com o público, criando ainda mais dificuldade em estabelecer uma condução que inspire confiança nas pessoas, lamentavelmente.

Ítalo Ferreira - Ed Sloane

Para finalizar, Ítalo foi gigante, fez história ao se igualar a Bruno Santos, Gabriel Medina e Miguel Pupo, únicos brasileiros que haviam vencido em Teahupoo antes dele. Ítalo é um dos poucos surfistas do mundo que conseguiu vencer em Pipeline e Teahupoo. Parabéns Brabo, três anos depois de sua última vitória você não poderia vencer em uma onda menos importante que Teahupoo, não poderia vencer um surfista menos importante que John John, não poderia deixar de vencer um julgamento tão baixo em um momento tão importante. Apesar de todas as tentativas de criar um novo conceito de julgamento, Ítalo Ferreira foi o grande campeão de Teahupoo 2024.

Sorrindo de orelha a orelha, ítalo era a visão da mais pura felicidade, ele entrou em uma galeria onde poucos estão, para adquirir respeito, Teahupoo tem que ser resultado, não descarte, valeu Ítalo, você foi gigante, ao vencer John John e todo o resto.

Até El Salvador, ou não!








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