O dia final em Saquarema começou com a certeza de uma vitória brasileira, na primeira bateria a entrar na água a francesa Johanne Defay, uma passadora nata de baterias, não deu chance a novata Gabriela Bryan, que fez final em Margaret River e colocava em Saquarema mais um excelente resultado em seu ano de estreia. No confronto seguinte Tatiana Weston-Webb, única representante do Brasil no surfe feminino, detentora de 100% dos corações da torcida brasileira fez uma escolha ruim de ondas, apesar de sua adversária Carissa Moore não ter feito seu melhor surfe, ela fez o necessário, restou a Tati assistir a final da area de atletas e à pentacampeã mundial avançar para sua quarta final neste ano, repetindo a decisão de G-Land, onde Carissa e Johanne disputaram o título com vitória da Francesa.
Quando os homens caíram no mar Ítalo e Samuel faziam a clássica disputa de Davi X Golias, no início da bateria Ítalo remou para cima de Samuel que também remava na mesma onda, como Samuel estava melhor posicionado e não conseguiu entrar, não houve nenhuma dúvida com relação a existir ou não interferência. Ítalo surfou três esquerdas fracas, suas pontuações só começaram a melhorar quando ele conseguiu achar uma direita com face limpa, faltando 19 segundos para o final Ítalo voltou para as esquerdas, ele encaixou uma rasgada onde entrou um pouco de borda, foi para uma segunda manobra soft, concluindo a onda com um reverse baixo na junção, ainda na onda o potiguar gesticulou acreditando que onda tinha potencial para virada, essa teria que ser a melhor nota da bateria, mas visivelmente essa onda não foi melhor do que nenhuma outra que entrou na soma de Samuel. Esse roteiro parecia um replay do que aconteceu entre Ítalo e Miguel no dia anterior, desta vez o resultado parece ter sido mais justo, Samuel passou para sua primeira final dentro do Championship Tour em seu ano de estreia, deu ”Davi”. Ao passar a bateria Samuel chegava a um patamar que seu irmão Miguel ainda não chegou, uma final de CT, além disso, Samuel criava a possibilidade do evento no Brasil conhecer um novo vencedor.
Yago começou contra Filipe surfando com a beleza tradicional que lhe é peculiar, em menos de 10 minutos ele abriu uma vantagem de 14 pontos, tendo a seu favor um high score surfado na borda, Filipe, o cara mais difícil de ser vencido no Brasil, abriu sua bateria também na borda, também alcançando no high score, na sequência, o ubatubense fez a melhor nota da bateria em um combo de duas manobras de backside muito bem executadas, uma rasgada trazendo tudo pra dentro e uma batida vertical na finalização, tudo isso em altíssima velocidade, Filipe inverteu a situação da bateria com duas apresentações cirúrgicas, atuação esperada de quem já havia vencido três vezes no Brasil nos últimos sete anos, com essas ondas Filipe avançou para encontrar o estreante Samuel Pupo na final enquanto Yago repetia sua melhor colocação no tour, ele havia feito semifinal em Saquarema no ano de 2017 como convidado, na ocasião ele perdeu para Adriano de Souza que além de vencer Yago venceu também o evento.
A final feminina trazia as duas mais competitivas surfistas da atualidade, Johanne ia para sua segunda final do ano, Carissa para a quarta, a havaiana começou mais ativa mas não conseguiu impor na largada um high score, Johanne usava sua estratégia de sempre, a de construir a bateria se mantendo na frente, o confronto seguia desenhando a segunda vitória de Johanne Dafay no ano, até que faltando exatamente um minuto, Carissa entrou em uma esquerda de parede limpa e aplicou duas batidas grandes, ela precisava de seis alto, era visível que viria a virada, mas parece que os juízes foram excessivamente benevolentes recompensando a havaiana com 9.5, não se questiona a vitória, mas a nota foi difícil de entender. Carissa vence seu primeiro evento do ano depois de amargar três derrotas em finais, Havaí, Bells e G-Land, no icônico pico da Indonésia, a Havaiana perdeu para Johanne, no Brasil a história foi diferente, Parabéns Carissa.
Samuel e Filipe entraram na água para o show final, Samuel já tinha chegado bastante longe, mas quando se chega em uma final o único objetivo é vencer, contudo, quando você enfrenta alguém com o repertorio de Filipe Toledo, só existe um objetivo, a bateria perfeita, já que Filipe sempre faz suas finais com pontuações altíssimas, sempre na casa de dos 16 pontos acima.
Filipe já declarou algumas vezes que a final é a hora do show, obedecendo a sua linha de raciocínio, em dois minutos ele assassinou Samuka, o líder do circuito executou o segundo maior aéreo que Saquarema já viu, algo bizarro que só perde para um aéreo dele mesmo em 2018, dois minutos depois ele defenestrou uma esquerda com duas pauladas invertendo completamente a direção, trazendo toda a prancha pra dentro, algo que só se percebe em slow motion devido a velocidade que as manobras são aplicadas, com essas duas ondas o ubatubense colocou no placar 18.67, 10 no aéreo e 8.67 na esquerda esquartejada com precisão cirúrgica, ele impôs a Samuel um placar quase impossível de ser revertido, depois dessa onda Filipe administrou a bateria aguardando a sirene tocar, para ser confirmado mais uma vez como o grande vencedor da etapa do Brasil.
Saquarema é uma tela em branco para Filipe pintar sua superioridade, tentar para-lo ali é uma tarefa tão recompensadora quanto descascar ovo cru, nós dizíamos aqui em matéria pré Saquarema que Filipe seria o nome a ser batido, a Vision até é assertiva em muitas análises, contudo, projetar Filipe como grande favorito no Brasil trata-se apenas de devanear sobre obviedades, o cara é imoral, Parabéns Filipe Toledo.
Com a vitória em Itaúna, Filipinho se iguala em número de vitorias no Brasil ao australiano Dave Macaulay, pai da Bronte, cada um com quatro, o placar que Filipe fez hoje em Saquarema só perde para sua vitória em 2015 lá no Postinho, quando o ubatubense marcou 19.87 de 20 possíveis contra o australiano Bede Durbidge. Ao vencer em Itaúna Filipe vence seu 12º evento na elite, se consolidando ainda mais como o segundo maior vencedor do surfe atual, atrás dele vem John John muito distante com 8 vitorias, seguido por Ítalo com 7, apenas Gabriel tem mais que Filipe, 16 vitorias. Além desse número absurdo de vitorias, Filipe tem um número ainda mais inacreditável de ondas perfeitas, são 14 ondas com pontuação máxima. Com cinco finais e duas vitórias no ano, Filipe abre 10 mil pontos de vantagem para o vice-líder Jack Robinson, veja aqui o ranking, o brasileiro é o único surfista homem já garantido no WSL Finals, além dele só a também campeã em Saquarema. Carissa Moore.
Depois dessa apresentação arrasadora podemos dizer que enfim Saquarema voltou, para ser justo, Saquarema voltou e Filipe nunca esteve ausente. Já lhe demos os parabéns, agora é hora do "obrigado" Filipe Toledo pelo show de surfe, Campeão incontestável em Saquarema, caminhando a passos largos para seu primeiro título mundial.
Hoje foi um dia de surfe incrível, mais uma vez parabéns e obrigado Filipe.
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