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Foto do escritorRedação | Vision Surf |

Filipe e Griffin repetem final em El Salvador, com resultado sem margem para subjetividades.

Atualizado: 18 de jun. de 2023

Por: Marcos Aurélio Chagas.

Resiliência é a capacidade que todos os seres humanos têm para enfrentar os desprazeres da vida de cabeça erguida, a resiliência é um exercício de superação onde acreditar em nós mesmos é a única opção. Um ano depois de uma das derrotas mais questionáveis de sua carreira, Felipe Toledo volta resiliente o bastante a El Salvador para repetir em Punta Rocas a final de 2022 com Griffin Colapinto.

Filipe Toledo - Foto: Aaron Hughes

Griffin é um surfista que está entrando na mente dos brasileiros, ele tem um repertório absurdamente completo e moderno, logo em sua primeira etapa no tour, em 2018, na Gold Coast, ele mostrou seu cartão de visita ao fazer três tubos em uma única onda, em um daqueles “blessed days” de Kirra, surfando nas quartas de final contra o “power surf” do Espartano Michel Bourez, fazendo o primeiro 10 de sua carreira em seu primeiro evento, nessa etapa Griffin chegou até a semifinal, perdendo apenas para o segundo melhor surfista do mundo sem um título mundial para chamar de seu, o campeão do evento, Julian Wilson.

Após uma estreia maiúscula e de anos mostrando surfe de campeão, ontem a impetuosidade de Griffin, não foi suficiente para derrubar a força do surfe de Filipe pela segunda vez em El Salvador, ontem, foi dia de Filipe, mas isso a gente fala mais para frente.

Ian Gentil - Foto: Aaron Hughes

Ian Gentil foi o elemento surpresa da etapa, o havaiano que tem em seu DNA moléculas tupiniquins, não tomou conhecimento dos brasileiros João Chianca e Ítalo Ferreira, Ian fez sua melhor etapa do ano, mostrando que de Gentil, ele só tem o sobrenome, Chumbinho e o Brabo ficaram pelo meio do caminho, e Ian, que já tinha vencido outro ex-lider do ranking, Jack Robinson, só foi Gentil de fato, ao encontrar em seu caminho a superioridade de Filipe Toledo, mesmo executando um alley-oop alto e limpo, trocando de borda com estilo e velocidade, o havaiano parou na semifinal derrotado pelo virtual campeão da etapa, Ian mostrou um surfe supreendentemente inovador. Tempos atrás comparei o Ian Gentil com o Barron Mamiya, acho que estava equivocado.


Kelly Slater - Foto: Aaron Hughes

John John Florence e Kelly Slater, dois campeões mundiais, dois dos maiores nomes da história do esporte, não vão guardar grandes recordações de suas primeiras participações em El Salvador, eles pararam no Elimination Round. Kelly já era uma carta fora do baralho na briga pelos TOP5, nunca é demais lembrar que ele só está respirando no outside porque lhe deram salvadoras bolsas de sangue dos cortados. Parece que há realmente, alguma possibilidade mesmo que remota, de lhe colocarem no line up de Teahupoo no ano que vem, nas olimpíadas, todas as brechas regulamentares estão sendo estudadas e todas possibilidades estão sendo aproveitadas, só isso explicaria o fato de Kelly insistir tanto, ele perdeu para Gabriel pela enésima vez em sua carreira, mas a verdade é que independente de quem seja seu adversário, Kelly não vem conseguindo passar baterias, uma pena que ele tenha chegado a esse ponto. Bem, John John foi apenas John John, surfe nunca há de lhe faltar, tão pouco o tédio da merrecaria, com isso, aos poucos ele vai se distanciando dos TOP5, talvez o fato da disputa do título ser em Trestles, responda muita coisa, afinal, o tédio é a expressão suprema da indiferença.

Outros nomes como Ethan Ewing, Leonardo Fioravanti, Lian O´Brien e Rio Waida, em momentos diferentes da competição, mostraram surfe de campeão. Ethan, que depois do Surf Ranch recebeu ameaça de morte de um brasileiro pelo direct, aliás, de um covarde que apagou suas redes sociais depois que Ethan tornou sua ameaça pública, foi abatido de fato pelo compatriota Liam O´Brien, em uma bateria apertada, onde a subjetividade foi contra ele. O estilo mais bonito do surfe depois do “Mr. Perfection” Tom Curren, se despediu de El Salvador no Round16, agora, ele tem a difícil missão de defender sua vaga entre os TOP5 aqui no Brasil, surfando sob a desconfiança de ameaça de morte, isso não combina com surfe, isso não combina com nós brasileiros.


Liam O´Brien - Foto: Aaron Hughes

O algoz de Ethan, Liam O`Brien, terminou em El Salvador com o seu melhor resultado da carreira, Liam já tinha feito uma semifinal no tour em 2021, em Rottnest Island, perdendo para o campeão da etapa Gabriel Medina, na ocasião, Liam era convidado, agora como membro da elite ele optou por uma estratégia clara, esperar pelas melhores para vencer seu oponente Griffin Colapinto, no entanto, ele não conseguiu converter as oportunidades em resultado, Liam abriu a porta e Griffin avançou para sua segunda final seguida em El Salvador, assim também como sua segunda final seguida no tour, não esqueçamos, ele venceu no Rancho.

Caroline Marks - Foto: Aaron Hughes

Na final feminina, Caroline Marks abateu Tyler Wright com suas rasgadas afiadas de back, Caroline Marks “Occhilupo” vinha surfando discretamente, a garota que entrou no tour aos 16 anos e aos 17 foi a vice-campeã mundial, que desde Narrabeen em 2021 não vencia uma etapa, com a vitória em El Salvador, uma onda com muita semelhança com Trestles, Caroline simplesmente brotou entre as TOP3 e agora é uma ameaça real, como diria o lendário Neil Diamond em sua canção “Sweet Caroline” – “Era a primavera, a primavera tornou-se o verão, e quem acreditaria que você viria junto?”. Lembremos, ainda tem J-bay e Teahupoo pela frente, ondas que ela já mostrou ter intimidade. Desde 1997, quando Lisa Andersen venceu seu quarto título mundial, os Estados Unidos não fazem uma campeã, se Caroline chegar TOP3 em Trestles, será difícil para-la, cuidado garotas, a ameaça é real. Particularmente falando, eu adoraria ver essa hegemonia de Steph, Carissa e Tyler, quebrada por uma goofy.


Griffin Colapinto - Foto: Aaron Huges

Quando a final masculina entrou na água, foi impossível não cultivar um sentimento de revanche, não contra Griffrin, e sim contra a polemica vitória de Griffin, para muitos, dada pelos juízes, Filipe, e todos nós, tínhamos a oportunidade perfeita de vingança contra um quadro de juízes que muitas vezes são absolutamente contestáveis.


Depois da vitória de Griffin em El Salvador o ano passado, aumentou em muito as reclamações sobre os resultados da WSL, nós brasileiros ficamos presos em uma jaula de vitorias ou lamentos, o mundo do surfe passou a viver no fio da navalha, as mesmas ameaças que Ethan sofreu esse ano depois do Surf Ranch, Griffin sofreu no ano passado após El Salvador, se a história se repetisse e o californiano batesse Filipe na final, os lamentos e ameaças certamente seriam grandes, mas vencer Filipe duas em duas finais seguidas na mesma onda, não é uma tarefa corriqueira na vida de alguém, pior para Griffin, ou talvez, a depender das ameaças, “melhor para Griffin”.

Independente do ponto de vista, eu acredito que o posicionamento dos caras, fala mais alto do que ameaças covardes e infantis, Gabriel Medina que não surfou bem em Punta Rocas, se posicionou após o Surf Ranch e encorajou outros surfistas brasileiros a se posicionarem também, além dos brasileiros, nomes como Julian Wilson, Michel Bourez e Jeremy Flores, três “Pipeline Masters”, apoiaram Gabriel, eles colocaram o CEO da WSL, Erik Logan, na posição de ter que se defender, o que gerou uma resposta ainda mais infantil do que as ameaças feitas aos gringos pelos “PETER PANs” do Brasil, agora, a única esperança é que o surfe volte para o surfe.

Filipe Toledo - Foto: Aaron Hughes

Ano passado, Filipe surfava com a lycra amarela, esse ano, Griffin estava com ela no corpo, Filipe vinha surfando na casa dos cinco pontos, Griffin na casa dos quatro, até ele achar a onda 7.17 e assumir a liderança do confronto faltando 18 minutos para o final, com a prioridade nas mãos Toledo entrou em uma onda pequena e balançada, quando vi ele remando imaginei que ele tinha se precipitado, mas o brasileiro encaixou quatro trauletadas daquelas de mandar a onda de volta para o oceano, executando um roteiro de agressividade que, mesmo sem muita variação, fez uma onda com potencial de 4.0 pontos, virar uma nota de 9.0 pontos, particularmente eu até achei que seria uma nota menor, mas sim, um high score. Esse poderia ser o ponto final da história, não fosse o fato de que, depois de ouvir a nota de Filipe, Griffin ir para o tudo ou nada, apostando unicamente nos aéreos, errando todos, aéreos que normalmente ele acertaria mesmo se tivesse uma perna só. Sentindo o momento, Filipe tratou de fazer uma onda no mesmo nível da onda de 9.0 pontos, desta vez com pauladas, floater e rasgadas, variando mais, contudo com uma nota inferior, 8.33 pontos. Com essa onda, a única opção que restou aos juízes, foi dar a justa vitória a Filipe, empurrando o americano para dentro de uma combi, de onde ele só vai sair, aqui no Brasil.

Filipe foi superior a Griffin durante toda a final, uma final que pode ser referência para Trestles, foi interessante ver como os dois líderes do circuito lidaram com a pressão de uma bateria tão polemica e revanchista, nessa batalha Filipe foi melhor, Griffin parece ter sentindo a pressão, isso provocou nele altas taxas de insegurança, que resultaram em altas taxas de erro, o americano não errou apenas os aéreos, em um determinado momento ele caiu em um cutback, algo incomum para um surfista de sua estirpe.

Griffin sai líder de El Salvador, uma liderança frágil, de pouco mais de mil pontos, essa liderança fica mais frágil ainda se pensarmos que as duas etapas que Filipe mais venceu em sua carreira, Brasil e J-Bay, ainda estão por vir, uma coisa parece ser muito solida para Griffin este ano, ao contrário dos últimos dois anos, quando ele perdeu sua vaga para WSL Finals sempre na última etapa, esse ano, é difícil acreditar que o americano esteja sujeito a isso, contudo, independente de quem esteja nos TOP5 neste momento, sempre existirá as ameaças silenciosas de Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e John John Florence, um trio que mesmo em anos ruins, são bons o suficiente para estragar o fim de ano de qualquer um.


Punta Rocas - Fotos Beatriz Ryder

El Salvador se despediu mais uma vez do tour, embora Punta Rocas tenha dado sinais discretos de ser Punta Rocas, por mais um ano, a janela do Tour parece ter pegado aqueles 10 piores dias do ano no pico, coisas do surfe. Agora faltam apenas Saquarema, J-Bay e Teahupoo, as últimas etapas prometem brigas emocionantes pela vaga para Trestles.

No xadrez do título, daqui para frente cada bateria ganha contornos de decisão, Filipe desponta como o grande favorito para chegar em Trestles precisando vencer apenas duas baterias para tornar-se campeão mundial, ele sabe que precisar ser ele mesmo em Saquarema e em J-Bay, para se permitir ser ele mesmo em Teahupoo e sair de lá com a liderança, que provavelmente voltará para suas mãos no Brasil.

Até Saquarema, sem ameaças!






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