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Foto do escritorRedação | Vision Surf |

Filipe Toledo vence em Sunset 32 anos após a vitória de Fábio Gouveia.

Por: Marcos Aurélio Chagas.

Falar sobre Sunset esse ano, é tão difícil quanto a complexidade da onda, pior ainda para um baiano que viu o final day cair no domingo de carnaval, único entre os dias de folia, ao qual tinha um compromisso agendado, vamos de Heat Analyzer.

Antes de falarmos sobre as nuances da etapa, é impositivo mirar o ranking, se olharmos pela ótica do competidor, o corte no meio da temporada é uma das maiores anomalias que o surfe já produziu, mas como parte do jogo, para nós expectadores do surfe, o tal corte traz uma certa emoção logo no início da temporada, emoções que nem sempre acabam bem, como por exemplo, a queda de um dos melhores surfistas da temporada passada, João Chianca. Em virtude desse famigerado corte, o desenho do ranking após o fim da perna havaiana, já produz sorrisos e desilusões, personagens que o ano passado estavam em situação bem tranquila a essa altura, esse ano, caso desejem passar para o segundo semestre, vão ter que suar as lycras nas gélidas aguas de Portugal, Bells e Margaret River.

João Chianca - Foto: Brent Bielmann

Barron Mamiya saiu de Sunset líder do circuito em 2022, ele havia feito uma nona colocação em Pipe, vencendo em Sunset, classificações que lhe renderam uma certa gordura, o suficiente para o mediano Mamiya fugir do corte, suas atuações simplórias nas etapas seguintes somaram poucos pontos, mas o suficiente para mantê-lo entre os vinte e dois que avançavam, enquanto isso, João Chianca encantava o mundo com suas performances, mas o excesso de disputas com John John, condenou o jovem talento brasileiro a uma queda tática, já que na técnica, era explicito sua superioridade sobre ao menos dois terços dos surfistas do circuito.

Pois bem, 2023 chegou, e parece que ao menos entre esses dois personagens, a ordem real do surfe está se estabelecendo, Chianca sai do Havaí com a terceira posição do ranking, situação que lhe dá uma certa gordura e confiança para avançar, já Barron, vai ter que buscar resultados significativos nas próximas etapas, caso queira escapar do corte, não que eu deseje que ele caia, mas, com a exceção de John John, e com muito boa vontade de Seth Moniz também, em meu ponto de vista, todos os outros havaianos do tour, só conseguem razoáveis apresentações quando surfam em seus quintais, isso aconteceu de forma muito incisiva o ano passado com Seth e principalmente com o Mamiya, com todo respeito, o Barron não tem surfe para estar entre os 34 melhores surfistas do mundo, mas o desenho do tour, conectado com as condições favoráveis da perna havaiana do ano passado, unido ao ponto do corte, conduziu o cara que ficou na 17ª posição em cinco de dez etapas em 2022, para a elite em 2023, vamos ver se ele consegue se manter agora, eu acredito que não, sua chance mais real será em Margaret River, onda mais próxima dos padrões havaianos.


Ezekiel Lau - Foto: Tony Heff

Ezekiel Lau é outro havaiano com pouco surfe, mas, ao contrário do Barron, com muita marra, ele ascendeu à elite em 2017, de lá para cá, apenas em 2018 “Marrento” Lau conseguiu se manter entre os 22, único ano que ele não caiu, todos os outros ele cai mas acaba conseguindo seu retorno pela divisão de acesso. Pois bem, quem assiste as etapas da WSL com mais atenção, percebe que Ezekiel Lau é uma espécie de “engenheiro do caos”, ele compete na maioria absoluta do tempo tentando intimidar seu adversário, não com seu surfe, mas sim com o pensamento único de conduzir o adversário a uma interferência, não que isso seja ilegal, não é! Mas existem maneiras e maneiras de se beneficiar de uma interferência. Nas etapas havaianas, a interferência foi um fator determinante na vida de Ezekiel Lau, nas duas ocasiões ele levou a pior.

Em Pipeline Lau provocou uma interferência bem contestável ao remar pra cima de Caio, simulando uma tentativa de entrar em uma onda, em um momento que ele tinha prioridade. Se você for no Heat Analyzer, verá que em momento nenhum Ezekiel “Perde Mau” tinha a intenção de entrar realmente na onda, contudo os juízes tiveram que anotar a interferência, já que Caio não foi malandro o suficiente para manter-se longe dele, mas, como uma espécie de correção de rumos, Caio impôs a ele uma derrota vexaminosa dentro de sua casa, o brasileiro avançou sobre o havaiano somando apenas uma onda, “hasta la vista Lau”.

Ezekiel Lau parece “Joseph Climber”, aquele personagem engraçadíssimo que nunca se impõe limites em virtude de suas deficiências, do auto de seus devaneios sobre as obviedades, em Sunset, surfando no Elimination Round, faltando doze segundos para o final da bateria, passando surpreendentemente na primeira posição, Lau, acreditando ter a prioridade, resolveu bloquear uma onda do Rio Waida, surfista que vinha na terceira posição, virtualmente eliminado. Mas, Lau que tinha perdido a prioridade por remar em uma onda anterior, aos 12 segundos para o final da bateria, acabou eliminado mais uma vez em virtude do seu fetiche competitivo, a interferência. Com as eliminações em Pipe e Sunset, Ezikiel Lau sai do Havaí na 31ª posição do ranking, difícil acreditar que ele vai conseguir se salvar do corte, mas vai que ele consegue algumas interferências a seu favor nas próximas etapas, tudo é possível.


Kelly Slater - Foto: Brent Bielmann

Sunset não foi apenas um revés para Barron Mamiya e Ezekiel Lau, nomes de peso máximo dentro do tour perderam precocemente, todos no mesmo round, Gabriel Medina, John John Florence, Kelly Slater e Ítalo Ferreira deram adeus a competição ainda no Round16, apesar de todos eles estarem dentro da linha do corte, não podemos negar, criou-se uma certa pressão para os caras nas próximas etapas, analisemos.


Apesar de ser um entre os três nomes que podem ser considerados favoritos em qualquer etapa, nas próximas três, Gabriel Medina não é exatamente o predador que costumamos ver nas etapas do segundo semestre, ele já venceu em Portugal, já foi semifinalista em Bells, porém em 11 temporadas competindo na elite, o tricampeão jamais conseguiu um bom resultado em Margaret, essa combinação não lhe deixa exatamente sob pressão em virtude do corte, mas sim, em virtude da campanha, nenhum resultado que não seja minimamente uma semifinal, pode ser considerado razoável para um tricampeão mundial, e esse ano ele ainda não chegou nem perto disso.

Já John John tem um histórico bem diferente, ele já venceu as três etapas que antecedem o corte, sua vitória em Portugal 2016, consagrou-o como campeão mundial daquele ano, três anos depois ele venceu Bells em um mar maiúsculo, na west coast australiana, nos últimos anos, John John é sempre o nome a ser batido, ele venceu lá em 17 e 19 ficando com o vice-campeonato em 22, o desenho do calendário favorece muito a John John, mas não podemos negar, ele não está exatamente suave na nave.

John John e Gabriel encontram-se na 7ª e 8ª colocações respectivamente, na 16ª posição, Ítalo e Kelly têm missões mais difíceis, apesar dos dois já terem vencido em Portugal e Bells, com o novo sistema de seed, fica mais fácil eles encontrarem nomes de maior envergadura já nas fases iniciais, a pressão sobre eles reside em um elemento chamado corte, qualquer tropeço vira um pesadelo no xadrez da eliminação no meio da temporada, para Kelly, esse desafio é ainda maior, já que em ondas de performance como essas, ele não tem surfado no mesmo nível da maioria, não seria justo com sua história vê-lo abandonar o tour pelo dog door.

Apesar de ser um sinal de alerta para o jogo do corte, Sunset não foi feita apenas historias dramáticas, alguns nomes se fortaleceram na onda considerada por muitos, uma das mais difíceis. João Chianca, surfista com estilo expressivo, surfe explosivo e borda cravada na água, mostrou que não existe onda difícil para ele, com duas semifinais no Havaí, em ondas completamente diferentes, Chianca mostra que é um surfista com qualidades suficientes para entrar no roll daqueles que consideramos surfistas completos.


Jack Robinson - Foto: Brent Bielmann

Jack Robinson confirmou que é o nome da vez, tenho algumas restrições ao surfe dele, seus carvins muitas vezes são hipervalorizados, a postura dos braços de Jack, dão uma estética de amplitude a carvins muitas vezes curtos, conclamo os leitores a observarem melhor esse fundamento, contudo, é inegável, ele surfa seguro, tem mente forte, consegue achar e fazer bons tubos em ondas que não são tubulares, nas ondas tubulares ele é Top3, e quase sempre Jack tem a prioridade nos minutos finais das baterias, esse combo de qualidades, adubadas pela experiência de Leandro Breda, mostrou que Jack não teve apenas um ano bom em 2022, e sim, que ele é em definitivo um “world title contender”, o que ficou claro em Pipe e Sunset.


Griffin Colapinto - Foto: Brent Bielmann

Griffin Colapinto chegou, venho dizendo desde que ele entrou no tour, que Griffin é a maior esperança de título dos Estados Unidos, o moleque atropelou a hierarquia de Kolohe. O Filho do Dino, chegou no tour com contratos milionários, mas em “cem” etapas disputadas, com pouquíssimas finais, Kolohe continua “sem” títulos, já Griffin, vinha de duas finais e duas vitórias, detalhe, as duas sobre o maior bicho papão de finais no tour, o campeão mundial Filipe Toledo, lembrando que Griffin tem sete temporadas a menos do que Kolohe. Em Sunset, os ataques violentos de Griffin ao lip pesado, destruiu as possibilidades de um back to back de Jack Robinson no Havaí, o garoto de San Clemente domou a fera com a tranquilidade de um veterano, é bom lembrar, no caminho para as finais, além de Jack Robinson, Griffin venceu Ethan Ewing e Gabriel Medina.

Molly Picklum - Foto: Tony Heff

Entre as meninas a nova geração dominou do início ao fim, nomes como Carissa Moore e Tyler Wright perderam para Gabriela Bryan e Molly Picklum, respectivamente, nomes até então pouco conhecidos. Gabriela, por sua vez, perdeu para Caroline Marks “Occhilupo”, que mesmo fazendo a maior nota da final, perdeu para a sensação australiana Molly Picklum. A liderança do ranking feminino está nas mãos de Carissa Moore, por critérios de desempate, Moore e Picklum têm exatamente a mesma pontuação, 14.745, o ranking feminino tem uma enxurrada de novos nomes dentro da linha do corte, veja aqui o ranking completo.


Com uma moral imensa, Griffin chegou para sua terceira final contra o mesmo adversário, o campeão mundial Filipe Toledo. Nas duas finais anteriores o americano havia levado a melhor, mesmo que em El Salvador, o resultado tenha sido bastante contestável, ele venceu, e, certamente, Filipe não estava feliz com duas derrotas em duas finais.

Filipe Toledo - Foto: Brent Bielmann

A Final masculina iniciou com Griffin fazendo aquela que veio a ser sua melhor onda, o americano abriu a bateria com um 9.17, executando apenas duas manobras, achei a nota um pouco exagerada se comparada ao 9.47 de Filipe, o brasileiro foi mais agressivo na borda e variou nos fundamentos, mas a subjetividade jamais tornará alguém dono da razão no surfe, a final continuou com uma guerra de borda e ataques violentos ao lip, Griffin largou na frente, mas Filipe não parecia nem um pouco receptivo à ideia de perder sua terceira final para o americano, e ser considerado freguês dele, brincadeiras à parte, além da própria vitória em si, Filipe tinha outros motivações para derrotar Griffin da maneira maiúscula, primeiro ele tinha sua família na praia, segundo, com a vitória em Sunset, Filipe se aproxima perigosamente de Gabriel Medina em números de vitórias no tour, com 13 vitórias, o tricampeão tem 16, eles são disparadamente os maiores vencedores de etapas da atualidade, e por último, porém não menos importante, Filipe venceu uma etapa que apenas Fábio Gouveia havia vencido para o Brasil, no CT, no longínquo ano de 1991, Raoni também venceu, mas na ocasião, a etapa era QS.

Com a vitória em Sunset, Filipe assume a vice-liderança do tour, com Chumbinho em terceiro e Caio em quinto, clique aqui para ver o ranking completo.


Próxima etapa é Portugal, uma conexão para as etapas finais da Austrália, aquelas que vão determinar quem cai e quem fica, dois brasileiros estão abaixo da linha do corte neste momento, Samuel Pupo e Michael Rodrigues, eles têm condições de melhorarem em muito suas performances, vamos aguardar o xadrez do corte, a única certeza neste momento é que Jack Robinson vai continuar dando trabalho, assim como o Julian Wilson também dava quando chegou ao tour, não sei dizer se para nossa sorte, ou azar, a cabeça de Jack é melhor que a do Julian, mas o surfe, nem tanto.

Até Portugal, a lycra amarela continua no corpo do Jack.

Aloha!







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