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Robbo e Molly garantem hegemonia australiana em Sunset com a WSL sob nova direção.


Por: Marcos Aurélio Chagas.


Sunset Beach começou com a WSL sob nova direção, a Liga Mundial de Surf escolheu o ex-executivo do UFC Joe Carr, após oito meses desde “o desaparecimento” de Erik Logan, para liderar a entidade que cada vez mais é uma entidade de não surfistas.

Carr ficou mais conhecido por atuar na venda do UFC para o WME-IMG por US$ 4,2 bilhões de dólares, sim, não escrevi errado, falamos de bilhão. Isso traz uma perspectiva saborosa para Dirk Ziff, que dizem os mais críticos estar a fim de negociar a liga a um preço muito mais alto do que ela vale. O principal indicio disso seria a abertura de uma piscina de ondas de propriedade da WSL em Abu Dhabi, com a fita de abertura cortada por Kelly Slater. Será que isso teria sido uma mera coincidência? Ou será que estão buscando alguém com experiência em realizações de negócios quase impossíveis para tornar a Arábia Saudita o novo lar do surfe mundial? Aguardemos!

Há uns anos atrás eu li uma matéria do Sean Doherty na Surfer, ele falava sobre uma entrevista que fez por volta de 2005, no auge conceito do Dream Tour com o ex-presidente da ASP Wayne Bartholomew - Campeão mundial de 1978, dentro de um barco em Teahupoo, quando de repente “Rabbit” simplesmente o abraçou pelo pescoço e começou a bater no peito do Sean e chorar. As lágrimas eram de alegria por causa de uma onda que Kelly acabara de surfar, Rabbit dizia com os olhos marejados: “Que onda linda!” O surfe atual está precisando de diretores assim, junto a caras como Joe Carr, de um lado o business, do outro a essência do surfe, enquanto a WSL não entender que é preciso ter pessoas do surfe lidando com o surfe, será difícil alcançar o sucesso desejado nos negócios. Exceto pelos petrodólares.


Publico em Sunset - Foto: Tony Heff

O primeiro dia de Sunset foi um dia difícil de assistir, mar confuso, com onda quebrando para todo lado, com uma difícil leitura para se posicionar, achar a onda boa era uma verdadeira loteria, Sunset parecia um Beach Break desgovernado, difícil de surfar, mas isso tudo é do surfe, o que não é do surfe realmente, são os ancoras escolhidos pela Sportv para a transmissão bisonha que eles insistem em manter, no sábado durante o Oppening Round masculino ouvi um número tão grande de aberrações, que resolvi anotar algumas. Na 3ª bateria Kelly fez um tubo rápido na segunda seção da onda, ao sair do tubo o ancora traduziu assim: Kelly saiu de um “tubo na junção”, nesta mesma bateria, após o Caio completar uma de suas ondas o ancora soltou a perola -  “Olha o que ele fez nesse drop”, ainda nesta bateria ele chamou o Barron Mamiya de “Brandon Mamiya” algumas vezes, até provavelmente alguem lhe corrigir em off e ele se autocorrigir no ar, na bateria seguinte, John John se posicionou para tentar um tubo espremido e ele disse – “John John tenta se agachar para dropar em um tubo”,  além de pérolas como essas e muitas outras, o excesso de ênfase na narração de ondas sem potencial como se fossem boas ondas, me fazia perceber o quão nocivo é ver a segurança da mediocridade, já passou da hora da Sportv oferecer uma transmissão minimamente razoável, a verdade é que, transmissões sem o conhecimento de Bruno Bocayuva e Breno Dines, são verdadeiras aberrações.     


Kai Lenny - Foto: Tony Heff

Voltando a competição duas coisas me chamaram a atenção no primeiro dia, a primeira foi a percepção de que Kai Lenny é muito bom dentro do universo dele, boas ondas em mares grandes, puxado, com pranchas presas aos pés. A participação de Kai em Sunset este ano foi finalizada no Elimination Roud, assim como foi no ano passado. Remando, com pranchas soltas nos pés, com lycra de competição e 30 minutos para mostrar suas habilidades, Kai Lenny nem de longe é o surfista que nos acostumamos a ver nos vídeos postados em suas redes. A segunda, atende pelo nome de Gabriel Medina. O tricampeão surfou muito mal no Oppening Round e mesmo tendo passado em primeiro no Elimination, Gabriel parecia surfar sem gana, ele não transmitia a segurança de outros tempos, o champ foi eliminado no Round dos 32 pela segunda vez no segundo evento do ano, assim como a maioria dos brasileiros. É importante lembrar que quase cinquenta por cento dos pontos a serem disputados para o famigerado corte, já foram disputados, o melhor brasileiro no ranking neste momento é Ítalo Ferreira, ele ocupa a 13ª posição, Yago e Miguel vêm empatados na 17ª posição, os outros brasileiros estão todos abaixo da linha do corte, Gabriel ocupa a 26ª posição, o sinal de alerta está ligado.

No dia final as oportunidades apareceram para todos em Sunset, os quatro semifinalistas, Jack Robinson, Kanoa Igarashi, Ryan Callinan e Jordy Smith, formavam um grupo diversificado em estilos, mas todos mereciam seu lugar naquele dia, contudo, antes deles, precisamos falar sobre as meninas.



Faltavam exatos 20 minutos para acabar a primeira semifinal feminina, quando Molly Picklum entrou em uma pintura azul, ela remou, dropou com o peso da onda quebrando em suas costas, fez a aproximação e cavou, percebendo que estava longe de seu alvo ela ampliou a cavada, esperou o tempo certo, e sem hesitação Molly atacou o LIP com força e a segurança de quem sabia ter feito algo grande, ela despencou um pouco desequilibrada, com a prancha fugindo de seus pés, com um movimento mínimo, seus dedos trouxeram a prancha de volta, com Molly aterrissando segura para completar aquilo que muitos dizem ter sido provavelmente a melhor manobra do surfe feminino, eu me junto a esse pensamento. A manobra foi extremamente crítica, em uma parte completamente vertical da onda, segurar aquele LIP absurdamente grosso e forte, despencar com a prancha embicando para baixo, sorrateiramente fugindo dos pés e segurar toda a pressão de uma onda de 9 pés na base, é diferente de tudo que já foi visto antes no surfe feminino, contudo, Molly teve a infelicidade de receber 9.67. Uau... quão criteriosos foram os juízes da WSL heim, se fosse em Trestles teria sido 10.


Molly Picklum - Foto: Tony Heff

Na final, Molly não teve a oportunidade de repetir a mesma atuação brilhante que teve nas semifinais contra Hennessy, mas a australiana surfou o suficiente para vencer Bettylou Sakura Johnson pela quarta vez na careira. Molly Picklum vai chegar em Portugal vestindo a lycra amarela, com o reconhecimento de grande parte do surfe como aquela que fez a maior manobra em toda história do surfe feminino.  


John John tinha ares de imparável até deparar com alguém cujo o surfe parece ter sido desenhado para aquela onda, o gigante sul-africano Jordy Smith vice-campeão mundial de 2010, Jordy usou uma combinação que ao final do evento se mostrou vencedora, não para ele. O regular combinou a aplicação de grandes carvins unida a habilidade de encontrar e sair dos tubos, com esse enredo e firulas técnicas de várias naturezas, Jordy determinou o ponto de parada de John John nas quartas de final.


Ryan Callinan - Foto: Brent Bielmann

Jordy avançou, mas nas semifinais ele acabou encontrando Kanoa Igarashi, o surfista nipo-americano programado para fazer duas notas 7.00 em 30 minutos, parou o gigante sul-africano, Jordy ficou, Kanoa avançou. Na outra semi, um duelo australiano acontecia entre surfistas de escolas completamente diferentes, Ryan Callinan, que vinha fazendo apresentações indefectíveis com seu back side notavelmente poderoso, executando algumas das pancadas mais verticais já vistas em Sunset, não repetiu uma atuação solida o suficiente para vencer Jack Robinson que parece entrar em uma orbita onde só ele tem lugar ao sol quando as competições vão se afunilando. Com duas rasgadas potentes em duas ondas diferentes, acompanhadas de manobras tão habilmente medianas, Robbo anotou sua segunda vitória na carreira sobre o goofy Ryan Callinan. Jack Robinson é pura oportunidade, disciplina, confiança e transpiração, com a vitória sobre Callinan ele avançou para sua surpreendente oitava final de CT desde o México em 2021, viva o Grilo.


Jack Robinson - Foto: Brent Bielmann

Se nas baterias anteriores Jack Robinson vinha passando com uma onda solida e outra nem tanto, na final, ao encontrar seu amigo de longas datas e rival de infância Kanoa Igarashi, Robbo apresentou o seu melhor, o australiano não permitiu que a chance estivesse ao lado de Kanoa, ele decidiu que duas notas setes não seriam o suficientes para lhe deter, Robbo combinou tubos bem pontuados com manobras complementares, o que lhe rendeu 8.17 e 9.87 para vencer de forma merecedora em Sunset, deixando o competitivo Kanoa em combinação, no dia final as somatórias de Robbo alcançaram 17.37, 16.10 e 18.04, ele surfou com o tipo de veracidade que encanta aos juízes, ao passo em que Kanoa parecia não ter muito mais a dar, na verdade Kanoa parecia já ter vencido sua competição particular ao derrotar no Round16 seu rival regional e maior esperança dos EUA desde Kelly, Griffin Collapinto.


Assim como Molly, a vitória de Robinson foi merecedora, a Austrália voltou a dominar o lugar mais alto do pódio nas duas competições, isso parecia uma realidade distante até bem pouco tempo atrás, agora, eles vibram com sua nova geração. Ethan, Robbo e Molly, parecem ter mais vontade que Taj, Julian e Owen, mas pelo que notei nas publicações pós Sunset, a maior felicidade deles é ver dois campeonatos seguidos sem brasileiros no dia final, para nossa tristeza.


O bom dia de surfe na final de Sunset, mostra o quão ridículo é disputar um título mundial na merrecaria de Trestles. John John e Molly chegarão em Portugal com a Lycra amarela, os brasileiros com a obrigação de mudar de postura caso queiram continuar no circuito após Margaret.

Até Portugal, onde esperamos que finalmente 2024 comece para o surfe brasileiro, porque apesar de tudo, é preciso chegar a Trestles.






     

 


 

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