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O retorno do tour e a intoxicação alimentar de Felipe Toledo.

Por: Marcos Aurélio Chagas.


O Lexus Pipe Pro começou em seu terceiro dia de janela, com ondas perfeitas, pesadas e desafiadoras, podemos dizer que o primeiro dia de competições foi digno de Pipeline. Confesso que a ansiedade, a adrenalina e a expectativa de outrora já não é mais a mesma, porém a paixão pelo surfe competitivo e a percepção que uma nova safra de surfistas está chegando, continua atraindo a atenção deste colunista. Apesar disso, sinto saudade de uma época onde aguardávamos Parko, Taj, Mick, Kelly, Jeremy, Wilko, Josh e etc entrarem na água para serem desafiados por Gabriel, John John, Julian, Filipe e Ítalo, parece que hoje, apesar de Ethan e Griffin, o desafio para os veteranos é menor do que aquele que a geração anterior enfrentou.

Jacob Willcox - Foto: Brent Bielmann

O WSL Finals, campeonato em Trestles que encerrou a temporada 2023 dando a Filipe Toledo seu segundo título mundial, parece ter sido algo tão distante e tão morno quanto o “erro de ser barco a motor e insistir em usar os remos”, talvez esse papo pareça papo de maluco, mas a verdade é que depois de cinco longos meses de um título decidido na merrecaria, terminar uma temporada em Trestles e começar em Pipeline, parece uma absurda inversão de valores e uma insistência consistente e consciente em um erro medonho, sobretudo em épocas onde comer, ou talvez até o emocional, estejam promovendo intoxicação alimentar e uma guerra de opiniões vazias que ressoam alto, mas que carecem de essência, perdidas em sua própria falta de significado, quando a única base da crítica é o simples desejo de criticar. Dito isso, vou especificar meu inconformismo – É de doer na alma ver a onda de Pipeline se tornar algo irrelevante na disputa pelo título, enquanto Trestles decide o campeão. Desabafos vomitados, vamos ao Lexus Pipe Pro.


Kelly Slater - Foto: Brent Bielmann

Kelly Slater não está apenas há mais de uma década de seu último título mundial, na verdade ele está longe de ser percebido como uma ameaça, mesmo em Pipe onde ele já venceu oito vezes, a última em 2022, dias antes de completar 50 anos. Kelly já caiu no corte, recebeu convite para voltar e provavelmente se ele não decidir se retirar, é possível que a WSL tenha que lhe dar um convite mais uma vez. Apesar de ainda ser relevante em Pipe, é perceptível que neste momento da vida a direita do Back Door é seu porto seguro, para a esquerda o nível dele se iguala aos surfistas medianos do tour, a apresentação dele no Openning Round deixou isso claro.

Apesar de ser de longe o melhor surfista em Pipeline nos últimos 10 anos, Gabriel Medina parece não ter encontrado sua sintonia fina com a onda, apesar do 8.33 ele competiu mal, usou a prioridade ao rabear Callum Robson em uma onda sem tubo, remou com a prioridade e não encaixou, viu o Callum “no pé” dominar o lineup com o sorriso no rosto, avançando em primeiro.

Samuel Pupo que a altura do WSL Finals do ano passado era um surfista fora da elite, conseguiu seu retorno de forma fácil, estreando em 2024 completamente à vontade em Pipeline em uma bateria onde estavam ainda o convidado havaiano Shoin Crawford e o bicampeão mundial em Trestles, Felipe Toledo. Shion fez a nota mais alta da bateria, Samuel fez a melhor somatória, avançando em primeiro e o bicampeão mundial Filipe Toledo somou 1.77 pontos em duas ondas, onde o desconforto estava intoxicado em seu semblante, mas isso é assunto mais para frente.


Eli Hanneman - Foto: Brent Bielmann

Outros nomes mereceram destaques, John John por ser simplesmente John John, Miguel por mais uma vez mostrar ser um dos melhores tuberiders do mundo, em Pipe ele foi elogiosamente apelidado de Migerry Lopez pelos irmãos Coffin, em referência a seu estilo muito parecido com a lenda Gerry Lopez, o Mr. Pipeline. Eu tinha uma certa expectativa para ver o Eli Hanneman estrear na elite, ele é um surfista extremamente habilidoso, há alguns anos eu via nele um surfe absurdamente talentoso e muito solido para sua idade, ele era um adolescente de 12, 13 anos, agora, aos 21, ele continua talentoso, mas seu surfe não parece ter evoluído o suficiente para que o adulto Eli Hanneman pudesse ser comprado ao adolescente Eli Hanneman, talvez sua estrutura física não lhe permita ter amplitude e power o suficiente para um surfista adulto, ou talvez eu tenha visto ele pouco, é um nome a ser observado durante a temporada, porém, em Pipeline, ele mostrou que tem coelho na cartola e prancha no pé, sua estreia foi consistente o suficiente para um rookie, a ver seu desempenho até Margs, por hora ele está sólido.


Filipe Toledo, Caio Ibelli, Rio Waida e o campeão do CS Cole Houshmand, foram os primeiros eliminados do ano, isso não chega a ser um problema porque todos vencem e todos perdem, contudo, a forma como o bicampeão mundial Filipe Toledo deixou a competição ainda no primeiro dia, foi potencialmente constrangedora se lembrarmos de outras apresentações de Filipe em ondas de consequência, contudo, o diagnóstico de uma intoxicação alimentar, ameniza a situação por um caráter oficial, mas não foi o suficiente para acalmar os haters escondidos atrás das telas incentivadoras e protetoras de covardes reais em ambientes virtuais.     



Filipe Toledo - Foto: Tony Heff

O tempo é a única força capaz de mostrar uma verdade que tenta ser mascarada, por respeito ou por amor. O passar dos anos tem deixado claro e cristalino para quem acompanha o circuito mundial que Filipe Toledo não consegue nem de longe ter um desempenho considerado bom em ondas como Pipeline, Teahupoo e Fiji, particularmente falando, eu entendo que não existe ponto de vista isento que possa negar isso, o que não quer dizer que ele não tenha seus momentos. Em Pipe 2016, já no Round 5, por tanto Filipe havia passado três baterias na competição, o ubatubense tirou 10.00 em uma bateria contra o campeão daquela etapa, o taitiano Michel Bourez. Em 2014, ano em que Gabriel Medina sagrou-se o primeiro campeão mundial brasileiro, em uma bateria contra Gabriel e Josh, Filipe fez 9.23 no Round 4, avançando em segundo, deixando Josh Kerr eliminado da competição com a terceira colocação, na bateria seguinte Filipe eliminava o favorito Owen Wright, sendo parado apenas nas quartas de final, perdendo para Gabriel, na exata bateria onde o mundo conheceu o primeiro campeão mundial brasileiro, para não irmos muito longe, o ano passado, 2023, Filipe chegou mais uma vez nas quartas de final. Me perguntem o que os mares desses anos tinham em comum que eu lhe respondo. Eles tinham abundancia de onda para o Back Door (direita), com ondas na casa dos 4, no máximo 5 pés, todas essas notas de Filipe foram nesse perfil de onda para o Back Door, isso coloca Filipe em uma prateleira restrita, não são muitos surfistas no mundo que tem nota 10.00 no Havaí, mas esses raros bons momentos, acentuam ainda mais a maior ou talvez a única deficiência do surfe de Filipe Toledo, a esquerda tubular. Sim, o bicampeão mundial de surfe, depois de 11 temporadas na elite e 15 campeonatos vencidos, nunca conseguiu ter um mínimo momento de brilho em tubos para a esquerda, ignorar isso é querer escrever uma história mentirosa.

Filipe é humano, e como tal não é perfeito, graças a Deus, é difícil qualquer critico por mais acido que seja apontar qualquer deficiência no surfe de Filipe além das ondas tubulares para a esquerda, mas para essa deficiência, não podemos fechar os olhos.


Me lembro de Teahupoo em 2015 quando Ítalo surfava a temida bancada pela primeira vez, Ítalo pegava uma onda atrás da outra em uma bateria de meia hora contra Filipe, somando 15 pontos no final da bateria, enquanto isso, Filipe passou 30 minutos sentado em sua prancha sem pegar uma única onda, o placar da bateria foi 15 a 0, esse episodio foi chamado de “um bravo ato de covardia” pela mídia internacional de surfe à época.


Os recantos mais sombrios da internet desrespeitam e atacam Filipe como donos absolutos da verdade, a certeza de suas superioridades no pensamento é o combustível dos haters,  particularmente falando, eu acho que o episódio Pipe Pro 2024 ficou feio para o Felipe, não por acreditar que ele tenha inventado uma intoxicação, longe disso, mas essa intoxicação somada ao desempenho dele em Pipe desde sempre, cria um quadro onde os contornos parecem desenhar rabiscos de medo, e o medo muitas vezes simplesmente adoece o corpo, ocorre que, com ou sem medo, com ou sem intoxicação, com ou sem haters, Filipe e sua entourage precisa reconhecer que tubo para a esquerda é a grande fraqueza em seu surfe, se ele quiser corrigir essa deficiência, reconhecer seria um bom começo, seria inclusive mais justo com sua belíssima carreira, com sua belíssima história. Mas ele tem também o direito de não querer reconhecer, ele não é obrigado, a verdade é, reconhecendo ou não, corrigindo ou não, não será fácil para nenhum outro surfista tirar o tricampeonato mundial de suas mãos em Trestles.

Através da sua conta no Instagram, Filipe respondeu aos críticos: "Aos críticos de plantão e aos campeões mundiais que comentam nas redes, acreditem no que quiserem. Não estou aqui para provar nada a vocês. A minha saúde é a minha prioridade. Aos que torcem por mim, muito obrigado. Estamos juntos e já já estaremos de volta, melhor e mais forte", escreveu o champ.

É verdade que Felipe não precisa provar nada a ninguém, ele superou inúmeras dificuldades em sua carreira, inclusive teve que recuperar a fé nele mesmo para se tornar campeão mundial. Ir bem em Pipeline e ondas similares seria apenas uma evolução para ele se tornar aquilo que nós chamariamos de um “Competidor Completo” esse cara é aquele que pode vencer em qualquer perfil de onda, no tour de hoje acredito que apenas Gabriel e Ítalo podem ser qualificados assim, ou você imaginaria John John vencendo em um beach break merrecado, ou Filipe em Pipe? Só Gabriel e Ítalo no circuito atual são capazes de vencer em qualquer perfil de onda, por isso são competidores completos, caso Filipe queira entra nesse círculo, ele precisaria corrigir essa falha. Adriano de Souza tinha essa dificuldade em seu surfe, para corrigir isso Mineiro buscou conhecimento com quem poderia lhe ajudar, no ano em que se tornou campeão mundial e Pipeline Master, Adriano se alimentou de toda sabedoria de Jamie O’Brien, conhecedor profundo daquela onda, Ítalo fez o mesmo caminho, por anos Shane Dorian foi seu mentor em Pipe, o resultado disso é que os dois foram campeões mundiais em Pipeline e foram campeões do Pipe Pro. Filipe precisa fazer o mesmo? Não! Filipe já é bicampeão mundial, ele não precisa mais se especializar em uma onda que não decide mais o título, mas para nós, seus fãs, seria muito bom vê-lo vencer em Pipe de forma tão absoluta como ele vence em Sunset, Margs, J-Bay ou Brasil, más isso é só desejo de fã que quer ver seus ídolos inspirando novas gerações, apenas desejo de fã.

Filipe não precisa provar mais nada a ninguém, desejo que em 2025 ele tenha mais cuidado com a alimentação nos dias de Pipeline, aos críticos de plantão, o embasamento é sempre a melhor forma de elogiar ou depreciar, fora disso, é blá blá blá de tudologo de internet.

Minhas mais sinceras considerações e respeito a Filipe, criticas vazias não constroem um ambiente de respeito e de possíveis reflexões, criticas vazias é um apelo ao engajamento da ignorância e ao desejo desesperado por likes, Filipe é bicampeão mundial, gostem ou não!

Em Pipe nós vimos o lado frágil de Filipe, em Sunset veremos o lado forte de Filipe, a vida é assim, todos têm pontos fortes e pontos fracos, Filipe não é diferente. Deixo aqui meu entendimento: O ponto fraco de Filipe não foi capaz de inviabilizar sua carreira, o ponto forte, lhe tornou bicampeão mundial. Simple Assim!







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