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O WSL Finals está chegando para decidir um título que, em anos anteriores já teria um campeão.

Atualizado: 2 de set. de 2021


Dia 09 de setembro começa a janela para aquele que ganhou a aura de o mais importante evento de surfe da temporada, o mais esperado evento do ano, aquele que nutre as maiores expectativas dentro da direção da WSL, enfim, começa evento que vai definir o melhor surfista do ano em apenas um dia.

Na busca pela tal audiência que a WSL acredita que pode conseguir, inclusive fora do ambiente do surfe, foi criado um formato cujo a decisão do campeão é similar ao da NBA e NFL, os executivos da entidade buscam nessa formula uma receita para aumentar a audiência e a popularidade do esporte, consequentemente o faturamento. Na busca pelo equilíbrio financeiro o formato escolhido vai privilegiar o melhor surfista do dia, que por uma questão de sorte, pode até ser o melhor surfista do ano, essas palavras não são desse colunista, e sim do americano Kolohe Andino, alguém que mostrou personalidade ao criticar um modelo que por motivos óbvios pode inclusive lhe beneficiar.

Imaginem se Kolohe tivesse chegado no WSL Finals caso ele não tivesse se contundido, isso seria bem possível, e se na decisão em Trestles ele vencesse? Isso também seria possível, afinal ali é sua casa, em um dia de boas ondas ele teria chances, seria uma possibilidade real, pouco provável mas real, se isso acontecesse o surfe teria o primeiro campeão mundial que nunca havia vencido uma única etapa, dentre outros aspectos negativos, esse é o tipo de brecha que o modelo escolhido abre.

Controvérsias à parte o WSL Finals é uma história de esperança para muita gente, contudo, um possível assalto para o tricampeonato de Gabriel Medina, sem sombra de dúvidas, o surfista mais vencedor da última década, um dos dez maiores vencedores de etapas na história do circuito mundial. Se o formato desse ano fosse o mesmo que elegeu os campeões nos outros 45 anos de circuito, Gabriel Medina seria campeão antecipado, o WSL Finals coloca uma interrogação em um título que em outras épocas, já estaria em sua prateleira.


Troféus da Perna Australiana - Instagram Gabriel Medina

Em um ano onde apenas 07 etapas contaram para pontuação no ranking, Gabriel Medina conseguiu a façanha de impor 12 mil pontos de diferença para o segundo colocado, o campeão olímpico Ítalo Ferreira, isso depois dos descartes, antes, ele tinha quase 14 mil pontos à frente. A última vez que um surfista impôs uma distância de 12 mil na pontuação para o vice-líder, foi em 2011, quando Kelly Slater venceu seu 11º título mundial deixando Joel Parkinson com a segunda colocação, naquele ano, o circuito mundial teve 11 etapas, 04 a mais que este ano, isso mostra o quão absoluto Gabriel Medina foi em 2021, mas, esse absolutismo todo foi ofuscado pelo fato dele ainda ter que provar aquilo que os números já explicitaram.


Absolutismos à parte, o formato escolhido encheu de esperança outros quatro surfistas que vão disputar o título que em tese, já estaria definido. Morgan Cibilic, Conner Coffin, Filipe Toledo e Ítalo Ferreira se enfrentarão, até o sobrevivente entre eles definir o título com Gabriel Medina em uma disputa de melhor de três.

O australiano Morgan Cibilic chegou como mero desconhecido e logo nas primeiras etapas imputou duas derrotas seguidas ao bicampeão mundial John John Florence, Morgan chegou desconhecido e logo virou sensação, sua classificação final lhe rendeu título de Rookie Of The Year, para além disso, em seu primeiro ano na elite do surfe ele está disputando título, é um título possível? Sim, é, se Morgan der a sorte de achar ondas em todas as baterias que lhe proporcionem lips limpos, ele vai ser competitivo, suas rasgadas e pauladas pedem lips definidos, mas a falta de progressividade, que certamente ficará exposta caso ele chegue a enfrentar Filipe, pode lhe minar a possibilidades de boas notas, além disso, para vencer, Morgan precisaria ser no evento final ainda mais surpreendente do que foi durante todo o ano, e ele não foi pouco surpreendente. Dos 07 eventos que valeram para a corrida, Morgan perdeu para Gabriel Medina em todos os confrontos entre os dois, ele foi derrotado 04 vezes pelo bicampeão, inclusive em uma bateria Final, é difícil acreditar que, ainda que ele cometa a façanha de passar por Conner, Filipe e Ítalo, o aussie vença seu maior algoz duas vezes no mesmo dia, Morgan já foi longe demais em seu primeiro ano, se ele vencer, será o melhor estreante da história do surfe, o primeiro homem a ser campeão em seu ano de estreia, só a dona de tudo Stephanie Gilmore conseguiu tal façanha, embora ele tenha surpreendido e chegado longe, ele não tem um arsenal a altura de Filipe, Ítalo e Gabriel, se ele vencer será a maior zebra da história, raciocinando friamente suas chances são quase nulas, na melhor das hipóteses ele está fadado a ficar na quarta colocação, mas, previsão é uma coisa, surfe na água é outra, o surfe pragmático de Morgan tem que ser muito agressivo para vencer as habilidades que os brasileiros mostram em todos os fundamentos, inclusive na progressividade, que ele, Morgan, não tem.

Em um ano de poucas etapas, com ondas na casa de 3 a 6 pés quebrando na maioria das vezes em linhas bem definidas, o americano Conner Coffin conseguiu aplicar seu jogo moldado nos lineups de Santa Barbara, o regular explorou ao máximo seu surfe de borda executando linhas limpas com boas conexões proporcionando attacks rápidos aos lips, ele também teve sorte, descartou poucos pontos e nessa matemática acabou ficando com a vaga que a princípio estava nas mãos de seu conterrâneo Griffin Colapinto.

A onda de Trestles privilegia o surfe de Conner, mas se ele chegar a encontrar Filipe, em uma comparação direta, no mano a mano, ainda que Filipe resolva jogar com ele apenas com os carvins, a amplitude e velocidade que Filipe imprime em suas manobras vai deixar Conner com um surfe curto e lento, eu diria que de zero a dez sua chance contra Filipe não passa de um, podendo aumentar se Filipe sentar na prancha e ficar esperando a onda do high score como ele fez no México, fora isso, as chances do Conner são realmente mínimas. Assim como Morgan, Conner ataca bem os lips, usa a borda, na progressividade ele até desgarra a rabeta, mas é só isso, se quiser jogar de igual para igual com Filipe, ele terá que aprender a andar em alta velocidade e a frequentar o espaço aéreo, coisa que desde 2016, seu ano de estreia na elite, nós não vimos.


Filipe Toledo em Margaret River - Foto: WSL

Mesmo tendo o californiano Conner Coffin entre os cinco do WSL Finals, se há alguém que podemos chamar de local em Trestles, esse cara é Filipe Toledo. Há anos morando em San Clemente Filipe se integrou na comunidade local, ele é o grande ídolo da gurizada, a referência máxima dentro d´água e o cara que tem mais horas surfadas naquela onda dentre os cinco, Filipe conhece os atalhos de Trestles melhor que ninguém, ele foi o último cara a vencer ali, em 2017, última vez que a etapa entrou no tour. Se não bastasse toda essa ambiência favorável, a onda de Trestles é o encaixe perfeito para o surfe de rabetadas e aéreos que Filipe executa, para chegar à final ele terá que passar por Ítalo, um cara que tem as mesmas armas dele, o equilíbrio entre eles é tamanho que em 08 confrontos cada um tem 04 vitorias, em Trestles eles terão a oportunidade de desempatar esse placar, e, pelo conhecimento local, pela confiança em estar surfando frente a sua torcida e pela chance mais clara de um título mundial em sua carreira, nesse confronto, Filipe tem as melhores motivações para sair vencedor, isso acontecendo, ele ainda terá que vencer Gabriel por duas vezes, o que não é uma tarefa fácil mas perfeitamente possível, Filipe é aquele jogador que cresce jogando na frente de sua torcida, ele gosta da plateia, basta lembrar de suas vitorias no Rio e em Saquarema, e por isso, é bom que Gabriel esteja livre, leve e solto, porque Filipe será o show man do WSL Finals, quando olhamos para trás e vemos tudo que Filipe fez em J-Bay, Saquarema e Gold Coast, percebemos que se ele tiver motivado será difícil alguém bate-lo, mas para seu título se concretizar, antes ele terá que passar pelo campeão mundial e olímpico, depois por um bicampeão mundial. Ao mesmo tempo que a tarefa é muito difícil, essa etapa será a mais importante da vida do ubatubense, ele vai canalizar toda sua força e habilidade nessa missão, vencendo, haverá festa no Brasil e também nos Estados Unidos.


Ítalo Ferreira em Newcastle - Foto: WSL

Ítalo Ferreira é uma carreta sem freio e desgovernada, pará-lo exige antes de mais nada muita força para absorver o impacto de sua tocada, Ítalo é pilhado, inquieto, ousado e audacioso, essas características desenham suas vitórias e definem suas derrotas, sua inquietude no line up faz com que ele pegue três ondas em três minutos, como ele fez por exemplo com o Jackson Baker em Newcastle, por vezes esse excesso de energia toma o lugar da estratégia, ainda assim na maioria das vezes Ítalo sai vencedor, mas em Trestles, onde seus adversários diretos serão a princípio Filipe Toledo e Gabriel Medina, uma boa escolha de ondas é fundamental, nesse nível de excelência onde os três melhores surfistas do mundo se encontram, o erro de um pode significar a vitória do outro. Trestles é uma onda longa, high performance, exige uma leitura que pode ser atropelada pelo excesso de velocidade e pilha de Ítalo, em uma onda mais rápida e menos perfeita Ítalo seria imbatível, em uma onda como Trestles Ítalo pode se atropelar, em três anos competindo ali, ele ficou duas vezes na 13ª posição e um ano na 9ª posição. Nesse estudo onde se confronta o perfil do surfe com o perfil da onda, e, observando puramente essas características, entre os três brasileiros Ítalo é aquele que menos se encaixa em Trestles, más não se engane, teorias não podem mudar o fato de Ítalo ser o único campeão mundial e olímpico, ele vem com o habitual sangue nos olhos, seu back side navalhada, wave killer total, e a confiança nas alturas de seus aéreos. Passando por Filipe, ele enfrentará o mais letal surfista da última década, um cara que já está entre os 10 maiores vencedores do surfe mundial, contudo, um cara que no confronto direto com Ítalo, em 11 baterias venceu apenas 04, se tem alguém que sabe o caminho para vencer Gabriel Medina, esse alguém é Ítalo Ferreira, e isso fica muito claro quando você olha as notas das baterias e vê que em muitas derrotas Gabriel tem a melhor nota, ou seja, Ítalo tem a manha de domar a fera, vencer Gabriel já é difícil, vencer várias vezes não tendo a melhor nota da bateria, só Ítalo Ferreira. Mas para colocar a mão em seu bicampeonato, assim como qualquer outro, Ítalo vai precisar domar a fera duas vezes no mesmo dia, se alguém te dissesse que isso aconteceu você diria que isso é fato, ou isso é fake? Opine, porque eu não me sinto em condições.


Gabriel Medina em Newcastle - Foto: WSL

Gabriel Medina é o cara que desde 2014 está na disputa pelo título mundial todos os anos, Mick, Kelly, Mineiro, John John, Julian e Ítalo foram seus adversários em anos diferentes, os adversários mudam, mas Gabriel está sempre ali, se tem alguém que sabe como vencer campeonatos e transformar pressão em combustível, esse cara é o frio Gabriel Medina. Gabriel é um predador, mas ao chegar tão na frente dos outros ele deixa de ser o predador e se transforma na presa que todos querem abocanhar, e para isso acontecer, além de muito surfe, seu adversário vai precisar que ele cometa erros, é possível? Sim, é, Gabriel não é perfeito. Esse ano o bicampeão começou imbatível, mas no Surf Ranch e no México ele não foi nem de longe o Gabriel da perna australiana, o que nos faz acreditar que ele já cometeu erros demais nessa temporada, e ele não costuma errar tanto, sobretudo nos momentos decisivos, esses são os momentos onde ele mais cresce. Mesmo errando muito nas duas últimas etapas Gabriel chega com a confiança de ter sido disparado o melhor surfista do ano, sua diferença na pontuação fala por si só, embora Filipe tenha todas as variações daquela onda na cabeça, e a plateia na praia a seu favor, embora Ítalo seja campeão olímpico e o trator que mais atropela Gabriel, Medina está a duas baterias de seu tricampeonato, despois de 2019 onde ele tinha a chance mais clara de título na carreira e deixou o troféu escapar, depois de toda polemica de sua derrota nas olimpíadas, depois dele chegar em Trestles com uma pontuação que nos anos anteriores lhe dariam o título antecipadamente, é difícil acreditar que ele deixe esse tricampeonato escapar, se isso acontecer, o campeão mundial será o melhor surfista do dia, não o melhor surfista do ano, mas regras são regas, Filipe Toledo e Ítalo Ferreira não têm absolutamente nada a ver com isso, se o melhor surfista do dia vencer, será o melhor surfista do mundo, você gostando ou não.

Dia 09 abre a janela do WSL Finals, eu particularmente vou aproveitar a oportunidade e tentar abrir a minha mente, além dos homens as meninas também estarão na água, Johanne, Stephanie, Sally, Tati e Carissa disputarão o título, Carissa é a grande favorita. Em 45 anos de circuito mundial será a primeira vez que veremos a decisão acontecer fora do Havaí, no mês de setembro, em uma onda que não apresenta grau de dificuldade para ninguém, vamos aguardar o WSL Finals e torcer para que seja o show que a WSL acredita, eu particularmente prefiro o modelo anterior, e você?




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